AS FORTES CHUVAS CHEGAM A BELO HORIZONTE 

Enquanto muitas regiões do país ainda estão sofrendo com os efeitos de uma seca prolongada, as chuvas começam a voltar gradativamente em outras, trazendo no seu encalço todo um conjunto de problemas. Nessa última segunda-feira, dia 18, uma extensa área entre a Região Metropolitana de Belo Horizonte e a Represa de Três Marias sofreu com a forte chuva. 

No início da noite, o INMET – Instituto Nacional de Meteorologia, já havia emitido um Alerta Laranja, informando que eram esperadas chuvas entre 30 e 60 mm em toda a região, com ventos intensos, riscos de corte no fornecimento da energia elétrica, quedas de árvores, riscos de alagamentos e de descargas elétricas. 

Na capital mineira, Belo Horizonte, choveu metade de todo o volume esperado para todo o mês de outubro em apenas três horas. De acordo com o balanço da Defesa Civil do município, o volume médio acumulado na cidade de 51,7 milímetros. A média histórica de precipitações no mês na cidade é de 104,7 mm. 

A região mais castigada com as fortes chuvas foi a Região Leste, onde o volume acumulado foi de 93,2 mm. Na sequencia as regiões Nordeste, com 61,2 mm, Oeste, com 59,2 mm e Centro-Sul, onde os volumes acumulados chegaram aos 57 mm. 

No volume acumulado mensal, considerando o intervalo entre os dias 1 e 18 de outubro, algumas regiões da cidade já receberam um volume de chuvas duas vezes maior do que o esperado para todo o mês. Um desses casos é a Região Leste da cidade, onde o volume acumulado já atingiu a marca dos 219,2 mm. 

Por mais animadoras que as notícias dessas chuvas sejam em um momento em que muitas regiões estão sofrendo com uma escassez hídrica histórica, somos obrigados a lembrar que as cidades brasileiras não estão preparadas para conviver com fortes chuvas. Belo Horizonte, que historicamente sofre com enchentes a cada chuva mais forte, apresentou inúmeros pontos de alagamentos. 

A Defesa Civil interditou três avenidas da cidade por risco de alagamento. Uma dessas vias foi a Rua Joaquim Murtinho, no bairro Santo Antônio, onde eram visíveis os grandes volumes de lixo e resíduos sendo arrastados pelas fortes enxurradas. 

Belo Horizonte foi uma cidade planejada e construída especialmente para sediar o Governo de Minas Gerais. A região escolhida para o empreendimento foi uma grande planície que se estendia entre as Serras do Curral e de Contagem, com uma altitude de 800 metros e um clima agradável. A inauguração da cidade se deu em 12 de dezembro de 1897. Já em seus primeiros anos de vida, a população de Belo Horizonte chegou aos 10 mil habitantes. 

O principal curso d`água da cidade é o Ribeirão dos Arrudas, que tem suas nascentes na Serra do Rola Moça e que deságua no rio das Velhas. Ao longo do seu curso de cerca de 40 km, o Ribeirão Arrudas recebe contribuições de uma infinidade de córregos: Jatobá, Barreiro, Bonsucesso, Cercadinho, Piteiras, Leitão, Acaba Mundo, Serra, Taquaril, Navio-Baleia, Santa Terezinha, Ferrugem, Tijuco e Pastinho, entre muitos outros. 

Assim como aconteceu em outras grandes cidades brasileiras, o rápido crescimento da população de Belo Horizonte resultou numa ocupação desordenada dos solos urbanos. Áreas de várzeas foram aterradas para a criação de novos terrenos para a especulação imobiliária, córregos tiveram seus cursos retificados e restritos a canais com paredes de concreto. Outros tantos cursos d`água foram canalizados e tiveram suas antigas várzeas transformadas em avenidas de fundo de vale

Os grandes “milagres” da urbanização transformaram Belo Horizonte na terceira maior metrópole do país e centro de uma importante região metropolitana. Esse crescimento todo, é claro, teve um grande custo ambiental e, nos períodos de chuva, a natureza sempre lembra de “mandar a fatura”. 

Todos os anos, a cidade é palco de enchentes catastróficas no período das chuvas. Muitas das enchentes recorrentes têm endereço certo como longos trechos da Avenida do Contorno e da Avenida Andradas, vias construídas na antiga várzea do Ribeirão dos Arrudas. A temporada de chuvas deste ano, ao que tudo indica, será acompanhada pelas grandes enchentes de sempre. 

Outra cidade próxima que foi fortemente castigada por chuvas nesse mesmo dia foi Ouro Preto, localizada a cerca de 100 km de Belo Horizonte. A cidade histórica e antiga capital do Estado registrou um volume total acumulado de 220 mm em poucas horas. Os rios Maracujá e Cachoeira do Campo transbordaram, causando uma série de transtornos. 

Em vários bairros localizados próximos das margens desses rios, os moradores foram obrigados a subir nos telhados das casas para fugir das fortes correntezas criadas pela enchente. De acordo com a Defesa Civil, pelo menos 25 famílias tiveram de ser removidas de suas casas e abrigadas em uma escola pública. 

No distrito de Cachoeira do Campo, a enchente tomou conta das ruas em poucos minutos, com o nível da água atingindo a marca de 1,5 metro. Um rio de lama tomou conta das ruas locais e das casas. Segundo relatos dos moradores, essa foi a “uma das piores enchentes de todos os tempos” na localidade. 

Como sempre acontece nessas situações, moradores tiveram as suas casas invadidas e destruídas pelas águas das enchentes, pela lama e também pelo lixo trazido pela enxurrada. Carros foram arrastados e danificados, muitos inclusive sendo considerados como perda total. Governantes e funcionários públicos repetiram mais uma vez exaustivos discursos, afirmando que inúmeras providencias e ações preventivas foram tomadas para evitar os transtornos e prometeram redobrar os esforços no futuro. 

Felizmente, até onde foi possível acompanhar nos relatos das chuvas desse dia, não foi registrada nenhuma morte por afogamento ou por desabamento de alguma construção. Porém, quando fazemos um retrospecto dos anos anteriores, essas são tragédias anunciadas e com hora marcada, e que fatalmente farão suas vítimas nos próximos eventos. 

Chuvas de verão em um país de clima essencialmente tropical como o Brasil são mais do que esperadas e, o mínimo que se pode prescindir é que nossas cidades tenham uma infraestrutura adequada para suportar grandes volumes acumulados em poucas horas. Por mais elementar que isso possa parecer, não é o que acontece. 

Entra ano, sai ano e as tragédias continuam a se repetir.  Lamentavelmente, notícias sobre enchentes, alagamentos, desabamentos de encostas de morros e outros problemas ligados à temporada de chuvas de verão voltarão a ocupar postagens aqui do blog nessa e outras temporadas de chuva. 

Quem sabe, ainda veremos chegar um dia em que tais notícias serão lembranças de um passado distante…

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