
O dia 22 de março é bastante especial para quem, como nós aqui do blog, se preocupa com questões relacionadas aos recursos hídricos – esse é o Dia Mundial da Água, conforme decisão da ONU – Organização das Nações Unidas.
Para mostrar como a questão é atual e preocupante, vamos tratar hoje da situação do rio Darling, simplesmente um dos mais importantes corpos hídricos da Austrália – milhões de peixes mortos estão tomando grandes extensões do rio, uma questão que está preocupando as autoridades locais.
O rio Darling tem uma extensão total de 1.390 km, sendo considerado o terceiro maior rio da Austrália. Ele nasce no Norte do Estado de Nova Gales do Sul e desagua no rio Murray. A bacia hidrográfica dos rios Murray-Darling, a mais importante da Austrália, ocupa uma área de 1,061 milhão de km² e concentra 40% da área agrícola e 85% de toda a área irrigada do país. Essa região é chamada de celeiro agrícola da Austrália.
A bacia hidrográfica dos rios Murray – Darling é responsável por 75% da produção de grãos da Austrália e ocupa áreas dos Estados de Queensland, Nova Gales do Sul e Vitória. Além da disponibilidade de água, recurso bastante escasso no continente, essa região apresenta climas Mediterrâneo (temperado) e subtropical.
As nascentes do rio Murray ficam na Cordilheira Australiana no Sudeste do país, região que também é chamada de Alpes Australianos, e foz no Oceano Índico, nas proximidades da cidade de Adelaide. Apesar de bastante extenso, o Murray não é um rio caudaloso – seus caudais aumentam consideravelmente no curso médio do rio, quando o Murray passa a receber contribuições significativas de águas dos rios Murrumbidgee e, especialmente, do rio Darling.
Segundo as autoridades de Nova Gales do Sul, os níveis de oxigênio nas águas do rio Darling estão muitos baixos, uma condição que está sendo fatal para os peixes. Segundo os relatos, a região da bacia hidrográfica está com altas temperaturas e o rio está sofrendo com fortes inundações. A combinação desses dois fatores está sendo apontada como a causa da queda dos níveis de oxigênio.
Essa situação, que não é nova, está ocorrendo no rio desde fevereiro. Entre os anos de 2018 e 2019, quando a região enfrentou uma severa seca, também houve uma grande mortandade de peixes. Entretanto, segundo afirmações das autoridades, a atual mortandade de peixes é bem maior e muitos trechos do curso do rio estão bloqueados.
Os australianos têm trabalhado em duas frentes – a remoção dos peixes mortos da calha do rio por equipes especializadas e também no fornecimento de água potável por vias alternatinativas para as populações das cidades que são abastecidas com as águas do rio Darling.
Aqui é importante citar que as águas dessa bacia hidrográfica abastecem, simplesmente, algumas das mais importantes cidades da Austrália – Sidney, Adelaide, Brisbane, Melbourne e Camberra, a capital do país.
A Austrália, chamada por muitos de ilha-continente, é pouca coisa menor do que o Brasil – o país ocupa uma área de 7,7 milhões de km², exatamente 10% a menos do que o nosso território. Apesar da localização do país ocupar praticamente as mesmas latitudes das regiões Central e Sul do Brasil, o clima australiano é bem diferente do nosso – aliás, podemos afirmar que é praticamente o inverso.
No Brasil, o clima Semiárido é encontrado em uma área relativamente pequena do interior da região Nordeste e no Norte do Estado de Minas Gerais – a maior parte do país tem clima Equatorial e Tropical; na região Sul, o clima é subtropical. Na Austrália, a maior parte do território tem climas Semiárido e Desértico.
Uma estreita faixa ao longo das costas do Sul e uma grande área no Sudeste do país têm um clima Mediterrâneo, que nada mais é do que um clima temperado. Pequenas faixas ao Sudoeste e Leste do continente tem um clima subtropical e uma faixa no extremo Norte apresenta características Tropicais (clima quente com uma forte temporada de chuvas de Monção).
Outra forma de avaliar as diferenças drásticas nos climas dos dois países pode ser observado na disponibilidade de água: o Brasil possui 12% das reservas de água doce do mundo (lembrando que a maior parte dessa água se encontra na Bacia Amazônica), com chuvas regulares na maior parte do território. A Austrália, ao contrário, é o continente mais seco do mundo, com cerca de 1% das reservas mundiais de água doce.
Grande parte do território australiano sofre com a falta de chuvas, que além de irregulares, caem em volumes muito pequenos. Como se não bastassem todos esses problemas, o país enfrentou uma fortíssima estiagem generalizada entre os anos 2000 e 2009. É por isso que essa questão do rio Darling é tão preocupante.
Essa escassez de recursos hídricos foi determinante na fundação das principais cidades da Austrália, que se concentram no Sudeste e Leste do país, além de regiões ao longo do extenso litoral. A população australiana, que atualmente está na casa dos 25 milhões de habitantes, desde as primeiras décadas da colonização adotou um estilo de vida voltado ao uso racional das reservas de água do país – nós brasileiros temos muito a aprender com eles!
A Austrália é uma espécie de campeã quando se trata de tragédias ambientais. Ora são grandes incêndios florestais que se alastram por milhares de quilômetros, ora são secas intermináveis. O país também é recordista em espécies animais e vegetais invasoras.
Durante dezenas de milhões de anos, a Austrália foi um território completamente isolado do restante do mundo. Esse isolamento permitiu uma evolução isolada da fauna local, o que fez surgir espécies animais fascinantes a exemplo de marsupiais como os cangurus, lobos-da-Tasmânia e ornitorrincos.
Quando o país começou a ser colonizado a partir do final do século XVIII, inúmeras espécies animais começaram a ser introduzidas no país. Primeiro na forma de animais domésticos como cães, gatos, porcos, vacas, cavalos e ovelhas. Depois, muitos britânicos saudosos de sua pátria passaram a introduzir espécies destinadas a caça como raposas e coelhos.
Outro exemplo de espécie invasora são os sapos-cururu, originários aqui da América do Sul e bastante comuns em todo o Brasil. Esses animais foram introduzidos na década de 1930, com o objetivo de combater pragas nos canaviais do país. Eles não só não cumpriram essa missão como se transformaram na mais importante espécie animal invasora da Austrália.
E o rio Darling veio se juntar, definitivamente, ao grande rol de tragédias ambientais do país…