ANIMAIS EXTINTOS DA FAUNA BRASILEIRA 

O processo de “desextinção” do tigre-da-Tasmânia, que está sendo desenvolvido por pesquisadores da Escola de Biociências da Universidade de Melbourne e sobre o qual falamos na última postagem, poderá resultar em uma série de tecnologias que poderão ser usadas para o resgate de outras espécies já extintas e, principalmente, para a salvação de espécies seriamente ameaçadas de extinção. 

Existem milhares de espécies ameaçadas em todo o mundo. Aqui no Brasil, de acordo com informações do ICMBIO – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, existem 1.173 táxons ou grupos de animais ameaçados oficialmente. São 110 mamíferos, 234 aves, 41 anfíbios, 353 peixes ósseos (310 de água doce e 43 marinhos), além de 299 invertebrados

Na classificação do ICMBIO 448 espécies são consideradas Vulneráveis (VU), 406 Em Perigo (EN) e 318 Criticamente em Perigo (CR). A parte mais triste é que várias espécies já foram consideradas oficialmente extintas. Segue um breve resumo com algumas dessas espécies: 

Maçarico-esquimó (Numenius borealis) 

Ave migratória que era abundante até meados do século XIX. O declínio populacional teve início por causa da caça intensiva nos Estados Unidos, além da destruição das Pradarias norte-americanas e dos Pampas da América do Sul. Os últimos registros da espécie na América do Norte datam do período entre 1987 e 1992. No Brasil, onde a espécie é considerada Regionalmente Extinta, não foi feito nenhum avistamento desde 1930. 

Essas aves faziam migrações anuais entre o Canadá e a Argentina, realizando várias paradas para descanso e alimentação dentro do território brasileiro, especialmente em áreas de estuários, alagados e brejos. É possível que ainda existam exemplares vivos da espécie em outros países ao longo da rota de migração ancestral. 

Rato-de-Noronha (Noronhomys vespuccii

Essa espécie era endêmica da Ilha de Fernando de Noronha e pode ter sido o primeiro mamífero do país a ser extinto ainda no século XVI. A provável causa da extinção dessa espécie foi a introdução involuntária de ratos das espécies Mus musculus, mais conhecidos como camundongos, Rattus rattus e Rattus norvegicus, conhecidos popularmente como ratazanas e gabirus.  

Esses ratos invasores embarcaram como clandestinos nas naus dos primeiros colonizadores portugueses e, ao desembarcarem na ilha, iniciaram um processo de competição pelos recursos naturais. A espécie só se tornou conhecida a partir do estudo de restos fósseis encontrados na ilha. 

Caburé-de-Pernambuco (Glaucidium mooreorum) 

Essa pequena coruja (vide foto) era encontrada em área úmidas do litoral de Pernambuco. O último avistamento documentado da espécie se deu em 1980 e houve um registro sonoro em 1990. A intensa degradação da Mata Atlântica é a principal causa da extinção da espécie. 

Limpa-folha-do-nordeste (Philydor novaesi) 

Outra espécie de ave do trecho nordestino da Mata Atlântica que desapareceu por causa da destruição do seu habitat. Era encontrada entre os estados de Alagoas e de Pernambuco. Seu último avistamento data de 2013. 

Gritador-do-nordeste (Cichlocolaptes mazarbarnetti

Essa espécie de ave era encontrada na mesma região em que vivia o limpa-folhas-do-nordeste e desapareceu pelas mesmas razões. Nenhum exemplar da espécie voltou a ser avistado desde 2007. 

Arara-azul-pequena (Anodorhynchus glaucus) 

Essa espécie era encontrada numa faixa entre o Leste do Paraguai, o Norte da Argentina, o Oeste do Uruguai e o Sul do Brasil. Já em meados do século XIX passou a ser considera rara na natureza e o último avistamento aqui no Brasil se deu em 1912. Além da intensa destruição das áreas florestais dessa região por causa das atividades agropecuárias, a espécie era intensamente caçada para venda como animal de estimação. 

Peito-vermelho-grande (Sturnella defilippi) 

Essa ave era encontrada no Sul do Brasil e também na Argentina e Uruguai. O último avistamento da espécie no Brasil se deu há mais de cem anos. A destruição de matas e campos para a criação de áreas agrícolas e pastos para a pecuária é considerada a principal causa da extinção local da espécie. 

Tubarão-dente-de-agulha (Carcharhinus isodon

Essa é uma espécie costeira de médio porte que era encontrada ao longo da costa do Oceano Atlântico desde os Estados Unidos até o Sul do Brasil. Nenhum exemplar da espécie foi avistado no país há mais de 40 anos. A pesca de arrasto é apontada como a principal causa da extinção. 

Além dessas espécies consideradas oficialmente extintas no país, é provável que muitas outras que desapareceram de nosso território ao longo de nossa colonização antes de serem catalogadas pela ciência. 

O caso mais emblemático é o da Mata Atlântica, especialmente no seu trecho nordestino, que foi, literalmente, dizimado ao longo dos três primeiros séculos de nossa colonização. Conforme já tratamos em inúmeras postagens aqui do blog, essa faixa da floresta que ia do Sul da Bahia ao Rio Grande do Norte foi derrubada sistemática e implacavelmente para a formação de grandes campos de cana-de-açúcar. 

Outros trechos da Mata Atlântica sucumbiram depois diante do avanço dos cafezais na Região Sudeste, da mineração em Minas Gerais, onde as árvores eram derrubadas e transformadas no carvão que alimentava os fornos das metalúrgicas e siderúrgicas, da exploração madeireira na Região Sul, entre outras causas. Quantas foram as espécies que habitavam essas matas e que desapareceram para sempre sem que saibamos? 

Além de todos os cuidados com a conservação dos remanescentes florestais onde muitas espécies ainda conseguem sobreviver, é preciso criar mecanismos para a ampliação das áreas protegidas e de criação de corredores de biodiversidade para a interligação de fragmentos florestais isolados

Dentro desses esforços de conservação de espécies, a simples perspectiva da criação de tecnologias que permitam a “desextinção” de uma espécie num futuro mesmo que distante sempre serão bem-vindas. 

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