
A população e as autoridades da Região Metropolitana de Nova York e de cidades em Estados vizinhos ainda estão contabilizando os enormes prejuízos deixados pela passagem do Furacão Ida pela região. Conforme apresentamos em postagens anterior, o Furacão Ida atingiu o litoral da Luisiana no último dia 29 de agosto, colocando toda a população em alerta. Relembrando, a maior cidade do Estado – Nova Orleans, foi devastada pelo Furacão Katrina em 2005.
Em comparação aos estragos feitos pelo Katrina, que inundou cerca de 80% de Nova Orleans, o Ida provocou danos bem menores na cidade. Além da chuva intensa e dos fortes ventos, que provocaram alagamentos e destruição de casas e outras estruturas, também provocou a queda de muitas árvores. Uma dessas quedas, infelizmente, acabou matando um morador.
Rebaixado para a categoria de tempestade tropical, o Ida seguiu rumo a Região Nordeste dos Estados Unidos, atingindo em cheio a cidade de Nova York no dia 1° de setembro e provocando chuvas torrenciais. A chuva recorde, considerada por muitos como a maior tempestade a atingir a cidade em meio século, provocou gigantescas inundações, paralisou todo o sistema de transportes e assustou toda a população. Os grandes aeroportos da região – JFK, LaGuardia e Newark, foram fechados e centenas de voos foram cancelados.
De acordo com informações do NWS – Serviço Meteorológico dos Estados Unidos, na sigla em inglês, foram 80 mm de chuva na região do Central Park, área central da cidade, em apenas uma hora. Cerca de 40 mil casas ficaram sem energia elétrica somente em Nova York. Já foram contabilizadas, pelo menos, 45 vítimas fatais na cidade e Região Metropolitana, principalmente em decorrência das enchentes.
Além de Nova York e cidades vizinhas, as fortes chuvas também atingiram partes dos Estados vizinhos de Nova Jersey e Pensilvânia. Cerca de 60 mil residências em Nova Jersey e 98 mil na Pensilvânia ficaram sem energia elétrica. De acordo com os levantamentos já concluídos pelas autoridades desses Estados, a tempestade fez 23 vítimas fatais em Nova Jersey e 3 na Pensilvânia.
Aqui é que entramos no cerne dessa grande tragédia ambiental – grande parte das vítimas fatais dessa grande região ao redor da cidade de Nova York morava em habitações irregulares em porões de edifícios e casas. Famílias inteiras foram surpreendidas pela chegada das águas e muitos desses moradores não conseguiram fugir para locais mais altos a tempo. Essa é uma questão que deverá ter enormes desdobramentos daqui para a frente.
Assim como ocorre em grandes cidades em todo o mundo – destaco aqui as grandes cidades brasileiras, Nova York tem gravíssimos problemas habitacionais. O custo de vida e os aluguéis nas áreas centrais da cidade, especialmente na Ilha de Manhattan, são muito elevados, o que obriga muita gente a viver em bairros mais distantes ou cidades vizinhas, onde os custos são menores. Essa situação também leva aos famosos “jeitinhos” – criação de apartamentos minúsculos (a partir da subdivisão de imóveis maiores); ocupação irregular de porões, sótãos, telhados e lajes, áreas de depósitos, entre outros improvisos.
Também como é comum aqui em nossas grandes cidades, prefeituras de cidades como Nova York não conseguem fiscalizar adequadamente todos os imóveis sob sua jurisdição, apesar das inúmeras denúncias recebidas. De acordo com dados oficias, somente o Departamento de Edifícios de Nova York recebeu, ao longo de 2021, mais de 8 mil denúncias de moradias irregulares. Em 2020, foram mais de 11 mil denúncias. A maioria dessas denúncias era sobre a conversão e ocupação irregular de imóveis, que é considerada uma contravenção grave nos Estados Unidos.
Aqui é preciso destacar que a pandemia da Covid-19 pode ter “impulsionado” essa indústria de moradias irregulares em grandes cidades norte-americanas e também em outros países. Com os sucessivos lockdowns e com a forte crise econômica que se seguiu, muita gente acabou desempregada, o que criou um grande mercado para moradias de “baixo custo”, especialmente em Nova York. Sem melhores alternativas, muitos acabaram se mudando para esses porões irregulares sem fazer maiores questionamentos sobre a segurança dos imóveis.
Como é usual nas grandes e médias cidades norte-americanas, cidades como Nova York, Nova Jersey e Filadélfia, na Pensilvânia, possuem normas rigorosas para a construção e reforma de residências, especialmente em quesitos de segurança. Os norte-americanos tem uma longa tradição no uso de madeira na construção civil, um material altamente susceptível a incêndios. Antes da ocupação de qualquer imóvel – novo ou reformado, é necessária uma rigorosa inspeção por parte da administração municipal, distribuidoras de gás e de energia elétrica, além dos bombeiros.
Entre os principais itens fiscalizados nesses imóveis estão as tubulações de gás – usado para alimentar fogões, aquecedores de água e sistemas de calefação (para aquecimento nos meses de inverno); rede elétrica, sistemas de alarmes e combate aos incêndios. Existem casos onde o sistema de calefação utiliza óleo combustível, uma outra fonte potencial de incêndios e que requer cuidados especiais. Também é preciso destacar que em grandes cidades como Nova York é obrigatória a instalação de escadas externas para a fuga em caso de incêndio.
A ocupação de porões para uso residencial é bastante comum e até mesmo tradicional nas grandes e médias cidades norte-americanas. Esse tipo de construção segue normas próprias. Um ponto que destaco é que a entrada dos edifícios e casas onde existem apartamentos em porões ou no subsolo é sempre elevada em relação ao nível da rua.
Para acessar esses imóveis, primeiro se sobem alguns degraus até se chegar à porta e/ou hall de entrada do prédio, e só depois se chega as escadas que dão acesso aos apartamentos no pavimento inferior. Esse é um cuidado construtivo que evita que uma eventual enchente possa inundar os imóveis que estão em um nível abaixo da rua. Em obras irregulares, esses cuidados não são tomados e os imóveis ficam expostos a alagamentos em caso de enchentes.
Como é usual no Sistema de Justiça dos Estados Unidos, todas essas mortes serão exaustivamente investigadas e os eventuais responsáveis – onde se incluem locadores e proprietários dos imóveis, construtoras, corretores de imóveis e funcionários das Prefeituras, entre outros, serão chamados a dar explicações e, em caso de culpa, serão processados e presos. Aqui no Brasil estamos acostumados a ver tragédias semelhantes acontecerem e ninguém é responsabilizado.
Mudanças climáticas que estão se desenrolando em todo o mundo por causa do aumento das temperaturas do planeta estão aumentando tanto a frequência quanto a letalidade de tempestades e furacões. Entre outras providencias, serão necessários investimentos multibilionários para preparar nossas cidades para eventos climáticos extremos como o Ida.
Além da falta de recursos, um problema crônico da maioria das cidades do mundo, poderá faltar tempo hábil para se concluir todas essas obras e, assim, evitar que tragédias como essa que se abateu sobre o Nordeste dos Estados Unidos se repitam.
[…] O RASTRO DE DESTRUIÇÃO DEIXADO PELO FURACÃO IDA NA REGIÃO NORDESTE DOS ESTADOS UNIDOS […]
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