A “VELHA” E A “NOVA” MARCHA PARA O OESTE PAULISTA

Com um território de pouco mais de 248 mil km², São Paulo está muito longe da lista dos maiores Estados do Brasil. Entretanto, quando o quesito em análise é o tamanho da população, São Paulo ganha de goleada – o Estado tem uma população de 44 milhões de habitantes, mais do que o dobro do segundo colocado, Minas Gerais. 

Pode até ser difícil de acreditar, mas, até a década de 1860, a população da cidade de São Paulo mal chegava aos 30 mil habitantes, que viviam dispersos em vários pequenos distritos. No interior do Estado, a situação não era muito diferente – um punhado de pequenas cidades interligadas por antigas estradas acidentadas e trilhas de tropeiros.

O grande divisor de águas na história paulista foi o café, cultura que chegou primeiro ao Vale do Paraíba no Extremo Leste da então Província, e pouco a pouco foi avançando na direção do “Oeste” de então. Tudo isso já foi tratado em diversas postagens anteriores

O avanço das plantações de café possibilitou a colonização de extensas áreas do interior paulista, levando à criação de diversas cidades importantes. Esse avanço, porém, só chegou ao Centro do Estado – parte importante do Oeste paulista ainda continuaria coberto por densas matas e habitados por indígenas até um século atrás. Essa primeira frente de colonização da Província de São Paulo ficou conhecida como a “Velha Marcha para o Oeste”. 

Os primeiros desbravadores dessa região de fronteira, como todos sabem, foram os bandeirantes paulistas. A partir das primeiras décadas do século XVII, expedições começaram a ser organizadas entre os habitantes do Planalto de Piratininga com vistas à exploração dos sertões. A Principal via de acesso usada por essas expedições era o rio Anhembi, antigo nome do rio Tietê.

Foi através dessa via que se chegou ao rio Paraná e de lá foram sendo conquistados os sertões de Mato Grosso e Goiás. Esse movimento, entretanto, desapareceria no século XVIII e a região Oeste de São Paulo ficaria no esquecimento até meados do século XIX. 

Foi por volta de 1850 que a faixa mais ocidental do Oeste paulista voltou a ser explorada. Pioneiros vindos de Minas Gerais, região que entrou em forte declínio após o esgotamento das reservas de ouro nas últimas décadas do século anterior, passaram a buscar terras no interior paulista. O início da colonização nessa região ficou ofuscado durante muito tempo por causa do ciclo do café em outras terras paulistas. 

Apesar de não contar com os famosos solos de terra roxa, essa região tinha bons solos areníticos, matas densas com muita madeira e uma boa rede de rios. Foram fundadas cidades importantes como São José do Rio Preto e Viradouro nas proximidades do rio Grande e do rio São José dos Dourados, e São Pedro do Turvo, Campos Novos Paulistas e Nossa Senhora da Conceição de Monte Alegre na região entre o rio Paranapanema e o rio do Peixe. 

As matas dessa região eram povoadas por inúmeras tribos indígenas, muitas delas originárias da faixa litorânea do país e que acabaram sendo expulsas para os sertões devido ao avanço da colonização. O grupo indígena mais importante eram os tupis-guaranis, mais conhecidos como caingá ou cayúa. Esse grupo habitava terras entre o Sul do rio Tietê, o rio Paraná e o rio Paranapanema. Numa faixa mais a Leste vivia o grupo dos tupiniquins, que adotou a língua tupi-guarani.  

Entre o rio Tietê e o rio Grande, na divisa com Minas Gerais viviam diversos grupos dos caiapós. Ao longo das margens do rio Paraná e do rio Pardo, já no Mato Grosso, vivam os xavantes, um grupo considerado sociável. Ao longo do vale do rio do Peixe viviam os kaigangs, tribo que era mais conhecida pelo nome de Coroados por causa do corte de cabelo característico, que formava uma espécie de coroa no alto da cabeça. 

