ESCASSEZ DE FRUTAS, LEGUMES E VERDURAS NOS SUPERMERCADOS DA INGLATERRA 

As seções de frutas, legumes e de verduras dos supermercados da Inglaterra estão com diversas prateleiras e gondolas vazias já há algum tempo. Algumas redes de lojas, inclusive, estão impondo cotas de compras para os clientes

As razões para essa falta de produtos são várias, indo desde problemas climáticos até a desastrada política de restrição à circulação de pessoas durante a pandemia da Covid-19.  As autoridades afirmam que a crise é temporária e que dentro de poucas semanas as coisas voltarão ao normal.

Uma das causas do problema é o inverno europeu, quando um volume considerável de alimentos frescos precisa ser importado de outros países. Esse é o caso do tomate – entre 90% e 95% do volume consumido durante o inverno é importado. O Brexit, a saída do Reino Unido do Bloco Europeu em janeiro de 2020, criou uma série de dificuldades para as importações desses alimentos. 

Entre os alimentos mais escassos destacam-se tomates, pepinos, alfaces, brócolis, couve-flor e framboesas. Diferente de muitos países onde as pessoas não conseguem comprar os alimentos por falta de dinheiro, os ingleses dispões de recursos financeiros adequados, porém, não encontram alimentos a sua disposição. 

A Ministra do Meio Ambiente da Inglaterra, Thérèse Coffey, sugeriu que os britânicos comessem nabos ao invés de verduras e legumes. A “brilhante” sugestão faz lembrar a célebre frase atribuída a rainha Maria Antonieta aos franceses que clamavam pela falta de pão – “que comam brioches”. 

O clima do Reino Unido sempre foi bastante inóspito para a produção de plantas mais delicadas como verduras e algumas frutas. Há muito tempo que os agricultores das ilhas britânicas se valem de estufas para esses tipos de cultivo, uma alternativa que vem se tornando cada vez mais cara devido ao aumento da população. 

Outro grave problema das fazendas é a falta crônica de mão de obra. Assim como acontece em outros países considerados ricos, atividades manuais e/ou braçais de qualquer espécie são consideradas ultrajantes para os cidadãos nativos. Esses trabalhos, há muito tempo, vêm sendo delegados para imigrantes pobres vindos de países do Terceiro Mundo. 

No Reino Unido, até pouco tempo atrás, esses trabalhos ficavam por conta de imigrantes do Leste Europeu, especialmente poloneses, búlgaros, georgianos, entre outros povos dessa região pobre da Europa. As regras das União Europeia permitiam a livre circulação desses trabalhadores entre os países do bloco. 

Com a aprovação do Brexit e a saída do Reino Unido do bloco, essa regra deixaria de valer em 31 de janeiro de 2020, o que levou centenas de milhares desses trabalhadores a sair das fronteiras britânicas temendo represálias. 

O que os britânicos nem imaginavam é que o Brexit coincidiria com o início da epidemia da Covid-19. Como forma de contenção da doença, os países passaram a adotar a política de restrição de livre circulação de pessoas. Essa foi a gota d’água para muitos imigrantes que ainda persistiram em ficar no Reino Unido. 

Sem poder sair para trabalhar, esses trabalhadores foram forçados a voltar para seus países de origem – se é para ficar preso dentro de casa sem poder sair na rua, melhor fazer isso junto com seus familiares em suas cidades de origem. 

Notícias do final desse mesmo ano de 2020, já falavam da falta de muitos produtos nos supermercados do Reino Unido. Uma dessas notícias afirmava que estavam faltando motoristas de caminhões para fazer o transporte das mercadorias dos depósitos até as lojas – o país havia perdido 120 mil motoristas àquela altura.

O Brexit também mudou toda a logística para o transporte de produtos entre a Europa continental e o Reino Unido. Enquanto o país fazia parte da União Europeia, cargas de produtos circulavam livremente sem depender de controles alfandegários. Quando o Reino Unido deixou a UE, todos os transportes de produtos passaram a ser controlados e regulamentados por regras alfandegárias. 

Agora, um caminhão com frutas e legumes produzidos no Norte da França ou nos Países Baixos, regiões bem próximas das Ilhas Britânicas e que poderiam chegar aos supermercados em poucas horas, dependem de uma pilha de formulários e de autorizações para deixar o território da União Europeia e desembarcar na Inglaterra. Esses processos podem levar vários dias ou até mesmo semanas. 

Alimentos frescos, como todos sabem, precisam ser consumidos pouco tempo depois de serem colhidos, sob risco de perderem a qualidade ou até mesmo estragarem. As novas regras de circulação de mercadorias estão resultando em grandes perdas de produtos durante esse transporte, o que está reduzindo o volume vendido nos supermercados ingleses, o que também está resultando em preços mais altos. 

Por fim, e não menos importante, as Ilhas Britânicas estão sofrendo mudanças bastante visíveis no seu clima. As chuvas praticamente diárias que caiam sobre o Sul da Inglaterra já não são tão frequentes e as ondas de calor nos meses do verão tem levado os termômetros a superar a barreira dos 40º C

Práticas e técnicas agrícolas ancestrais que vinham sendo utilizadas há incontáveis gerações de agricultores das ilhas britânicas já não se mostram mais produtivas como no passado. As mudanças no clima e a escassez de água também estão dificultando a produção de diversas espécies de alimentos. 

Quando se juntam esses problemas ambientais com a falta de mão de obra e também com as dificuldades de importação, temos como resultado prateleiras de supermercados vazias e consumidores desesperados por não encontrar os alimentos que precisam levar para suas casas. 

A Irlanda está enfrentando problemas muito semelhantes a esse e vários países da União Europeia logo também começarão a viver essa nova realidade em suas feiras e supermercados. 

Esses são os novos e preocupantes tempos em que estamos vivendo, onde é mais fácil comprar um telefone celular do que um simples e trivial pé de alface…

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