COMO ANDA A SECA NO SERTÃO NORDESTINO?

Regiões do Brasil Central estão passando por uma fortíssima seca. Importantes rios como os formadores da bacia hidrográfica do Alto Rio Paraná estão apresentando caudais bastante reduzidos. Represas de importantes usinas hidrelétricas estão com níveis perigosamente baixos, o que ameaça a geração de energia elétrica no país. 

Felizmente, a temporada das chuvas na Região Centro-Sul está começando e, gradativamente, a situação mostra sinais de reversão. Especialistas ainda não tem certeza se essa temporada de chuvas será intensa o suficiente para resolver todos os problemas de escassez hídrica de uma só vez, mas, a esperança “é sempre a última que morre” como diz aquele velho ditado. 

Com toda essa atenção na seca do Brasil Central, o nosso bom e velho Sertão Nordestino, famoso historicamente por assistir a períodos antológicos de seca, parece ter ficado um pouco de lado. Por lá também a seca tem mostrado as suas garras e muitas regiões tem convivido com a falta de água. 

A região conhecida oficialmente como Semiárido Brasileiro ocupa uma área com quase 1 milhão de km² dentro de Estados da região Nordeste, além de uma faixa ao Norte do Estado de Minas Gerais. O bioma Caatinga é o maior sistema florestal que cobre toda essa imensa região, dividindo espaço com o Agreste, formação intermediária entre a Caatinga e a Zona da Mata, e o Alto Sertão, localizado entre a Caatinga e o Cerrado. 

A área do Semiárido Brasileiro corresponde a 18,2% do território do Brasil e a cerca de 53% da área da Região Nordeste. No total 1.133 municípios têm seus territórios inseridos nessa região, onde vivem mais de 22 milhões de pessoas (algumas fontes falam de 30 milhões de habitantes), ou seja, cerca de 10% da população do país. São números impressionantes assim como o tamanho dos problemas. 

Devido a toda uma combinação de fatores geográficos e climáticos, o Semiárido é sujeito ciclos periódicos de grandes secas. Uma das mais trágicas foi a “Grande Seca” que se abateu sobre a região entre os anos de 1877 e 1879. Segundo as estimativas da época, o número de vítimas fatais ficou entre 400 e 500 mil mortes. Para que todos tenham uma ideia do tamanho da tragédia, a população da região do Semiárido Nordestino era de 800 mil pessoas há época. 

Outras secas marcantes na região foram as de 1915 e de 1932. Grandes obras literárias como os romances “O quinze”, de Rachel de Queiróz, e “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, imortalizaram personagens que viveram essas grandes tragédias. Toda a cultura nordestina está impregnada com toda uma sucessão de dramas pessoais das populações em diferentes ciclos de seca na região. 

De acordo com informações do Monitor de Secas, um processo de acompanhamento regular e periódico da situação da seca da ANA – Agencia Nacional de Águas, foi observado um avanço grave da seca nos Rio Grande do Norte nos últimos meses. Já o Leste do Maranhão e o Oeste do Piauí estão enfrentando uma seca moderada. 

Graças a chuvas acima da média, houve um recuo da seca moderada que assolava parte do litoral da Bahia e também no Leste de Pernambuco, região que passava por uma seca fraca. As áreas de seca sofreram um recuo em partes dos Estados de Pernambuco e do Piauí. Nos demais Estados Nordestinos as áreas de seca permanecem inalteradas. 

O território de Alagoas segue com áreas com seca grave, moderada e fraca, ocupando respectivamente 16%, 28% e 11% da área total do Estado. Apenas 43% da superfície do Estado está livre do problema. Em Sergipe, o menor Estado do Brasil, a área sujeita a seca moderada sofreu uma grande redução, passando de 28% para 14% da superfície total. As áreas sujeitas a seca grave permaneceram inalteradas, abrangendo cerca de 31% da superfície do Estado. 

A situação na Bahia é complicada – o Estado só ficou atrás de Minas Gerais e de Mato Grosso na soma total de áreas afetadas pela estiagem. Cerca de 567 mil km² de terras no Estado estão enfrentando o fenômeno com diferentes intensidades. 

O Ceará, Estado que historicamente sempre foi um dos mais susceptíveis ao fenômeno, está com 60% do seu território enfrentando problemas de escassez hídrica. Para efeito de comparação, a área total que enfrentava o problema em janeiro de 2020, correspondia a 28% da superfície do Estado, o que mostra como houve um agravamento da situação desde então. 

No Maranhão, cerca de 70% da superfície do Estado está enfrentando problemas com a seca, sendo 41% com seca moderada e 29% com seca fraca. Cerca de 30% da superfície do Estado segue livre do fenômeno. Há cerca de um ano atrás, apenas 4% da superfície do Estado apresentava sinais de seca grave. 

A área que apresenta sinais de seca grave na Paraíba sofreu um leve aumento, passando de 26% para 27% da superfície do Estado. Em Pernambuco, cerca de 1% da superfície do Estado está enfrentado seca grave – 64% e 21% do Estado enfrentam, respectivamente, seca moderada e fraca. A área de seca no Estado subiu de 7% para 12% entre os meses de julho e agosto. 

No Piauí, as áreas livres de seca sofreram um ligeiro aumento, passando de 13% para 14% do território do Estado. As áreas sujeitas a seca moderada passaram de 57% para 62% e as áreas com seca grave se mantiveram na casa de 8% da superfície do Estado. 

Conforme já comentamos, o Rio Grande do Norte foi o Estado que mais sofreu com o agravamento das áreas sujeitas a seca grave nos últimos meses. Essas áreas passaram de 38% para 52% da superfície do Estado. Essa é a maior área com seca grave no Estado desde 2018. 

A seca é um fenômeno “natural que sempre fez parte das “paisagens” do Semiárido Brasileiro. Conforme já comentamos em inúmeras postagens anteriores, a ocupação gradativa dos Sertões por populações humanas e por atividades agropecuárias contribuiu muito para a amplificação do fenômeno. Um exemplo sempre lembrado aqui foi a queima constante de grandes extensões da Caatinga para a ampliação das áreas de pastagens para o gado. 

Uma das formas mais eficazes para amenizar as graves consequências dos graves ciclos de seca na região são as obras de segurança hídrica como canais, açudes, perfuração de poços, instalação de usinas para a dessalinização da água (muitas das fontes de águas subterrâneas da região são salobras), sistemas de transposição entre bacias hidrográficas, entre muitos outros. 

A ˝trancos e barrancos˝ são muitos os projetos que se encontram em andamento na região, mas muita coisa ainda precisa ser feita. Em pleno século XXI, é inconcebível que grandes áreas do Semiárido Nordestino ainda tenham os mesmos problemas de escassez hídrica de séculos atrás. 

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