NARMADA, O MAIOR CANAL DE IRRIGAÇÃO DA ÍNDIA 

Um outro país onde a agricultura irrigada tem feito uma enorme diferença na vida de muita gente é a Índia, a segunda nação mais populosa do mundo com mais de 1,3 bilhão de habitantes. Projeções demográficas indicam que, muito em breve, o país deverá ultrapassar a China nesse quesito. 

A Índia ocupa uma área com cerca de 3,2 milhões de km2, território esse formado por um verdadeiro mosaico de biomas e climas, que vão das geladas montanhas da Cordilheira do Himalaia aos desertos áridos do Rajastão; dos grandes campos agrícolas do Punjab as áreas cobertas por florestas em Odisha, Chhattisgarh, Madhya Pradesh, Karnataka e Jharkhand. De gigantescas metrópoles como Nova Déli, Mumbai e Calcutá até pequenas aldeias perdidas nos mais distantes rincões do país. 

Em um país com tantas bocas para alimentar todos os dias, a agricultura precisa ocupar uma posição de destaque na economia – e ocupa. Atividades agropecuárias respondem por 18% do PIB – Produto Interno Bruto, da Índia, ocupando cerca de 42% da população economicamente ativa. 

Conforme já tratamos em inúmeras postagens aqui do blog, a agricultura é altamente dependente dos recursos hídricos. Em média, 70% dos recursos hídricos de uma região são consumidos por atividades agrícolas e pecuárias.  

Quando essa água não está disponível na própria região, como acontece nos casos de lugares como o Imperial Valley da Califórnia, do deserto na província de Minya, no Sul do Egito ou de praticamente todo o território de Israel, é preciso se valer de tecnologia e/ou de grandes obras hidráulicas para se conseguir praticar a produção de alimentos e a criação de animais. 

A Índia, já há muitas décadas, vem dando exemplos de sua capacidade de realizar grandes projetos de infraestrutura na área dos recursos hídricos. Um exemplo bem recente é o Canal de Narmada, que foi concluído em 2008, e é o maior canal de irrigação do país. 

O Canal de Narmada possui uma extensão total de 532 km, sendo 458 km no Estado de Gujarat e outros 74 km no Rajastão. Estes dois estados ficam no Noroeste da Índia junto à fronteira com o Paquistão, uma região com terrenos extremamente áridos. 

Esse canal distribui as águas da represa Sardar Sorovar, localizada em Gujarat, para 3.125 aldeias nesse Estado e 124 aldeias no Rajastão. A água é distribuída por uma rede de 42 canais auxiliares, sendo que o ramal Saurashtra, com uma extensão de 104 km, é o maior deles. Nesse ramal, inclusive, foram construídas três PCH – Pequenas Centrais Hidrelétricas, permitindo o aproveitamento de um desnível de mais de 50 metros ao longo do percurso do canal. 

Apesar de bem distante do Brasil, a Índia tem algumas peculiaridades bastante similares com o nosso país. Destaco a dificuldade de executar grandes obras públicas devido a enormes escândalos de corrupção e de desvio de verbas públicas. Qualquer semelhança com o Projeto de Transposição das Águas do Rio São Francisco no Nordeste brasileiro não é mera coincidência. 

Lá, entretanto, bem ao contrário do que muitas vezes acontece por aqui, sempre se consegue levar as obras a um bom termo. Políticos e empresários envolvidos em falcatruas são afastados e julgados (nem sempre condenados, é claro), mas o interesse público sempre acaba prevalecendo e as obras são concluídas. Esse foi o caso do Canal de Narmada, o que vem provocando enormes impactos econômicos e sociais, especialmente no Rajastão. 

Uma das regiões mais problemáticas da Índia tanto em termos políticos quanto para a prática da agricultura é o Rajastão, o maior estado indiano em área. Cerca de 3/5 das terras do Rajastão são tomadas pelas terras desérticas do Deserto de Thar. A maior parte desse deserto fica dentro do território da Índia (cerca de 85%) e o restante dentro do Paquistão. 

Relembrando um pouco da história, o Paquistão fazia parte do Vice-reino da Índia, uma possessão colonial da Inglaterra até 1947, quando toda a região conquistou a independência. Essa independência foi seguida um tumultuado e sangrento processo de partição do território entre muçulmanos e hindus. O Paquistão e Bangladesh, territórios de maioria muçulmana, foram desmembrados em um único Estado independente – o Paquistão. A maioria hindu ficou com o território da atual Índia. Em 1970, Bangladesh se tornou independente do Paquistão e também virou um Estado soberano. 

Desde então, indianos e paquistaneses vivem em um eterno estado de tensão e de disputas territórios, especialmente pelo controle da região da Cachemira e de Jammu, na região das Montanhas Himalaias. Dentro desse contexto complicado, o Governo da Índia sempre se preocupou em estimular o povoamento de toda a faixa de terras ao longo da fronteira com o Paquistão. 

No caso do Rajastão, a extrema aridez do Deserto de Thar sempre foi um obstáculo para o assentamento de agricultores nessa faixa fronteiriça. O Canal de Narmada surgiu com uma solução para parte desse problema. O canal principal no Estado possui cerca de 74 km de extensão, contando com 9 ramais de distribuição, atendendo uma área total de 1.477 km e abastecendo 124 aldeias. No total, o Canal de Narmada permite a irrigação de uma área total de 246 mil hectares. 

As águas do Canal de Narmada hoje abastecem as residências de centenas de milhares de indianos, além de permitirem a produção agrícola e a criação de animais em milhares de pequenas fazendas numa região que antes era praticamente inaproveitável para esses fins. 

Para o tamanho dessa imensa região árida e para um país com as características da Índia isso ainda é muito pouco. Com menos corrupção e desvios de recursos públicos, além de mais seriedade do Governo (propostas que também valem para nós aqui no Brasil), será possível fazer bem mais para essas populações e para as atividades agropecuárias.  

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