A AGROPOECUÁRIA DE ALTA PRODUTIVIDADE E DE BAIXAS PERDAS DE ISRAEL 

Em nossa última postagem falamos do grande desperdício de alimentos que ocorre diariamente em nosso mundo, especialmente pelos norte-americanos, os grandes esbanjadores de comida. Cerca de 40% de todos os alimentos comprados país acabam indo parar no lixo. 

Aqui no Brasil também desperdiçamos um bocado de alimentos – de acordo com a FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, o Brasil perde um volume próximo a 27 milhões de toneladas de alimentos por ano ou cerca de 10% da produção total. No mundo, essas perdas chegam a 931 milhões de toneladas por ano. 

Um dos maiores problemas brasileiros nessa área são as deficiências na embalagem de muitos alimentos frescos – especialmente frutas, legumes e verduras, além das dificuldades na logística de transporte. Parte considerável de muitas cargas desses produtos chegam, literalmente, despedaçadas nas centrais de distribuição. 

Para mostrar como é possível reverter essas perdas e ainda ganhar um bocado de dinheiro com a venda desses alimentos, gostaria de falar hoje de um pequeno país do Oriente Médio com área menor que o nosso Estado de Sergipe – Israel. Além do mesmo tamanho, Israel compartilha com Sergipe um clima bastante árido – aliás, lá é bem mais árido que o nosso sertão nordestino. 

O Estado de Israel ocupa uma área de 22 mil km², incluindo-se algumas áreas em litígio A população israelense é de pouco mais de 9 milhões de habitantes, equivalente à soma das populações das cidades de Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Para completar o quadro, o território de Israel é formado por terrenos difíceis para as atividades agrícolas: 60% do território fica dentro de regiões semiáridas e desérticas – metade da área restante é formada por solos rochosos.   

Apesar desses “pequenos problemas”, os israelenses conseguem atingir índices de produtividade impressionantes. Alguns exemplos na área de produção de frutas por hectare cultivado: 50 toneladas de maçãs, 65 toneladas de banana, 30 a 35 toneladas de pêssegos, citros e peras, além de 18 a 25 toneladas de frutas como uvas, abacates e tâmaras. 

Conforme já tratamos em postagens anteriores, os segredos de Israel estão na altíssima tecnologia dos sistemas de irrigação e num gerenciamento extremamente racional dos escassos recursos hídricos do país. 

No Norte de Israel, que poderia ser chamada de a região mais úmida do país, a precipitação média anual é de 700 mm. Para efeito de comparação, o nosso complicado Semiárido Nordestino tem uma precipitação média de 750 mm. Nos desertos do Sul, essa precipitação cai para apenas 50 mm ao ano.   

A principal fonte de água da região é o famoso rio Jordão, tão citado na Bíblia cristã. Com pouco mais de 200 km de extensão, o rio Jordão tem suas principais nascentes na região do Monte Hérmon ao Norte, mais conhecido como Colinas de Golã e que foi tomada da Síria por Israel após a Guerra dos Seis Dias em 1967.  

O rio Jordão também recebe contribuições de pequenos rios com nascentes no Líbano como o Dã e o Hasbani. As dimensões do rio Jordão lembram mais os córregos e ribeirões que encontramos por todo o Brasil – a largura média é de 18,3 metros, a profundidade máxima é de 5,2 metros e a vazão média é de apenas 16 m³/s.   

Conseguir praticar agricultura num país com solos tão inóspitos e ainda por cima com uma disponibilidade tão baixa de água já seria uma espécie de milagre digno de um grande destaque na bíblia. Mas os israelenses se superaram – o setor agropecuário representa 2,5% do PIB – Produto Interno Bruto, de Israel e 3,6% das exportações, respondendo por 95% do consumo interno de produtos naturais do país. 

As áreas irrigadas em território israelense, incluindo áreas de deserto, possibilitam a produção de uma infinidade de culturas, com destaque para: cereais como o sorgo, trigo e milho; mais de quarenta tipos de frutas com destaque para o abacaxi, melão, tâmaras, tangerina, maçã, pera, morangos, caqui, nectarina, romã, cereja, laranja, limão, kiwi, goiaba, abacate, banana e manga. Também entram na lista frutos e legumes como o tomate, pepino, pimentão e abobrinha; diversas espécies de uvas, o que tem impulsionado o crescimento da indústria vinícola no país.  

Outra área com intenso crescimento e exportações é produção de flores. Na área de produtos de origem animal, o leite é destaque, com espécies locais de vacas com produtividade superior às congêneres holandesas, consideradas grandes produtoras. Os maiores importadores de produtos agropecuários de Israel são os países da Comunidade Europeia. 

Exportar cereais secos, uma grande especialidade de nós brasileiros é fácil. Os grãos podem ser ensacados e empilhados em qualquer caminhão com condições de rodar até um terminal de cargas ou porto mais próximos. Em muitos casos, nem é preciso ensacar os grãos – basta despejar a carga numa caçamba fechada e pegar a estrada. 

A coisa muda completamente de figura quando falamos de frutas delicadas como morangos, peras, caquis, nectarinas e cerejas. Essas frutas vão exigir um cuidado extremo na manipulação, além de necessitar de embalagens de excelente qualidade. Em muitos casos, cada fruta precisa receber um dispositivo individual de proteção antes de ser colocada numa caixa. 

É justamente aqui onde nós brasileiros perdemos de goleada dos fazendeiros de Israel. 

As dificuldades de produção enfrentadas pelos produtores do país transformam cada fruta, verdura ou legume num verdadeiro troféu, um prêmio que vai merecer um enorme cuidado até que chegue nas mãos dos consumidores em terras distantes em perfeitas condições de consumo. 

É possível fazer com que todas as frutas e outros produtos agrícolas cheguem com 0% de perdas no consumidor final? É claro que não. 

Mas a prática tem mostrado que, com extremo zelo na manipulação, com embalagens de qualidade e com uma logística de transporte das mais eficientes, é possível exportar frutas e outros alimentos frescos com baixíssimos níveis de perdas, algo que faz parte do cotidiano dos produtores agrícolas de Israel. 

Todo o restante do mundo – especialmente nós brasileiros, temos muito a aprender com os agricultores de Israel. Esse aprendizado vai do consumo extremamente racional dos recursos hídricos e do melhor uso do solo, até o baixo desperdício daquilo que foi produzido nos campos. 

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