
Entre os dias 1º e 12 de novembro, na cidade de Glasgow na Escócia, será realizada a COP26 – Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021. No encontro, líderes mundiais vão discutir a situação ambiental do planeta e, especialmente, os efeitos das mudanças climáticas. Vamos tratar desse tema em uma outra postagem.
Mais uma vez, nosso país vai chegar a esse encontro com um “telhado de vidro”. As grandes queimadas na Amazônia, que estão destruindo o “pulmão do mundo”, será uma espécie de mantra repetido incansavelmente contra nós. Segundo muitos críticos, celebridades e vários líderes mundiais, essas grandes queimadas estão na raiz das mudanças climáticas mundiais.
Somos, é claro, responsáveis por muitos desses pecados ambientais, porém, não podemos assumir responsabilidades pelos grandes erros dos outros países. De acordo com dados da Climate Watch, as emissões de gases de efeito estufa no Brasil correspondem a 2,9% das emissões mundiais, muito abaixo das emissões de países como a China, Estados Unidos e Índia.
De forma um tanto improvisada e as vésperas do início da COP26, o Governo Federal acabou de lançar o Programa Nacional de Crescimento Verde, uma parceria entre os Ministérios da Economia e do Meio Ambiente. A iniciativa vai incentivar propostas para o aumento da produção agropecuária com conservação ambiental. O Governo pretende vender a imagem de maior potência verde do mundo.
Sem discutir ou entrar nos objetivos políticos do anúncio, essa é uma questão que já deveria estar em pauta há muito tempo. Apesar de toda a devastação ambiental que já se abateu sobre o nosso território desde o início de nossa colonização – o que se passou com a maioria dos países do mundo, ainda dispomos de um patrimônio natural invejável.
Dependendo da fonte consultada, a cobertura florestal do Brasil está entre 56% e 63% do território, o que nos coloca no topo do ranking dos países com as maiores áreas florestais do mundo. Políticas governamentais que permitam desenvolver a agropecuária sem devastar ainda mais esse patrimônio natural serão sempre bem-vindas.
A agricultura sempre ocupou uma posição de destaque na economia brasileira, a começar pela produção de cana e de açúcar no período colonial. Segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a safra agrícola de 2021 deverá superar a marca de 260 milhões de toneladas. Na produção de proteína animal destacam-se a carne de frango, com mais de 13,8 milhões de toneladas, carne suína com produção de 4,4 milhões de toneladas e a carne bovina com 9,5 milhões de toneladas.
De acordo com cálculos feitos pela NASA – Administração de Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos, na sigla em inglês, a área total ocupada por lavouras no Brasil corresponde a cerca de 64 milhões de hectares ou aproximadamente 7,6% do território do país. Um dado extremamente relevante é que vem sendo observado um aumento da produtividade agrícola nos últimos anos sem aumentos expressivos na área ocupada. A pecuária e a criação de animais ocupam cerca de 221 milhões de hectares no Brasil segundo o IBGE.
Entretanto, a questão não fica limitada apenas à nossa eficiência na produção agrícola e pecuária. Já há muito tempo, nosso país adotou diversas políticas – especialmente na área energética, que nos colocam bem à frente de outras nações na questão ambiental. O uso do etanol ou álcool combustível é uma delas.
O Pró-Álcool – Programa Nacional do Álcool, foi criado em 1975 pelo Governo brasileiro como uma resposta ã grande crise do petróleo que o mundo vivia naquele período. Em outubro de 1973, os países membros da OPAEP – Organização dos Países Árabes Produtores de Petróleo, decretaram um grande embargo petrolífero, o que elevou rapidamente o preço do barril do produto de US$ 3.00 para US$ 12.00. Esse evento entrou para a história como o Primeiro Choque do Petróleo. Em 1979, o mundo viveria uma segunda crise, essa batizada de Segundo Choque do Petróleo.
O Brasil, que naquele momento passava por um vigoroso crescimento econômico – o chamado Milagre Econômico Brasileiro, foi fortemente impactado por essa crise. Perto de 80% do petróleo consumido no país era importado, o que causava uma enorme sangria nas reservas financeiras do país. Com o lançamento do Pró-Álcool e com a produção em massa de carros com motores adaptados para o uso desse combustível, o país ganharia uma razoável autonomia em relação a importação do petróleo.
No auge do Pró-Álcool, entre os anos de 1983 e 1988, mais de 90% de todos os automóveis vendidos no Brasil tinham motores a álcool. Estimativas falam que houve uma redução de até 40% na poluição do ar das grandes cidades há época por causa do uso crescente do etanol como combustível. O volume de recursos economizados com a importação de petróleo foi calculado em aproximadamente US$ 15 bilhões (em valores há época) ao longo dos dez primeiros anos de vigência do Pró-Álcool.
Ao final da década de 1990, com o fim de inúmeros subsídios para a compra de carros a álcool, esse número caiu drasticamente e apenas 1% dos carros novos tinham motores a álcool. Em 2003, com o desenvolvimento de veículos com motores flex – que funcionam tanto com etanol quanto com gasolina, o álcool combustível voltou a ganhar destaque como um combustível renovável.
Um outro importante aspecto da economia brasileira é o uso intensivo de energia elétrica produzida a partir de fontes hidráulicas. Contando com grandes rios e detendo cerca de 12% das reservas mundiais de água doce superficial (de rios e lagos), o Brasil sempre priorizou a construção de usinas hidrelétricas – 70% de toda a energia elétrica consumida no país vem de fontes hidroelétricas. Entre os grandes empreendimentos nesse setor destacamos as Usinas de Itaipu, Tucuruí e Ilha Solteira, entre muitos outros.
Nos últimos anos, o país vem assistindo um crescimento vigoroso de novos empreendimentos para a geração de energia renovável. A geração eólica é uma das que mais crescem, respondendo por cerca de 10% de toda a energia elétrica gerada no país. De acordo com informações da ABEEÓLICA – Associação Brasileira de Energia Eólica, a capacidade instalada do setor em setembro de 2020, era de 16,68 GW, com expectativa de chegar a 25,5 GW até 2024.
Outro destaque é a energia fotovoltaica. O Brasil atingiu a marca de 7,5 GW em 2020, o que equivale à metade da capacidade instalada da Usina Hidrelétrica de Itaipu. Também é importante incluir nessa lista a geração de energia elétrica a partir da queima de biomassa – especialmente do bagaço da cana-de-açúcar, que já responde por mais de 7% de toda a matriz elétrica do Brasil.
Apesar de todos os inegáveis problemas que temos na área ambiental, nosso país tem muito a ensinar aos outros países, especialmente em áreas como a produção de alimentos, geração de energia e também na produção e uso de combustíveis sustentáveis. Pena que somos absolutamente incompetentes na divulgação de nossos méritos.
O lançamento de Programa Nacional de Crescimento Verde há poucos dias da COP26 é uma prova inequívoca dessa nossa incompetência.
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