
Os seres humanos são, por definição biológica, onívoros. Trocando em miúdos, somos animais – altamente racionais, é claro, que comem de tudo: frutas, verduras, legumes, cereais e, especialmente, carnes e outros tipos de alimentos de origem animal.
De acordo com um estudo publicado na revista científica Nature em 2016, o consumo de carne foi decisivo na evolução humana. A ingestão frequente de proteínas dos diferentes tipos de carnes foi fundamental para o desenvolvimento de nossos cérebros.
A captura e a caça organizada dos animais, pratica que começou há pelo menos 2,6 milhões de anos, motivaram uma organização cada vez maior dos grupos humanos, influenciando diretamente sua forma de vida. Também forçou o desenvolvimento de armas cada vez mais sofisticadas para a caça, além de estimular a criação de ferramentas adequadas para o corte e a desossa dos animais abatidos.
O uso do fogo para o cozimento, iniciado há cerca de 500 mil anos, também contribuiu para mudanças em nossa anatomia, levando ao desenvolvimento de dentes menores e a uma necessidade de músculos faciais menos desenvolvidos para a mastigação.
A análise de fezes fossilizadas do homem de Neandertal, nosso parente extinto mais próximo, encontradas em cavernas da Espanha e datadas em mais de 40 mil anos, mostrou que sua dieta era composta por mais de 80% de carne. Entre os da nossa espécie, o Homo Sapiens, esse consumo não era muito diferente à mesma época.
Com o desenvolvimento da agricultura há pelos menos 10 mil anos, as populações se tornaram sedentárias e teve início um longo processo de domesticação de animais como galinhas, porcos, vacas, cabras e carneiros, entre muitos outros. Além de garantir o suprimento de carne, a criação desses animais permitiu o acesso a leite e ovos, além de outros produtos como a lã das ovelhas.
Existem cerca de 1,5 bilhão de bovinos criados para o abate pastando em algum lugar do mundo nesse momento. Essa lista deve incluir outras centenas de milhões criados para a produção de leite e também grandes quantidades de porcos, galinhas, cabras, ovelhas, entre outras espécies. Grande parte dos cerca de 8 bilhões de habitantes de nosso planeta costumam consumir alguma quantidade de carne e outros produtos de origem animal ao longo do dia.
Uma discussão que vem crescendo ao longo dos últimos anos são as emissões de metano, um gás que é gerado naturalmente durante o processo de digestão de animais como bovinos e ovinos. O metano é um dos principais GEE – Gases de Efeito Estufa, que são os grandes responsáveis pelo aumento das temperaturas do planeta.
Muitos ecologistas defendem a redução do consumo de carne – alguns, mais radicais, pedem o fim desse consumo, como forma de frear o aquecimento global. Muitos Governos, inclusive, vêm estimulando o uso de proteínas alternativas como insetos para consumo humano.
Existem muitos movimentos e iniciativas internacionais que lutam contra o consumo da carne. Um deles é o “Segunda Sem Carne“, uma iniciativa existente em 35 países do mundo e apoiada por inúmeros líderes internacionais. Um dos grandes líderes do movimento é o ex-Beatle Paul Mccartney, que pede que os consumidores deixem de comer carne as segundas-feiras, reduzindo assim a demanda pelo alimento. Esse grupo alega que grande parte da produção de cereais do mundo como a soja e o milho é usada para a produção de carne para exportação.
Na contramão do que querem esses grupos, o consumo de carnes vem aumentando progressivamente nas últimas décadas. Países com gigantescas populações como a China e a Índia estão puxando esse consumo devido a uma série de medidas econômicas – um número cada vez maior de suas populações estão saindo da miséria e assumindo posições sociais melhores.
Essa mudança no perfil social resulta, entre outras coisas, num melhor acesso a alimentos, especialmente alimentos de melhor qualidade como carnes, ovos, leite e seus derivados. Isso resulta, falando a grosso modo, em pessoas mais saudáveis e menos sujeitas a doenças.
Um exemplo interessante é a Índia, país sempre esteve associado a uma alimentação vegetariana, onde o consumo de carne bovina está crescendo de forma surpreendente. Cerca de 80% da população do país, que conta atualmente com 1,17 bilhão de habitantes, segue o Hinduísmo, uma religião que combate o consumo da carne há vários séculos.
Com o forte crescimento econômico que a Índia vem experimentando nos últimos anos e com a ascensão de uma forte classe média, comer carne vermelha deixou de ser um tabu e se transformou num símbolo de status social.
Muitos criadores de gado da Austrália vinham adicionando algas marinhas da família das Asparagopsis na ração servida aos animais como forma de reduzir as emissões de gás metano. Segundo estudos, a ingestão dessas algas ajuda a reduzir a produção de metano nos processos digestivos dos animais em até 98%.
Apesar de comprovadamente eficiente, esse método não era nada barato, uma vez que o cultivo das algas feito em mar aberto é bastante dispendioso. Para desespero dos ambientalistas, uma empresa sediada na cidade de Perth – a Rumin8, conseguiu sintetizar em laboratório o princípio ativo dessas algas – o bromofórmio.
A empresa está colocando no mercado uma série de produtos veterinários que contém o princípio ativo, onde se incluem pastilhas de liberação lenta, suplementos minerais em pó, líquido à base de óleo para ser misturado à ração e também um produto solúvel para ser misturado na água servida aos animais.
Para a felicidade dos apreciadores de um bom churrasco, que poderão comer carne à vontade sem sentir peso na consciência por causa de problemas ambientais, a empresa garante que seus produtos reduzem a liberação de gás metano nos rebanhos em até 95%.
São soluções inteligentes e eficientes como essa que o nosso mundo precisa!