A maioria desses grupos sempre se mostrou hostil aos colonizadores “brancos” que passaram a invadir seus territórios em ondas sucessivas. Foram muitos os embates sangrentos entre índios e colonizadores, com os índios sempre levando a pior e acabando por serem dizimados pelo avanço da “civilização”. 

Um dos grandes vetores dessa nova onda de colonização, mais conhecida como a “Nova Marcha para o Oeste”, foi a inauguração da Ferrovia Noroeste do Brasil, que teve suas obras concluídas em 1914 e que passou a ligar a cidade de Bauru a Porto Esperança, às margens do rio Paraná no Sul do Mato Grosso (atual Mato Grosso do Sul). Com as facilidades logísticas criadas pela ferrovia para o transporte de pessoas e produtos, o desenvolvimento econômico da região foi bastante rápido.  

A principal atividade econômica nessas frentes pioneiras foi a criação de gado. Devido à precariedade das estradas, a produção de culturas agrícolas ficava impossibilitada pelas dificuldades de transporte. Já os grandes rebanhos de gado, esses poderiam ser conduzidos a grandes distâncias até cidades pelas chamadas “estradas boiadeiras”. Muitas empresas especializadas no processamento de carne passaram a surgir nessas cidades “de fronteira”, onde se valiam de linhas férreas já existentes para o escoamento de seus produtos. 

Uma cultura agrícola que pouco a pouco foi ganhando espaço no Oeste paulista foi o algodão, que teve um importante ciclo entre 1935 e 1939. Diferente do café, planta que precisa de perto de 5 anos para começar a produzir seus frutos, o algodoeiro começava a produzir dentro de poucos meses, o que tornava a cultura adequada e bastante rentável para os pequenos produtores. Cidades que despontaram durante esse ciclo foram Presidente Prudente, Marília, Pompéia, Rancharia, Tupã, Guararapes e Valparaíso. 

Um grupo de imigrantes que conseguiu obter um grande sucesso com a produção de algodão foram os japoneses, que começaram a desembarcar na Província de São Paulo a partir de 1908 (vide foto). Os nipônicos se organizavam em associações culturais e cooperativas, o que facilitava a compra de terras e o escoamento da produção, contando inclusive com apoio financeiro do Governo do Japão. Cidades paulistas como Lins, Birigui, Marília, Pompéia, Bastos e Presidente Prudente, entre muitas outras, foram importantes núcleos da colonização japonesa. 

O mercado de venda de terras no Oeste paulista também atraiu grupos de imigrantes de outras nações. Muitas das vendas de glebas de terras eram feitas ainda na Hospedaria dos Imigrantes de São Paulo, local que recebia os recém chegados ao Brasil e que os ajudava a se estabelecer no país. Entre os anos de 1920 e de 1940, surgiram diversas colônias desses estrangeiros no interior de São Paulo. 

Em 1922, foi fundada por imigrantes da Letônia a Colônia Varpa nas proximidades da cidade de Tupã. No mesmo ano surgiu a Colônia Riograndense na região de Maracaí, fundada por imigrantes alemães vindos do Rio Grande do Sul. Em 1925, foi fundada a Colônia Aimoré e Arpad na região de Presidente Venceslau, assentando imigrantes alemães e húngaros. Na mesma época foi criada a Colônia Aurora e Labiano por russos no município de Santo Anastácio, a Colônia Veado na região de Caiuá por alemães e a Colônia Borboleta por açorianos na região de Bady Bassit, entre muitas outras. 

Se qualquer um dos leitores de fora do Estado de São Paulo sair hoje numa viagem de carro pela região do Extremo Oeste paulista, ficará admirado com o grau de desenvolvimento econômico da região e dificilmente acreditará que, há menos de 100 anos, todas essas terras eram cobertas por uma densa floresta de Mata Atlântica e território de milhares de indígenas. 

O tal do “progresso” é implacável contra a natureza e pessoas “selvagens”. 

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