Foi encerrada neste domingo, 15 de dezembro, a COP 25 – Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas. Inicialmente, a COP 25 estava prevista para ocorrer no Brasil – a eleição do Presidente Bolsonaro e desentendimentos sobre o futuro das políticas para o meio ambiente no Brasil levaram a uma mudança da sede das reuniões para o Chile. As grandes manifestações e tumultos sociais no país andino, por sua vez, levaram à transferência da reunião para Madrid, capital da Espanha.
Se a fase preparatória da COP 25 já havia sido bastante tumultuada, as conferências não foram as melhores. As delegações de quase 200 países não conseguiram chegar a um acordo que poderia acelerar as metas estabelecidas no Acordo de Paris. Também não se chegou a um consenso sobre a regulamentação do mercado global de créditos de carbono, um tema de grande relevância e interesse para o Brasil. Organizações ambientalistas internacionais, inclusive, acusaram o Brasil de estar interessado unicamente nos recursos dos créditos de carbono.
O Brasil foi tratado como um dos grandes vilões do clima mundial desde o começo das reuniões, sendo colocado no mesmo patamar de China e Estados Unidos, os maiores poluidores do planeta. Este tratamento não foi nenhuma novidade após o intenso bombardeio midiático que o país sofreu na recente crise das queimadas da Amazônia. Para quem não lembra, fotos e vídeos de grandes queimadas na maior floresta equatorial do mundo começaram a se multiplicar nas redes sociais e noticiários dos grandes telejornais alguns meses atrás, mostrando que a Amazônia estava em chamas e que só restariam as cinzas.
Ricardo Salles, Ministro do Meio Ambiente do Brasil, lamentou a falta de acordo e afirmou que a “COP 25 não deu em nada” e que acabou prevalecendo o “protecionismo” de alguns países. Segundo ele, acabou “prevalecendo uma visão protecionista de fechamento do mercado e o Brasil e outros países que poderiam fornecer créditos de carbono em razão das suas florestas e boas práticas ambientais saíram perdendo.”
A emissão de gases de efeito estufa, especialmente o dióxido de carbono, é a principal causa do aquecimento global e das mudanças climáticas. Esses gases são gerados por diversas atividades humanas, especialmente a queima de combustíveis fósseis como o carvão e os derivados de petróleo, atividades industriais, queima de florestas para a abertura de campos agrícolas, entre outras. Uma das ambições frustradas da COP 25 era justamente a de se conseguir um compromisso mais incisivo dos países participantes no sentido de reduzir ainda mais as emissões desses gases e limitar o aumento da temperatura do planeta em um máximo de 2° C até o final desse século.
De acordo com informações do World Resources Institute, uma instituição global de pesquisa com atuação em mais de 50 países, os maiores emissores de gases de efeito estufa em 2016 foram a China, com 12.700 milhões de toneladas, os Estados Unidos, com 6.570 milhões de toneladas e a Índia, com 2.870 toneladas. Na sequência vem a Rússia, com 2.670 milhões de toneladas, o Japão, com 1.310 milhões de toneladas e o Brasil, com 1.050 milhões de toneladas. O primeiro país europeu a aparecer na lista é a Alemanha, com 918 milhões de toneladas.
Observem que o Brasil ocupa a 6ª posição da lista, mas está longe de ser o grande emissor de gases de efeito estufa que parte da mídia internacional tem citado. A Alemanha é 24 vezes menor que o Brasil e tem uma população 2,5 vezes menor. As emissões de CO² da Alemanha em 2016 foram de 918 milhões de toneladas. No mesmo ano, o Brasil emitiu 1,05 bilhão, pouco mais de 10% a mais – ou seja, comparando-se a área e as populações dos países, as emissões de gases de efeito estufa de cada alemão equivalem a de, pelo menos, dois brasileiros.
O World Resources Institute elaborou dois gráficos que mostram as emissões de gases de efeito de estufa pelos países entre 1850 e 2016. Uma análise mais atenciosa dos números mostra que as emissões de gases no período tiveram um crescimento constante, só apresentando interrupções significativas em 1930, quando teve início a Grande Depressão dos Estados Unidos, e em 1945, ano em que terminou a Segunda Guerra Mundial. Os grandes emissores de gases de efeito estufa sempre foram os grandes países industrializados como Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Alemanha, Japão e Rússia, entre outros. A China começa a ter destaque a partir do início da década de 1980 e o Brasil só aparece no final dessa mesma década.
O segundo gráfico elaborado por esse instituto, bem mais interessante na minha opinião, mostra o volume total de gases acumulados na atmosfera no mesmo período, com o nome e o volume por país. Entre 1850 e 2016, o grande vilão das emissões de gases de efeito estufa foram os Estados Unidos, com um volume de 577.578 milhões de toneladas. A China está em segundo lugar com emissões de 283.790 milhões de toneladas. Na sequência vêm a Rússia, com 184.224 milhões de toneladas, a Alemanha, com 112.506 milhões de toneladas, a Índia, com 99.578 milhões de toneladas, o Reino Unido, com 96.800 milhões de toneladas, o Japão, com 73.442 milhões de toneladas, a França, com 54.202 milhões de toneladas e a Ucrânia, com 44.195 milhões de toneladas.
Peço desculpas pela forma repetitiva que usei para apresentar os dados, mas fiz questão de mostrar em detalhes e reafirmar assim que nosso país está muito longe de ser o grande vilão do aquecimento global. Vejam que a França e a Alemanha, que hoje posam de mocinhos da ecologia, fizeram sua parte para chegarmos na situação em que estamos. Até a Ucrânia, um país de pouca relevância no cenário mundial, aparece na décima posição dessa lista.
De acordo com informações do SEEG – Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa, do Observatório do Clima, quase metade das emissões do Brasil em 2017 veio do desmatamento e queima de florestas. Isso mostra que as críticas internacionais ao desmatamento são corretas e que temos uma importante “lição de casa” a fazer. De resto, nossas emissões vêm dos escapamentos de milhões de automóveis, ônibus e caminhões, de milhares de chaminés de indústrias e de atividades na agricultura, nada muito diferente dos demais países do mundo.
Em nossa sociedade moderna, nos habituamos ao conforto dos nossos automóveis, da praticidade dos objetos e embalagens feitas de plásticos, das inúmeras maravilhas proporcionadas pela energia elétrica, especialmente daquela gerada em centrais termelétricas a carvão (vide foto). Nos países temperados, não podemos deixar de citar o conforto dos sistemas de aquecimento para os rigorosos meses de inverno. Já nos países tropicais, da comodidade proporcionada pelos ventiladores e pelos aparelhos de ar condicionado.
Por trás de tudo isso existe a queima de combustíveis fósseis para a geração de energia, uso de derivados de petróleo, produção agrícola, entre inúmeras outras fontes geradoras de gases de efeito estufa. Até mesmo para a construção de usinas hidrelétricas, existem emissões desses gases por causa do desflorestamento. Nenhum país industrializado quer abrir mão dessas conquistas.
Em países em forte desenvolvimento como China, Índia e Brasil, parcelas importantes das sociedades estão começando a ter acesso a alguns desses “confortos” da vida moderna e estão gostando. É aqui que a coisa pega – nosso planeta não é grande o suficiente para atender as demandas de tanta gente e será muito difícil encontrar um consenso entre os países para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
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