INCÊNDIOS FLORESTAIS NA ITÁLIA BATEM RECORDE EM 2021

De acordo com informações do EFFIS– Sistema Europeu de Informações sobre Incêndios Florestais, na sigla em inglês, os incêndios na Itália do início do ano até agora já destruíram mais de 140 mil hectares de áreas verdes. Em todo o ano de 2018, foram perdidos 14 mil hectares; em 2019, mais de 37 mil hectares. No ano de 2020 as perdas foram de 53 mil hectares

A se manter essa tendência, o ano de 2021 irá bater o recorde de incêndios florestais no país, estabelecido no ano de 2017, quando foram destruídos cerca de 141 mil hectares de áreas verdes. Essa área equivale a soma dos territórios de Veneza, Genova, Turim, L`Aquila e Nápoles. 

As regiões mais atingidas pelas chamas são a Sicília, a Calábria e a Sardenha. Em uma postagem anterior comentamos que foi registrada a inacreditável temperatura de 47,8º na Sicília na semana passada. Com altas temperaturas e baixa umidade do ar, basta uma pequena fagulha para se iniciar um incêndio de grandes proporções. De acordo com o EFFIS, a Itália está sendo o país europeu mais afetado por incêndios neste ano. 

Segundo a Associação Legambiente, uma organização ambientalista italiana, os incêndios florestais no país mataram cerca de 20 milhões de animais apenas nos dois últimos meses. São veados, esquilos, ouriços, tartarugas, lagartos e pássaros, entre outras espécies, que ficaram cercados pelas chamas ou que foram intoxicados pela densa fumaça

Essa estimativa de animais mortos é calculada em função da área total queimada, concentrada especialmente nas regiões do Sul da Itália. Cerca de 55% dos incêndios florestais do país estão concentrados na Campania, Apúlia, Calábria, Sardenha e Sicília.  

Meados do mês de agosto na Itália é sempre marcado por altas temperaturas. Os italianos chamam esse período de “Ferragosto”. Normalmente, esse pico de altas temperaturas costuma durar poucos dias. Esse ano, entretanto, as altas temperaturas vem se apresentando desde junho, atingindo as regiões mais meridionais da península italiana.  

De acordo com os meteorologistas, “essa frente de alta pressão viaja do Saara ao Mar Mediterrâneo e chega à Itália trazendo umidade”. Segundo as previsões, essa onda de calor deverá atingir toda a Itália, se deslocando inclusive para as regiões mais ao Norte. 

Um exemplo da violência dos incêndios florestais na Itália esse ano foi visto no início deste mês na cidade de Pescara, no Sul do país. Uma espessa nuvem de fumaça se abateu sobre a praia, assustando centenas de turistas (vide foto). Moradores da região e turistas tiveram de ser evacuados pelos serviços de emergência, sendo que 30 pessoas foram hospitalizadas por conta de intoxicação por fumaça. 

Outro caso dramático foi o que ocorreu na região de Oristano, no Oeste da Sardenha. Cerca de 200 hectares de florestas foram destruídos em poucas horas pelas chamas. Cerca de 800 moradores da região tiveram de ser evacuados pelos serviços de emergência locais.  

No dia 13, um grande foco de incêndio passou a ser combatido pelos bombeiros na região de Tivoli, que fica a cerca 40 km de Roma. Desde o último dia 15 de junho, os bombeiros italianos já receberam mais de 37 mil chamadas comunicando a ocorrência de incêndios. No dia 1º de agosto foram contabilizadas 1.500 chamadas. De acordo com a Coldiretti, uma das maiores associações de agricultores do país, pelo menos 60% desses incêndios tem origem criminosas

Dois incendiários foram presos no dia 2 de agosto em Troina, uma cidade localizada na região central da Sicília. Nessa região estão sendo construídas usinas de geração eólica e as autoridades locais suspeitam que as empresas responsáveis pelo empreendimento podem estar por trás dos incêndios. A lógica que está sendo seguida pelos policiais é simples – com as matas queimadas, o preço das terras tende a cair, algo que facilitaria a compra de terras para a expansão das usinas. 

O Governo italiano promulgou uma lei no ano 2000 que proíbe a mudança do uso de áreas atingidas por incêndios florestais durante os 15 anos seguintes ao incêndio, justamente para evitar o uso dessa estratégia por grandes fazendeiros e empresários. Porém, cabe as autoridades de cada região aplicar ou não essa legislação. 

Além das condições climáticas propiciarem a rápida propagação de incêndios florestais e das ações criminosas, os bombeiros italianos também estão sofrendo com a falta de recursos financeiros, com a falta de pessoal e com inúmeros problemas burocráticos. Para completar o quadro de problemas, uma lei promulgada em 2016, fundiu o CFS – Corpo Florestal do Estado, com os carabinieri, a polícia militar italiana. Bombeiros acostumados a trabalhar apenas com incêndios em áreas urbanas passaram a trabalhar também em áreas florestais e vice-versa. 

O grande aumento das áreas de bosques e matas na Itália nos últimos 30 anos, o que seria uma ótima notícia para o meio ambiente, também está se voltando contra os bombeiros. A Itália aumentou suas áreas verdes em cerca de 25%, passando de 9 milhões para 11,4 milhões de hectares, uma cobertura vegetal correspondente a mais de 38% do seu território.  

Esse aumento na cobertura florestal da Itália não se deve a qualquer política pública ou programas de reflorestamento. A principal razão é o declínio das atividades agrícolas no país e a migração da população rural – especialmente os jovens, para as áreas urbanas. Sem a pressão da agricultura, as florestas começaram a recuperar suas áreas perdidas para os campos agrícolas. 

O que seria uma grande notícia a ser comemorada em tempos de aquecimento global e mudanças climáticas, acabou se transformando em um grande problema para o país. Com a falta de uma infraestrutura adequada para o combate aos incêndios florestais, esse aumento nas áreas verdes do país passou a representar mais combustível para as chamas e mais problemas para a população. 

Cadê os defensores da Floresta Amazônica, que não estão vendo uma barbaridade dessas acontecer em seu “próprio quintal”? 

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