A BIENAL DO LIXO EM SÃO PAULO, OU FALANDO DO PROBLEMA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

A imagem que ilustra esta postagem reproduz de maneira bem humorada uma das fotos mais famosas do século XX. Ela foi tirada no dia 14 de março de 1951, dia do aniversário de Albert Einstein. O mundialmente famoso físico estava saindo de uma festa com ex-alunos, professores e pesquisadores da Universidade de Princeton

Depois de ser fotografado por dezenas de jornalistas e paparazzi que aguardavam na porta do clube onde aconteceu a festa, o físico finalmente conseguiu entrar num automóvel que o levaria para a casa. Foi então que um fotógrafo da agencia UPI – United Press Internacional, insistiu para Einstein desse um sorriso. E o que ele fez foi mostrar a língua – se foi como gozação ou simplesmente por malcriação não se sabe. 

O artista plástico Jota Azevedo reproduziu a icônica fotografia de Albert Einstein usando apenas material de descarte, o que costumamos chamar de lixo em nosso dia a dia. Essa obra e muitas outras fazem parte da Bienal do Lixo, evento que foi aberto ao público no último dia 26 e que ficará até o dia 5 de julho no Parque Vila Lobos, na Zona Oeste da cidade de São Paulo. 

Além de obras de arte, o evento terá intervenções artísticas, oficinas, mostras de cinema, palestras e painéis ligados à temática dos resíduos sólidos com acesso gratuito. Entre as temáticas são destaque a logística reversa, economia circular, consumo consciente, educação ambiental, o uso de energias renováveis e a gestão dos resíduos. No comando dos diferentes eventos estão profissionais da área, artistas, agentes culturais, autoridades, cientistas e jornalistas. 

Entre os principais objetivos desse evento destacamos a conscientização da importância de uma boa gestão dos diferentes resíduos produzidos por nossa cidade. Conforme tratamos frequentemente em nossas postagens, ambientes inteiros estão sendo tomados por restos de plásticos, pneus, embalagens metálicas entre outros descartes de peças e produtos de grandes dimensões. Citando como exemplos temos as ilhas de resíduos plásticos do Oceano Pacífico e do Mar do Caribe

Resíduos são, essencialmente, sobras resultantes de processos de produção e de consumo: embalagens de produtos, cascas e sobras de alimentos, papel usado, equipamentos eletrônicos antigos, ferragens, madeiras e móveis, entulho da construção civil, aparas diversas entre outros tipos de resíduos. Além dos resíduos propriamente sólidos, que formam a maioria dos materiais, existem aqueles que são líquidos: sobras de tintas, solventes, combustíveis, óleos lubrificantes usados entre outros. 

Esses resíduos costumam ser classificados em categorias diferentes de acordo com as fontes geradoras: 

Resíduos Domiciliares: é o nosso famoso lixo doméstico formado por restos e cascas de alimentos, embalagens plásticas e metálicas, vidros, papéis diversos, papel higiênico etc; 

Resíduos Comerciais: caixas de papelão, isopor, pallets de madeira, plásticos, embalagens, sacarias em geral etc; 

Resíduos Industriais: aparas de chapas plásticas, de madeira e metálicas, limalhas e outros resíduos do corte de materiais, tintas, solventes, resíduos químicos diversos etc; 

Resíduos Agrícolas: embalagens de adubos e defensivos químicos, peças metálicas, pneus, restos de madeira, pedras etc; 

Resíduos Hospitalares: seringas, gases, instrumentos cirúrgicos, embalagens e restos de remédios e drogas hospitalares, e demais materiais diversos contaminados por patógenos; 

Resíduos da Construção Civil: entulho, madeiras, telhas, pedregulho, tintas, tijolos, tubulações, embalagens etc; 

Resíduos de Portos, Aeroportos, Terminais Ferroviários e Rodoviários: embalagens, restos de alimentos, papéis, papel higiênico etc; 

Resíduos de Mineração: rejeitos e sobras de materiais minerais não utilizáveis (só para lembrar: o acidente ambiental que, literalmente, matou o Rio Doce em 2015, foi provocado pelo rompimento de uma barragem de resíduos da mineração); 

Resíduos Radioativos: combustível de usinas nucleares e resíduos de medicamentos e materiais de clínicas radiológicas e de hospitais. 

Existem também materiais muito específicos dentro dos resíduos hospitalares como os materiais perfuro-cortantes e materiais contaminados por patógenos, que não podem ser descartados junto com os resíduos comuns e devem ser encaminhados para incineração em unidades de destinação especiais.  

Outro caso importante é do lodo sanitário resultante do tratamento de esgotos nas ETEs – Estações de Tratamento de Esgotos, que ainda não possuem uma destinação definitiva. Junto a tudo isso, falaremos ainda da coleta seletiva e das políticas para a redução e a reutilização dos materiais.  

Na área dos recursos hídricos, um dos temas favoritos aqui do blog, os resíduos descartados de forma incorreta, muitas vezes irresponsável, estão na raiz de grandes enchentes e alagamentos que ocorrem nas cidades brasileiras nos meses de chuvas. E não falamos aqui só de embalagens plásticas e outros resíduos pequenos – falo de sofás, móveis, geladeiras e outros produtos velhos que são jogados nas ruas e nas calhas de rios e córregos. 

Também não se pode esquecer da poluição da água de córregos, rios, lagos e represas, águas que frequentemente são as mesmas usadas para o abastecimento de cidades. Um exemplo que vejo diariamente aqui da minha janela é a Represa Guarapiranga, responsável pelo abastecimento de, pelo menos, 20% da população da cidade de São Paulo. 

Além de receber milhares de litros de esgotos domésticos in natura, carreados por dezenas de córregos e pequenos rios, a Guarapiranga também é o destino final de enormes quantidades de resíduos sólidos de todos os tipos, inclusive grandes volumes de entulhos da construção civil. 

A Bienal do Lixo de São Paulo vai colocar todas essas nuances do problema em discussão nos mais diferentes formados, buscando levar a população a pensar sobre os diferentes problemas e a agir de forma construtiva na busca por soluções. 

Quem por acaso estiver em Sampa nos próximos dias já tem uma boa opção de programa. 

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