OS “DIAMANTES DE SANGUE”

Mineração na África

Diamantes são minerais de extrema dureza, constituidos basicamente por moléculas de carbono, forjados sob alta temperaturas e pressão extrema. A palavra diamante vem do grego adámas, que significa “invencível” Os primeiros registros históricos sobre os diamantes vem da Índia e da Mesopotâmia, por volta do ano 4.000 a.C., onde estas pedras brancas eram usadas na fabricação de artefatos rituais, especialmente em amuletos masculinos – o diamante era associado à virilidade. 

Consta que a primeira joia a ser adornada com um diamante foi o anel de noivado dado à duquesa Maria de Borgonha, uma nobre francesa, em 1477. O impacto que essa pedra brilhante provocou em meio aos nobres da época criou uma magia e um magnetismo que não pararam de crescer até os nossos dias. Nos dias atuais, diamantes de alta qualidade são vendidos a valores na casa de milhões de dólares – em alguns casos, esses valores superam a casa das dezenas de milhões de dólares. O recordista de preços da atualidade é o Oppenheimer Blue, um diamante azul que alcançou o valor de US$ 58 milhões em um leilão, sendo considerada a gema lapidada mais cara do mundo.

Os diamantes são classificados pelos especialistas pelo critério dos  “4 C’s”: color, clarity, carat e cut, que em português significa, respectivamente, cor, claridade, tamanho (peso) e corte (lapidação). Os diamantes mais raros e caros são os azulados e os rosados – diamantes amarelados são os mais comuns e, consequentemente, os menos valiosos. Uma das principais características dos diamantes é a sua leveza, algo importante para diferenciar uma pedra verdadeira de uma falsa. Um grande exemplo dessa leveza das gemas é o diamante Koh-i-Noor, da Coroa Britânica, que tem o tamanho de um limão galego e pesa menos de 22 gramas. 

Porém, por trás desse brilho e de todo o glamour, a mineração dos diamantes possui um lado negro e sombrio – parte considerável do garimpo mundial das gemas é feito ilegalmente, onde milhares de trabalhadores são levados aos limites da dignidade humana e trabalham, não raras vezes, sob a mira de fuzis (vide foto).  O comércio ilegal de diamantes é um dos principais financiadores de grupos armados, exércitos revolucionários, ditadores sanguinários e de grupos terroristas em todo o mundo, especialmente no continente africano.  

A mineração de diamantes é “barata”, custando entre US$ 2.00 e US$ 15.00 por quilate. As pedras brutas são facilmente comercializadas através de um seleto grupo com cerca de 150 compradores intermediários, onde os preços se multiplicam facilmente. Por fim, existem dois grandes compradores finais das pedras, que não fazem muitas perguntas sobre as suas origens – a De Beers, uma gigantesca empresa da África do Sul, e o multimilionário russo Lev Leviev. Juntas, essas duas “entidades” controlam perto de 80% do comércio mundial de diamantes

De acordo com alguns cálculos, mais ou menos precisos, a mineração mundial de diamantes movimenta um volume anual de 26 mil toneladas em pedras, ou 130 bilhões de quilates, o que representa algo como US$ 9 bilhões. Cerca de 20% dessas pedras serão lapidadas e transformadas em, aproximadamente 70 milhões de jóias – principalmente anéis, colares, brincos, braceletes, gargantilhas e relógios. Esses produtos vão gerar vendas totais no valor de US$ 58 bilhões. Uma das receitas para esse “aumento mágico” entre o valor das pedras brutas e o das joias prontas é o uso cada vez maior da mão de obra de crianças indianas nos trabalhos de lapidação das pedras – elas recebem cerca de US$ 0.23 por quilate trabalhado

Percebam aqui uma sutileza numérica – observem que há uma grande distância entre o volume de pedras brutas vendidas e o número de diamantes que são lapidados, polidos e transformados em joias caríssimas. Diferentemente do que dizem os comerciais das grandes empresas joalheiras, os diamantes não são tão raros na natureza. Os grandes  grupos monopolistas, que mandam e desmandam neste mercado, estocam imensos volumes de pedras todos os anos, numa estratégia clara de elevar, artificialmente, os preços dos diamantes. Segundo a famosa Lei da Oferta e da Procura, quanto menor é a oferta de um produto, maiores serão os seus preços.

O continente africano possui grande parte das lavras ilegais de diamantes do mundo, onde milhares de trabalhadores, escravizados ou semi escravizados, são submetidos a jornadas exaustivas de trabalho e sem as mínimas condições de segurança e de higiene. Parte considerável desse exército “invisível” de trabalhadores é formado por mulheres e crianças. A busca das pedras é feita tanto em rios e outros cursos d’água, na técnica conhecida como mineração de aluvião, quanto em escavações subterrâneas, onde as entranhas da terra são cortadas e reviradas num trabalho sem fim. 

Os “senhores” dessas minas contratam seguranças armados para a fiscalização do trabalho – qualquer pedra preciosa encontrada deve ser, imediatamente, entregue a qualquer um deles. Caso haja qualquer desconfiança de desvio de gemas (alguém, por exemplo, engolir uma pedra), esses seguranças poderão abrir a barriga do suspeito a faca para se comprovar o roubo. Para as mulheres, os maiores riscos estão ligados aos abusos sexual, uma violência que também não costuma poupar as crianças. Graças a todo esse conjunto da obra, que mata e mutila incontáveis seres humanos, essas pedras costumam ser chamadas pelo nada agradável nome de “diamantes de sangue”. Destaques de uma lista de países que encabeçam a mineração ilegal de diamantes são Angola, Congo, Zimbábue, Libéria, Costa do Marfim e Serra Leoa, na África, além de países com grandes áreas controladas por guerrilheiros como a Colômbia e o Afeganistão. 

Para encerrarmos essa postagem, uma pequena amostra da violência oculta no comércio mundial de diamantes: Osama Bin Laden, milionário saudita que passou a financiar grupos terroristas islâmicos como a Al Qaeda , financiou parte da sua rede através da compra e venda diamantes ilegais. O ditador da Libéria, Charles Taylor, foi um dos principais fornecedores dos diamantes comprados por Bin Laden. De acordo com o escritor e jornalista americano Greg Campbell, autor do livro Blood Diamonds (Diamantes de Sangue), essa rede negociou US$ 20 milhões entre 1998 e 2001. Entre outras ações terroristas, esse dinheiro financiou o ataque ao World Trade Center em Nova York (as Torres Gêmeas), em 2001.

Na próxima postagem, vamos falar dessa “mineração” de diamantes na África e de todos os problemas político, sociais e, especialmente, ambientais criados por elas. 

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