
As fortes chuvas que caem em toda a faixa Leste dos Estados nordestinos causaram grandes estragos em Pernambuco ao longo dessa semana. De acordo com as informações oficias, ontem foi localizado o corpo da última vítima conhecida da tragédia – no total, foram contabilizados 128 mortos na Região Metropolitana do Recife, a maioria vítima de deslizamentos de encostas de morros.
No total, as fortes chuvas colocaram 34 cidades de Pernambuco em situação de emergência (vide foto), deixando 9.032 desabrigados. Na longa história local de problemas com chuvas e enchentes, esse último evento já está sendo considerado o segundo maior desastre natural da história de Pernambuco.
Essa tragédia em Pernambuco vem se juntar a uma série de outras ocorridas ao longo desse ano em todo o Brasil. De acordo com reportagem publicada hoje, onde foi feita uma contabilidade geral de casos semelhantes em todo o Brasil até o final do mês de maio de 2022, as chuvas desabrigaram ao menos 37.938 pessoas em 22 Estados brasileiros neste ano.
No total, 1.530.494 pessoas foram prejudicadas diretamente pelas chuvas em 502 municípios do país. Desse total, 138 municípios tiveram seus decretos de emergência ou de calamidade pública reconhecidos pelo Governo Federal. Os dados são oficiais e foram retirados do Sistema Integrado de Informações sobre Desastre do Ministério do Desenvolvimento Regional.
Os números poderiam ser até piores caso as vítimas das fortes enchentes registradas na Bahia nos primeiros dias de 2022, tivessem sido incluídas nas estatísticas. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Regional, essas vítimas foram incluídas nos dados de 2021, uma vez que as chuvas atingiram o Estado em dezembro do ano passado.
O Estados mais afetados pelas chuvas ficam nas Regiões Norte e Nordeste, onde se destacam Pará, Amazonas e Maranhão. Na Região, Minas Gerais ocupa a primeira posição entre os mais atingidos.
O número total de mortos associados diretamente às chuvas está subnotificado nessa base de dados, onde aparecem apenas 36 mortes. De acordo com um levantamento feito pela CNM – Confederação Nacional dos Municípios, já ocorreram pelo menos 457 mortes em 2022. Esse número equivale a ¼ do número total de mortes associadas as chuvas nos últimos 10 anos.
Os dados indicam que, em todas as regiões afetadas pelas fortes chuvas, o perfil das vítimas é sempre o mesmo – pessoas pobres que moravam em áreas de risco. Além das vítimas recentes em Pernambuco, podemos citar os exemplos de cidades da Região Metropolitana de São Paulo e de Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro.
No início do último mês de fevereiro, a Região Metropolitana de São Paulo foi atingida por fortes chuvas. Ao menos 18 pessoas morreram por causa do desmoronamento de encostas de morros nas cidades de Franco da Rocha e Francisco Morato. Em Petrópolis, tragédia semelhante fez ao menos outras 128 vítimas fatais em meados de fevereiro.
A falta crônica de programas de construção de moradias populares em todo o Brasil empurra um número cada vez maior de famílias pobres para as áreas periféricas das cidades. Nessas regiões é possível encontrar terrenos baratos em áreas próximas das margens de rios e córregos e também nas encostas acidentadas de morros. Em muitos casos, esses terrenos acabam sendo invadidos.
Falando a grosso modo, essas regiões deveriam ser consideradas como áreas de proteção ambiental pelas Prefeituras e protegidas de qualquer tipo de ocupação a qualquer custo. Áreas de várzeas são fundamentais para o controle das enchentes nos períodos das chuvas e encostas de morros precisam manter sua cobertura vegetal original para evitar desmoronamentos.
Infelizmente, não é o que ocorre na prática. Basta uma volta rápida por qualquer cidade média ou grande do país para se constatar a forte ocupação dessas regiões por famílias de baixa renda. Quando chegam as inevitáveis chuvas de verão, as mesmas tragédias se repetem nessas cidades.
De acordo com um levantamento feito em fevereiro de 2022, pelo CEMADEN – Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, existem cerca de 9,5 milhões de pessoas morando em área de risco em todo o Brasil, número que mostra claramente o potencial para a ocorrência de grandes tragédias em nosso país.
Como sempre repetimos em nossas postagens, fortes chuvas na temporada de verão em um país com climas predominantemente equatorial e tropical como é o caso do Brasil ocorrerão naturalmente ano após ano. Logo, não pode haver desculpas das autoridades de todos os níveis de Governo para a implementação de políticas habitacionais que evitem a ocupação de áreas de risco.
Sem uma forte pressão popular sobre Prefeitos e Governadores, além de autoridades do Governo Federal, essas tragédias vão continuar nos anos vindouros. Aliás, com o avanço das mudanças climáticas em todo o planeta existe a possibilidade das chuvas e das tragédias aumentarem ainda mais ao longo dos próximos anos.
Ou resolvemos esses problemas de uma vez por todas agora ou teremos de nos conformar com números de vítimas cada vez maiores nos próximos anos. As soluções podem até não vir, mas as fortes chuvas, com toda a certeza, virão!