AGRICULTURA, CIVILIZAÇÃO E POPULAÇÕES INDÍGENAS

Agricultura Indígena

ÁGUA, VIDA & CIA (que agora tem um domínio próprio – ferdinandodesousa.com) é um blog onde apresentamos e discutimos diariamente problemas ambientais associados aos recursos hídricos. A água, que é um elemento essencial à vida, a cada dia está ficando mais rara, cara e poluída. Sistematicamente, um determinado tema dentro desse verdadeiro universo é escolhido e as ideias para postagens vão surgindo e sendo escritas ao longo de várias semanas. 

Água e agricultura é o tema que vem sendo desenvolvido nas últimas semanas e, nas postagens mais recentes, discutimos sobre os problemas associados à atividade na região da Caatinga nordestina. E conforme as postagens vão sendo publicadas, novas ideias e linhas de pesquisa vão aparecendo – no caso da Caatinga, avançamos um pouco na temática e falamos do avanço da pecuária no bioma. Na última postagem, onde fizemos uma espécie de resumo dos problemas de água, agricultura, pecuária e superpopulação na Caatinga, surgiu uma dúvida: os indígenas que vivem na região a milhares de anos, conforme citamos no texto, provocaram ou não impactos ambientais? E a resposta que surgiu é Sim – vamos entender isso: 

Apesar de a maioria de nós não gostar muito da ideia, os seres humanos são animais (bem inteligentes, é claro) com necessidades básicas como todos os outros – a alimentação é uma delas. Para se manter vivo, um homem adulto precisa consumir, em média, entre 2.500 e 3.000 calorias/dia em alimentos; no caso das mulheres, esse consumo médio é um pouco menor, ficando numa faixa entre 2.000 e 2.500 calorias/dia. A origem dos alimentos e/ou das matérias primas usadas na sua produção vêm, é claro, do meio ambiente

Uma pequena população, como a de uma tribo indígena isolada no meio da Caatinga, provocará um impacto ambiental relativamente pequeno ao caçar, pescar ou plantar alimentos para seu consumo; numa cidade grande como a minha – São Paulo, as necessidades calóricas de uma população de mais de 11 milhões de habitantes são gigantescas e vão provocar enormes impactos ambientais locais, regionais e até nacionais. Esses impactos começam em pequenas propriedades rurais em áreas nos extremos da cidade, onde se produzem verduras e legumes no chamado “cinturão verde”,  e vão até regiões distantes do Brasil e de países vizinhos, onde grande parte da produção de alimentos é exportada para a grande cidade do Planalto de Piratininga. 

Observem nessa exposição que os “paulistanos”, tanto os nativos quanto os que foram adotados pela grande cidade, não saem por aí queimando matas, abrindo campos agrícolas, destruindo solos e fontes de água ou assoreando as calhas dos rios. Porém, indiretamente, existem centenas de milhares de trabalhadores rurais fazendo todas essas “coisas” em nome das necessidades calóricas das pessoas que vivem na Pauliceia. Um outro exemplo dessa “delegação” dos serviços de devastação ambiental para terceiros é o que ocorre com a soja, uma das commodities mais importantes do Brasil – mercados como a China e a Alemanha pagam verdadeiras fortunas pelos nossos serviços e produtos, que terão um “fim” muito nobre: a maior parte da soja comprada por esses países é transformada em ração para alimentar porcos – ou seja, destruímos algumas das florestas mais ricas em biodiversidade do mundo, consumindo solos e poluindo águas, para garantir que chineses e alemães tenham bacon e salsicha de qualidade em suas mesas. 

Aqui chegamos a um ponto de reflexão – a prática agrícola em larga escala é uma das marcas da “civilização” humana, ou seja, ser civilizado é destruir e queimar matas, plantar e produzir grãos e outros cultivares em larga escala, gastando para isso a maior parte das reservas de água de uma determinada região. De quebra, solos, fontes de água e rios acabam destruídos. Seguindo essa linha de raciocínio, os chamados “povos das florestas”, que vivem à margem da “civilização”, são defensores e protetores incondicionais das matas – os indígenas americanos, do Alasca até a Terra do Fogo, se enquadrariam nessa categoria. Ecologistas e ambientalistas de todo o mundo se valem dessa mítica relação entre esses povos e o meio ambiente e a usam como um mantra em suas “pregações” em defesa da natureza. 

Com o devido respeito a todos esses colegas ecologistas e ao seu trabalho, a história não é exatamente essa: vários grupos de “bons selvagens” queimaram e destruíram grandes áreas florestais nas três Américas e, com isso, provocaram grandes impactos nos solos,  nas águas e nas populações de inúmeras espécies animais e vegetais. A razão para essa destruição é bem simples: algumas dessas regiões chegaram a abrigar grandes populações, com dezenas de milhares ou até centenas de milhares de indígenas e, para se sustentar tantas bocas, grandes esforços agrícolas se fizeram necessários.

Na próxima postagem vamos detalhar melhor algumas histórias desses “índios destruidores de florestas”. 

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