FORTES CHUVAS CAUSAM DESTRUIÇÃO E MORTES NO CENTRO DO MÉXICO 

Enquanto enfrentamos uma forte de temporada de seca em grande parte do Brasil e em países vizinhos, a América do Norte e o Caribe estão as voltas com a temporada dos furacões. Há poucos dias atrás foi o furacão Ida que atingiu grandes cidades na Região Nordeste dos Estados Unidos, matando ao menos 45 pessoas e causando muita destruição.

A “bola da vez”, conforme citamos na última postagem, é o furacão Larry. A tormenta se encontra longe da costa, mas poderá causar fortes ondas ao longo de uma extensa região do Oceano Atlântico, principalmente nos Estados da Costa Leste dos Estados Unidos e Províncias da Costa Leste do Canadá, além das Pequenas Antilhas no Mar do Caribe. Existe, inclusive, a expectativa dessas ondas atingirem o litoral da Região Norte do Brasil.  

O México também vem enfrentando sua quota de problemas com a atual temporada de furacões. Há pouco mais de duas semanas, a tempestade Grace atingiu o Estado de Vera Cruz, na costa do Mar do Caribe, se transformando em um furacão categoria 3 na escala de furacões de SaffirSimpson ao tocar em terra. Logo depois de entrar no território mexicano, Grace foi rebaixada para a categoria 1. A passagem de Grace pelo México deixou, ao menos, 7 mortos.  

Nos últimos dias, grandes áreas do país estão sendo castigadas por fortes chuvas. Na última segunda-feira, dia 6 de setembro, essas chuvas provocaram o transbordamento do rio Tula, no Estado de Hidalgo no centro do país, e as águas invadiram um hospital – pelo menos 17 pacientes morreram. 

Esse hospital é especializado no tratamento de casos de Covid-19 e a maioria das vítimas estava internada devido a casos graves da doença e onde era necessário o uso de oxigênio – muitos desses pacientes, inclusive, estavam entubados. Segundo informações de funcionários do hospital, houve uma queda da energia elétrica e os respiradores e equipamentos de suporte a vida pararam de funcionar. 

Foram feitos enormes esforços para transferir esses pacientes para outros hospitais da região, com equipes carregando macas em meio a corredores e ruas completamente alagadas (vide foto). Graças a todos esses esforços, cerca de 40 pacientes foram salvos.  

Segundo o Governo do Estado de Hidalgo, cerca de 40 mil pessoas estão sendo afetadas pelas fortes chuvas. O município de Tula, local onde ocorreu essa tragédia, é um dos mais gravemente afetados pelas chuvas. 

O drama das chuvas ganhou um componente extra no dia 7 de setembro, quando um terremoto de magnitude 7 atingiu a parte Central do México, a mesma que já vinha sendo castigada pelas fortes chuvas. Ao menos uma pessoa morreu devido a queda de um poste de energia elétrica. 

Segundo informações do Instituto Sismológico Nacional do México, o epicentro do tremor foi a 17 km da cidade de Acapulco, um famoso balneário na costa do Oceano Pacífico. Foram registrados diversos tremores secundários com magnitude entre 4 e 5. Lembro aqui que a escala Richter, usada para medir a magnitude dos terremotos, vai até 10. 

O terremoto assustou grande parte da população, inclusive da Cidade do México, capital do país localizada a cerca de 370 km de Acapulco. Por todos os lugares se viam pessoas vestidas com pijamas e com crianças no colo, que saíram às pressas de suas casas e foram se refugiar nas ruas sob a forte chuva. 

O México tem um longa e trágica história com terremotos. Em 2017, citando um caso bem recente, o México foi abalado por um forte cismo que deixou 369 mortos, a grande maioria das vítimas vivia na Cidade do México. O trauma de terremotos anteriores continua vivo na alma dos mexicanos. 

A Cidade do México é a mais populosa da América do Norte com uma população superior a 9 milhões de habitantes. A sua Região Metropolitana, que reúne mais de 40 municípios, abriga mais de 20 milhões de habitantes. Além dessa enorme população e de todos os problemas de infraestrutura urbana e de moradia decorrentes, grande parte da Cidade do México foi construída sobre áreas de aterro, um problema que torna os solos instáveis em casos de terremoto. 

Segundo os registros históricos, a cidade foi fundada pelo povo asteca por volta do ano 1325. Com o nome de México Tenochtitán, a cidade foi construída em uma ilha no centro do lago de Texcoco. Com o crescimento da população, grandes áreas desse lago passaram a ser aterradas, criando assim solos “artificiais” para a construção de casas e edifícios públicos. 

O Lago de Texcoco formava uma grande bacia hidrográfica endorreica (sem saída) juntamente com os lagos Xochimilco, Chalco, Xaltocan e Zumpango, ocupando uma área de 2 mil km² e que se estendia por todo o Vale do México. Praticamente toda essa área foi drenada e aterrada. Durante muito tempo, toda essa região era altamente susceptível a grandes enchentes, um problema que só foi resolvido na década de 1960, após a construção de vários túneis que passaram a drenar as águas para fora do Vale do México. 

Além da localização do país numa região muito próxima da área de formação de grandes furacões no Norte do Oceano Atlântico, os mexicanos fizeram o seu “dever de casa” para aumentar os problemas decorrentes das fortes chuvas. O México já teve grande parte da sua cobertura florestal, especialmente na parte Sul do país, devastada. 

O México ocupa uma área total de 1,97 milhões de km² e cerca de 15% do seu território já foi coberto por uma densa floresta tropical com características muito similares às da Floresta Amazônica. Outros 20% do território do país, principalmente em áreas com maiores altitudes, era coberto por florestas de coníferas, uma vegetação típica do Hemisfério Norte. 

Especialistas calculam que a rica biodiversidade local abrigava cerca de 1.500 espécies de mamíferos, mais de 1.000 espécies de aves, além de centenas de espécies de répteis, anfíbios e peixes. Ao menos 34% dessas espécies eram endêmicas, ou seja, só existem no México e estão seriamente ameaçadas

Pois bem – cerca de 90% das florestas tropicais do país já foram devastadas por atividades humanas, abrindo espaços para a agricultura, a pecuária e a mineração. As florestas de coníferas também foram bastante reduzidas, porém, a sua localização em encostas íngremes e vales de difícil acesso contribuiu para que grandes manchas florestais conseguissem sobreviver. 

Sem essa importante cobertura florestal, os problemas criados pelas fortes chuvas que, ano após ano castigam o país, grande parte do México sofre cada vez mais com enchentes e deslizamentos de encostas nessa época do ano. Se as consequências dos fortes e frequentes terremotos são inevitáveis, os sucessivos dramas criados pelas chuvas seriam perfeitamente controlados se as florestas do México não tivessem sido destruídas. 

Fica aqui um alerta aos países e regiões que ainda possuem florestas ou fragmentos florestais ainda em pé – preservar árvores é bom para a saúde do planeta e das pessoas. 

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