UMA SECA HISTÓRICA NA CHINA 

As postagens publicadas aqui no blog nas últimas semanas falaram muito dos problemas climáticos nos Estados Unidos e na Europa. Essas grandes regiões estão sofrendo com fortes ondas de calor e com secas intensas. Rios estão apresentando níveis extremamente baixos, com riscos para o abastecimento de populações, irrigação de lavouras, dessedentação de animais, além de provocar imensos problemas para as áreas de geração de energia elétrica e transportes fluviais. 

Esses problemas, entretanto, estão afetando todo o Hemisfério Norte e precisamos incluir na conta de regiões afetadas a China, o país que possui a maior população do mundo e ocupa a segunda posição na economia mundial. O país está enfrentando uma seca fortíssima, que além de causar inúmeros impactos locais tem potencial para afetar fortemente a economia mundial. Extensas áreas do país estão sem receber chuvas há vários meses e importantes rios estão apresentando níveis extremamente baixos.

O quadro que melhor define a seca no país é o Yangtzé, o maior e mais importante rio da China. Com nascentes nas montanhas do Tibete e foz no Mar da China, onde forma um imponente delta, o Yangtzé percorre um caminho com 6.300 km pelo país no sentido Leste-Oeste.  O rio atravessa 16 províncias chinesas e abastece 600 milhões de pessoas – estimativas indicam que 45% do PIB – Produto Interno Bruto, da China depende direta ou indiretamente do rio Yangtzé. 

O rio Yangtzé é o berço da civilização chinesa há milhares de anos. Fornecendo água para o abastecimento de populações e para a irrigação de plantações, para o transporte de pessoas e de mercadorias por toda uma imensa região do grande país, trabalho para pescadores, artesãos, barqueiros e tantos outros, o Yangtzé pulsa como uma verdadeira artéria ligada ao coração da China.   

A bacia hidrográfica do rio Yangtzé abriga centenas de cidades importantes do país, onde se concentram milhares de indústrias de todas as áreas. Toda essa rede de cidades e de empresas depende da navegação fluvial para o transporte de pessoas e mercadorias. O volume de cargas transportadas nessa hidrovia é superior a 2,5 bilhões de toneladas por ano, o que nos dá uma ideia dos impactos da seca. 

Outro aspecto relevante do rio Yangtzé e de seus afluentes é o grande potencial de geração de energia elétrica. Um exemplo é Três Gargantas, a maior usina hidrelétrica do mundo, que tem uma potência estimada em 22,5 milhões de MW. A bacia hidrográfica do rio abriga diversas outras usinas hidrelétricas de grande porte. 

A província de Sichuan no Sudoeste do país é um exemplo da atual crise energética desencadeada pela seca. Perto de 80% da energia elétrica consumida na província de mais de 80 milhões de habitantes vem de centrais hidrelétricas instaladas no rio Yangtzé. Industrias locais estão convivendo com apagões e muitas grandes empresas estão paralisando a sua produção. 

Ao longo das últimas décadas, a China foi transformada na “fábrica do mundo”. Uma parte considerável dos produtos e bens de consumo comercializados em todo o mundo saem das fábricas do país. Empresas de todo o mundo também dependem de peças e componentes fabricados na China. Ou seja – a paralização ou redução da produção nas fábricas do país terá reflexos diretos na economia mundial, 

Outro ponto crítico é a ameaça a produção de alimentos no país. Com uma população da ordem de 1,4 bilhão de habitantes, a China precisa produzir e importar quantidades fabulosas de alimentos para sustentar sua gigantesca população. A demanda chinesa por alimentos, inclusive, vem pressionando os preços internacionais das commodities há muitos anos. 

A China é o maior produtor mundial de alimentos. O país se destaca como um grande produtor de arroz, seu principal alimento, além de milho, soja, cevada, carne suína, peixes, frutas e legumes. Apesar disso, o país depende de grandes importações para garantir a segurança alimentar de sua população – o Brasil se destaca como grande exportador de alimentos para a China. 

A seca que assola parte da China representa uma séria ameaça para a produção agropecuária do país, um problema que criará impactos em todo o mundo. Um eventual aumento da demanda das importações de gêneros alimentícios pelo país provocará, inevitavelmente, um aumento dos preços internacionais que já estão sendo pressionados pela seca em outros grandes países produtores e também pelo conflito entre a Rússia e a Ucrânia. 

Uma postagem publicada aqui no blog dias atrás resume o problema. A USDA – Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, na sigla em inglês, reviu para baixo as expectativas da safra de milho do país, que é o maior produtor mundial do grão, indicando que haverá uma redução de 4,2% em relação as previsões feitas há apenas duas semanas.   

Além de ser um importante alimento para os seres humanos, in natura ou como ingrediente de uma infinidade de produtos, o milho também é usado para a produção de óleos vegetais comestíveis e combustíveis, além de ser um ingrediente fundamental para a produção de rações para animais. Ou seja – qualquer quebra de safra gera reflexos em toda a cadeia produtiva. 

Outro grande produtor de milho que está tendo dificuldades para a produção é a Argentina. Além de problemas climáticos, o país está passando por grandes problemas políticos e econômicos. Sem contar com recursos, o Governo da Argentina tem sobretaxado as exportações da commodity, uma medida que desestimula a produção. 

Esses dois exemplos ligados ao milho ilustram toda uma série de problemas mundiais na área de produção de alimentos. Essa grande seca na China tem potencial para agravar ainda mais a situação, elevando os preços no mercado internacional e ameaçando a segurança alimentar de milhões de pessoas. 

Os problemas que o mundo todo está enfrentando por causa das mudanças climáticas cada vez mais nos lembram o quão frágil e limitado é esse nosso pequeno planeta azul chamado Terra.  

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