
Tem feito bastante frio nos últimos dias aqui na cidade de São Paulo e em outras cidades e regiões do país, especialmente na área conhecida como Região Centro Sul. Há dois dias atrás, a temperatura na cidade ficou próxima dos 8° C, com algumas áreas mais altas registrando uma sensação térmica de –2° C por causa dos fortes ventos.
Hoje mesmo eu estava conversando com minha irmã e lembrando de nossa avó – sempre que vinha passar uns dias na nossa casa, ela costumava comprar tecido de flanela para fazer camisas quentes para nós. O inverno paulistano era, até algumas décadas atrás, bem mais rigoroso e ainda tinha a “tal” da garoa nos finais de tarde.
Essa onda de frio, que trouxe inúmeras lembranças da minha infância, não afetou só os Estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste – os termômetros também despencarem no Nordeste e no Norte do país, regiões pouco acostumadas com temperaturas mais baixas.
Na Região Norte as áreas mais afetadas foram o Acre, Rondônia e o Sul do Amazonas. Em Rio Branco, capital do Estado do Acre, estavam sendo esperadas temperaturas entre 14° e 16° C, o que é bastante frio para as médias normais para essa época do ano. Em Porto Velho, capital de Rondônia, as temperaturas mínimas podem chegar a 16° C.
O Nordeste também vai “sofrer” com temperaturas abaixo da média. No Sul da Bahia, citando um exemplo, as temperaturas devem cair para valores entre 15° e 16° C. Em Teresina, os termômetros deverão chegar aos 22° C – em Fortaleza e em São Luís a mínima poderá chegar a 24° C. Nós aqui no Sudeste e no Sul do país vamos para a praia com essas temperaturas, mas, para nordestinos, isso é um “frio lascado”…
Ondas de frio mais severo como esta que estamos vivendo hoje deixaram de ser comuns aqui na cidade de São Paulo já há uns 30 anos. Agora, o que está chamando mesmo a atenção é a época – falta mais de um mês para a chegada do inverno e um frio com essa intensidade seria esperado só em julho.
O responsável pela “friagem” foi um ciclone extratropical que se formou no litoral do Rio Grande do Sul e que passou a impulsionar ventos frios para o interior do continente. O fenômeno meteorológico evoluiu e se transformou na tempestade subtropical Yakecan, provocando ventos de até 100 km/h, chuva intensa, ressaca no mar, neve na Serra Gaúcha e uma onda de frio que se espalhou pelo país.
Segundo informações do INMET – Instituto Nacional de Meteorologia, essa onda de frio provocou quedas de mais de 5° C nas temperaturas. Além dos Estados da Região Sul e São Paulo, os mais afetados, essa da onda de frio está sendo Goiás, Mato Grosso, Distrito Federal, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, além do Sul do Tocantins. Em menor intensidade, como já citamos, o Norte e o Nordeste.
Além do frio, a tempestade subtropical está provocando fortes chuvas em algumas regiões, principalmente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Na última terça-feira, inclusive, os moradores da Região Metropolitana do Rio de Janeiro foram surpreendidos por uma forte chuva seguida por queda de granizo, um evento raríssimo na Região.
No litoral de Santa Catarina o problema foram os fortes ventos e o mar agitado. Na terça-feira, a Marinha do Brasil proibiu a navegação no canal de acesso ao Complexo Portuário de Itajaí e de Navegantes. As rajadas de vento chegaram próximo a 100 km/h, tornando a navegação no canal impraticável.
O clima aqui nesse nosso canto do mundo, aliás, está ficando complicado. Em meados de janeiro, como muitos devem recordar, uma poderosa massa de ar quente e seco se formou no Sul da Argentina e elevou as temperaturas no Centro e no Norte da Argentina, no Paraguai, no Uruguai e também no sul do Brasil.
Na cidade de San Antonio Oeste, na Patagônia argentina, os termômetros registraram a temperatura recorde de 42,8° C. Essa onda de calor chegou na região de Buenos Aires um dia depois e elevou as temperaturas para valores próximos dos 40° C, as maiores em mais de um século na cidade.
Uma das consequências dramáticas desse calor temporão foi um blackout que atingiu boa parte das cidades da Grande Buenos Aires – a rede elétrica antiga não suportou uma infinidade de ventilares e equipamentos de ar condicionado ligados ao mesmo tempo. Cerca de 700 mil porteños ficaram as escuras por muitas horas.
No Rio Grande do Sul, essa onda de calor elevou as temperaturas entre 10° e 15° C, amplificando os problemas que o Estado vivia há época por causa da seca. O INMET, inclusive, emitiu um alerta de calor extremo para 216 municípios gaúchos.
Mal se passaram quatro meses e agora estamos vivendo uma onda anormal de frio vinda de latitudes muito próximas. Pode até ser uma grande coincidência a ocorrência de dois extremos climáticos num espaço de tempo tão curto, porém, não podemos deixar de imaginar que a causa pode estar ligada às mudanças climáticas globais.
Conforme já apresentamos em outras postagens aqui do blog, o aumento das temperaturas do planeta está provocando um derretimento acelerado das massas de gelo nos polos e das altas montanhas. O derretimento da capa de gelo do Continente Antártico, que está bem próximo de nós sul-americanos, está provocando mudanças nas correntes marinhas e nos regimes de vento.
No Oceano Índico essas mudanças já são bastante visíveis – medições sistemáticas mostram que a temperatura superficial das águas está se elevando, o que tem alterado, entre outras coisas, o regime de chuvas na África Austral, no Sul e no Sudeste da Ásia.
O Atlântico Sul é uma extensão a Leste do Oceano Índico e já pode estar sofrendo de interferências semelhantes. Porém, como sempre ressaltamos, serão necessários muitos estudos para que se determine com exatidão o que está acontecendo por esses nossos lados.
Enquanto as respostas científicas não vêm, o jeito é irmos nos adaptando a esses extremos climáticos que parecem estrar se tornando cada vez mais frequentes…