O CERRADO PAULISTA: JÁ OUVIU FALAR?

Pequi

Sempre que se fala em Cerrado, é normal pensarmos em regiões do Centro-Oeste do país, em Minas Gerais, alguma coisa da Bahia e de Tocantins. Regiões do bioma no Maranhão e no Piauí, só bem recentemente começaram a ser divulgadas pelos meios de comunicação. Agora, uma pergunta: você sabia que existem regiões de Cerrado no Estado de São Paulo? 

O bioma Cerrado ocupava, originalmente, uma área correspondente a 14% do Estado de São Paulo – hoje em dia, restaram apenas fragmentos do Cerrado no Estado (são mais de 8.300 fragmentos), áreas que ocupam aproximadamente 1% da superfície paulista. Como se o altíssimo grau de devastação do bioma não bastasse, apenas 18% dessas áreas restantes são protegidas em 32 unidades de conservação e de reserva legal. O bioma é tão desconhecido entre a população do Estado de São Paulo que, caso você aponte para uma área com a vegetação típica de Cerrado para um paulista, e perguntar que tipo de bioma é aquele, o máximo que ouvirá de resposta é “mato” – ou seja, para a população em geral, o Cerrado é um tipo de vegetação sem a menor importância. 

Esse comportamento dos paulistas em relação ao Cerrado tem raízes históricas. Até meados do século XIX, São Paulo era uma província pobre e isolada, com a capital no alto da Serra do Mar, longe do litoral, e com uma população bastante rarefeita. Isso começou a mudar com a chegada do café à região do Vale do Rio Paraíba, no extremo Leste do Estado. Conforme comentamos em uma postagem anterior, a rápida degradação dos solos da região tornou efêmeras as riquezas locais – cidades que surgiram no rastro do café, rapidamente se transformaram em “Cidades Mortas”, numa referência ao livro publicado por Monteiro Lobato falando da região. 

Com a grande valorização do café nos mercados internacionais da época, não demorou muito até que os grandes produtores descobrissem as férteis terras roxas do Oeste do Estado de São Paulo. Rapidamente, grandes trechos das matas passaram a ser derrubados para a formação de imensos cafezais e nada mais seria como era dantes. Comparado aos solos de terra roxa, as áreas de Cerrado com seus solos ácidos e pouco férteis se transformaram em uma espécie de “segunda divisão” para os produtores rurais e passaram a ser transformadas em áreas para a pastagem de gado ou para o plantio de culturas pouco exigentes em relação à qualidade de solos. 

Muito provavelmente, vem daí esse relativo desprezo ou desconhecimento dos paulistas em relação ao Cerrado. Populações de outros Estados, que sempre viveram e dependeram do bioma para sobreviver, como aquelas da região Centro-Oeste do país, tem um comportamento completamente diferente. Um exemplo é a utilização de toda uma gama de frutas típicas do Cerrado na sua alimentação – o pequi (vide foto) é um exemplo. Muito utilizado em culinárias como a do Estado de Goiás, o pequi está presente em diversos pratos salgados, bolos e doces. O pequizeiro é até encontrado no Estado de São Paulo, mas seus frutos apodrecem no pé porque a população nunca se habituou ao consumo desse e de outros frutos do Cerrado paulista. 

Pesquisadores de universidades e institutos paulistas correm contra o tempo e contra as distâncias para estudar toda essa infinidade de “ilhas de Cerrado”, com objetivo de conhecer e preservar um pouco do que restou do bioma no Estado de São Paulo. A rápida destruição de extensas regiões de Cerrado, especialmente por causa do avanço das fronteiras agrícolas, por todo o Brasil, poderá repetir o destino que o bioma teve em terras paulistas e acabar transformado em um sem fim de pequenas ilhas de vegetação nativa, cercadas por culturas de grãos por todos os lados. 

Como paulista, torço para que nada do que aconteceu com o Cerrado por aqui aconteça em outras regiões do Brasil.

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