Uma publicação rápida em complemento a postagem anterior.
As cianobactérias, também conhecidas como algas azuis e algas verde-azuladas, formam um grupo de bactérias que obtém a sua energia através da fotossíntese. Esses organismos podem ser encontrados em águas doces e salgadas, e também em solos. Algumas variedades dessas bactérias produzem neurotoxinas que podem ser fatais para animais que consumam a água onde elas vivem. Essa pode ter sido a origem do problema que matou os elefantes no Delta do rio Okavango na África.
A questão começa a ficar extremamente grave quando procuramos entender as causas mais prováveis do aumento das colônias de cianobactérias nas águas do rio Okavango – a presença de grandes quantidades de resíduos de fertilizantes carreados a partir de plantações ao longo de suas margens, além de grandes quantidades de efluentes orgânicos, ou esgotos, em suas águas.
Essas substâncias servem como alimentos para as bactérias. Com o forte calor, as bactérias passam a se reproduzir continuamente e formam grandes massas flutuantes sobre as águas (vide foto). Com o aumento das populações de bactérias, há um grande aumento na produção de toxinas, abrindo caminho para tragédias como o envenenamento das águas.
O rio Okavango nasce numa região montanhosa no Leste de Angola e atravessa extensas áreas de clima semiárido, entrando a seguir na região desértica do Deserto do Kalahari, que se estende entre Angola, Namíbia, África do Sul e Botsuana. O rio é a principal fonte de água da região, sustentando um sem número de plantações e fazendas de criação de gado ao longo de suas margens. São justamente essas atividades humanas as responsáveis pela poluição das águas do importante rio Okavango.
E por que precisamos nos preocupar com isso?
Rios poluídos com grandes quantidades de esgotos e resíduos de fertilizantes são cada vez mais comuns em todo o Brasil e no mundo. Com os já perceptíveis aumentos da temperatura do planeta decorrentes do Aquecimento Global, as chances de eventos de superprodução de colônias de cianobactérias aumentam consideravelmente e há grandes chances de contaminação de populações humanas que consomem as águas desses rios.
Citando um exemplo – no início de 2020, cerca de 1,5 milhão de fluminenses e cariocas passaram a perceber que a água que estava chegando em suas casas apresentava uma aparência turva e um cheiro ruim. De acordo com os laudos técnicos apresentados pela CEDAE – Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro, a origem do problema era a geosmina, um composto orgânico volátil que é produzido por alguns tipos de cianobactérias e que, felizmente, não é tóxico.
O principal manancial da região e responsável pelo fornecimento de 85% da água usada no abastecimento da cidade do Rio de Janeiro e de parte da Baixada Fluminense é o rio Guandu, considerado o 15° rio mais poluído do Brasil. O problema persistiu por vários dias até que foram feitas modificações no sistema de tratamento, inclusive com o aumento dos volumes de produtos químicos usados nos processos de purificação e filtragem da água.
Agora imaginem o estrago que teria sido feito se as colônias de cianobactérias do rio Guandu fossem do mesmo tipo daquelas do rio Okavango e que produzissem as mesmas neurotoxinas que, aparentemente, foram responsáveis pela morte dos elefantes da região do Delta. Pensou nisso?
Se essas substâncias matam animais que podem chegar a um peso de 6 toneladas, imaginem o potencial de destruição que teriam sobre uma população humana, onde a grande maioria dos indivíduos tem menos de 100 kg de peso…
É uma questão preocupante!