ESTUDO INDICA QUE TURBULÊNCIAS EM VOOS PODERÃO AUMENTAR ATÉ 149% POR CAUSA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS 

Eu conheço muita gente que gela de medo toda vez que precisa entrar num avião. Eu tinha um amigo de trabalho, que por força do cargo que ocupava, tinha de realizar viagens frequentes. O detalhe é que ele morria de medo de voar e cada uma dessas viagens tinha que ser obrigatoriamente precedida de uma parada num bar – ele só conseguia embarcar depois de algumas doses de conhaque ou whisky. 

Muitas dessas pessoas desenvolveram essa fobia por causa de fortes turbulências. Eu mesmo, que nunca tive qualquer problema para entrar em aviões, já passei por maus bocados em momentos de fortíssima turbulência. 

No final de 2017, publicamos uma postagem sobre um estudo publicado na revista Advances in Atmospheric Sciences que indicava que haveria um aumento severo das turbulências nos voos. Esses estudos projetavam um aumento da intensidade das turbulências em até duas vezes e meia até o final desse século. 

Essas turbulências surpreenderiam passageiros sem cintos, derrubando objetos dos bagageiros, coisas que são o pesadelo de quem tem medo de voar. Para desespero dos medrosos, a mesma publicação acaba de publicar uma nova pesquisa confirmando as suspeitas da pesquisa anterior. 

Nesse novo estudo, que foi liderado por Paul D. Williams, cientista da Universidade de Reading do Reino Unido, foi calculado o tamanho dos aumentos das turbulências. As turbulências leves deverão aumentar 59%; as turbulências moderadas deverão aumentar 94% e as temidas turbulências severas poderão aumentar até 149%. 

As turbulências durante os voos acontecem quando os aviões são atingidos por mudanças na velocidade e direção do ar quando duas correntes diferentes se encontram. Com as mudanças climáticas que já estão em andamento em todo o mudo estão alterando as velocidades e direções dos ventos, que tenderão a se tornar cada vez mais intensos. 

Os problemas também podem ser provocados por deslocamentos de ar provocado por descargas elétricas nas nuvens, mudanças bruscas na pressão atmosférica ou grandes diferenças na temperatura do ar. Algumas vezes, em voos com “céu de brigadeiro”, tripulantes e passageiros são surpreendidos com fortes turbulências devido à súbitos encontros de massas de vento com direções e velocidades diferentes. 

O problema é tão sério que motivará mudanças conceituais e estruturais no projeto e construção de novos modelos de aviões, além de forçar mudanças nos procedimentos operacionais dos voos. Essas mudanças vêm se juntar aos novos projetos de motores aeronáuticos sustentáveis, aonde as apostas vão do uso de hidrogênio á motores elétricos. 

Um exemplo que sempre citamos nas postagens aqui do blog são as mudanças climáticas que estão ocorrendo a “olhos vistos” no Oceano Índico. De todos os grandes oceanos do mundo, o Índico é o que, proporcionalmente, mais sofre com as interferências das mudanças climáticas na Antártida. De acordo com medições sistemáticas feitas desde 1880, as águas desse oceano já tiveram um aumento de 0,7º C na sua temperatura. 

Apesar de parecer muito pequeno, esse aumento está provocando importantes mudanças nos volumes e na frequência das massas de nuvens de chuvas que se formam sobre o Oceano Índico e que se dirigem para o Sul e Leste da África, e também na direção do Sul e do Sudeste da Ásia. Na África, essas mudanças estão provocando forte secas. No Sul e no Sudeste da Ásia estão alterando o ritmo das importantes Chuvas da Monção. 

O problema se dá justamente devido a mudanças nas velocidades e nas direções das correntes de ar geradas sobre esse oceano. As grandes correntes de ar que circulam em nossa atmosfera são geradas pelas diferenças de temperatura e pressão da atmosfera do planeta – mudanças climáticas como as que estão ocorrendo no Oceano Índico estão alterando esses fatores. 

Um sintoma bastante sutil do que está acontecendo na nossa atmosfera é o surgimento de novos tipos de nuvens. O Atlas Internacional das Nuvens, publicação de referência para os estudos meteorológicos, incorporou doze novos tipos de nuvens. Algumas dessas nuvens foram criadas por ações antrópicas e estão associadas as mudanças climáticas. 

Uma dessas novas nuvens ganhou o simpático nome de “asperitas”, palavra em latim que está na raiz da palavra aspereza. São nuvens que se formam em baixas altitudes a partir do choque e sobreposição de duas massas de ar com temperatura e densidade diferentes. A parte de baixo dessa nuvem apresenta movimentos que lembram as ondas de um mar revolto. 

Outro exemplo é a “homogenitas”, formada por uma classe inteira de nuvens criadas por ações humanas, incluindo o rastro de vapor de água que é deixado pela passagem de aviões a jato. As nuvens “cavum” possuem um buraco no meio, chamado “murus”, e flutuam abaixo de tempestades intensas, que volta e meia se tornam parte dos tornados. 

Como as mudanças climáticas atingiram um ponto irreversível, a atmosfera do planeta vai passar por uma série de mudanças e voar nunca mais será a mesma coisa. Além de novas concepções estruturais e nos sistemas de propulsão, os novos aviões precisão voar em altitudes cada vez maiores para minimizar os problemas. 

E quem já se descabela atualmente pensando na altitude em que o avião está voando, fatalmente vai entrar em desespero ao imaginar que, em bem pouco tempo, as aeronaves terão de voar em altitudes ainda maiores. 

Se serve de algum consolo para esses medrosos, as mudanças climáticas também estão provocando mudanças nas correntes marítimas, um problema que poderá deixar alguns trechos dos oceanos bem mais agitados – tentar viajar de navio para fugir dos voos poderá não ser uma ideia tão boa assim… 

Como sempre comentamos em nossas postagens, as mudanças climáticas vão nos forçar a fazer mudanças em nossas infraestruturas, em nossas tecnologias de produção de bens, produtos e alimentos, em nossos hábitos de vida, entre outros. Mudanças nos aviões e nos procedimentos de voo serão apenas mais uma dessas mudanças inevitáveis. 

1 Comments

Deixe um comentário