Nas últimas publicações falamos sobre os impactos ambientais criados pela produção da cana-de-açúcar, que é a terceira maior cultura perene em nosso país, só perdendo em volume de produção e área ocupada para a soja e o milho. A cana-de-açúcar foi o primeiro cultivar a ser produzida em larga escala aqui no Brasil, já nos primeiros anos da colonização e ocupação efetiva das terras ao longo da costa. O açúcar era uma das mercadorias mais valiosas nos séculos XV e XVI e os portugueses dominavam como ninguém o seu processo de produção.
De acordo com testemunho de um viajante flamengo chamado Emilio van den Bussche, plantações de cana-de-açúcar existiam em Portugal desde o ano 1159. Com o avanço das navegações portuguesas e a descoberta de novos territórios, a cultura gradativamente passou a ser levada para essas novas terras: as primeiras mudas de cana-de-açúcar chegaram na Ilha da Madeira por volta de 1425, em 1460 ao arquipélago dos Açores e em 1493 nas ilhas São Tomé e Príncipe. À sombra dos canaviais seguiu-se a introdução da mão-de-obra escrava – braços e pernas africanos para movimentar as engrenagens da indústria açucareira.
No Brasil, conforme já apresentamos em postagem anterior, as mudas de cana-de-açúcar chegaram nas mesmas naus que trouxeram os primeiros colonizadores. Sem perder tempo, grandes áreas de mata começaram a ser derrubadas e queimadas, de forma a liberar “terras virgens” para a formação dos canaviais. Comerciante e traficantes de pau-brasil frequentavam as costas do país desde os primeiros anos após o descobrimento e as autoridades portuguesas e, especialmente, os navegadores, já tinham excelentes mapas e informações sobre os melhores locais da costa para a construção de “portos” para o escoamento da futura produção do açúcar. A foz do rio Capibaribe, nas proximidades do local onde foi fundada a cidade de Olinda, e a Baía de Todos os Santos, local escolhido para a construção da cidade de Salvador, são dois exemplos de locais abrigados e com condições ideais para a construção e operação de portos.
Toda a faixa costeira desde Santa Catarina (nos tempos do Tratado de Tordesillas, esse era o limite Sul da possessão portuguesa na América do Sul) até o Rio Grande do Norte era coberta pela Mata Atlântica, apresentando solos de altíssima fertilidade. Na região Nordeste, em particular, destacavam-se os solos de massapê. Na descrição de Josué de Castro em seu antológico Geografia da Fome, os solos de massapê apresentam “terra escura, gorda e pegajosa, que recobre em espessa camada porosa os xistos argilosos e os calcários do Cretáceo – é de uma magnífica fertilidade“. A formação desses solos foi o resultado da combinação da densa cobertura vegetal da Mata Atlântica com as características físico-químicas dos solos e um regime de chuvas equilibrado. Ao longo de vários séculos, essa combinação permitiu a formação de uma grossa camada de húmus com características bem particulares – o massapê.
Os colonizadores, homens de mentalidade renascentista e com conhecimentos científicos dos mais precários, não se importaram nenhum um pouco em estudar e conhecer melhor esse novo mundo de clima tropical e com uma temporada de chuvas torrenciais – a urgência de produzir e embarcar quantidades crescentes de açúcar para a Metrópole era a pauta de todos os dias. E, para que se preocupar com o amanhã, quando de dispunha de estoques incontáveis de matas para se derrubar e formar novas áreas para as plantações…
A erosão sistemática das terras passou a fazer parte das paisagens nordestinas – com as margens dos muitos rios completamente despidas de vegetação e com morros e vales sem a proteção das árvores, as abençoadas e fortes chuvas de verão se transformaram rapidamente em “ladras” de terras férteis, arrancando e arrastando para o leito dos rios as grossas camadas de massapê, fruto de um longo e minucioso trabalho da natureza. Os férteis solos, em poucos anos, se transformavam em campos empobrecidos, onde só o ralo capim brotava. Instituíram-se então as derrubadas rotineiras e sistemáticas de novos trechos de matas e a abertura de novas terras agricultáveis. E foi assim, em pouco mais de dois séculos, que o Trecho Nordestino da Mata Atlântica e as férteis terras de massapê desapareceram e se transformaram apenas em notas de rodapé nos livros de história.
Se você quer ter uma ideia de como era essa maravilhosa floresta que um dia já cobriu grande parte do litoral nordestino, recomendo uma viagem pela rodovia Rio-Santos – o trecho entre o litoral Norte do Estado de São e o Sul do Rio de Janeiro ainda preservam a Mata Atlântica à beira mar. Já os coqueirais das costas dos Estados da região Nordeste, esses surgiram a partir dos cocos trazidos da Índia e nada tem a ver com a nossa flora nativa.
A erosão e o carreamento de solos férteis pelas chuvas é, ainda hoje, um dos problemas mais sérios da agricultura. Continuaremos a falar disso na próxima postagem.
[…] AGRICULTURA, ÁGUA E A EROSÃO DOS SOLOS […]
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[…] país. Praticamente toda a cobertura florestal do país já foi destruída, expondo os solos a uma forte erosão pelas águas das chuvas e carreamento da camada fértil na direção dos corpos d’água. A forte declividade dos terrenos […]
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[…] durante esse prazo de desenvolvimento das plantas que começavam os problemas de degradação dos solos. Sem a proteção da densa vegetação das antigas matas, a camada fértil de humus, revestimento […]
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[…] dos intensos desmatamentos ocorridos em sua bacia hidrográfica. Um dos mais graves problemas é a erosão de solos e o carreamento de grandes volumes de sedimentos para as calhas do rio e de todos os seus […]
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[…] gerados pela pecuária, o carreamento de resíduos de fertilizantes e de defensivos agrícolas, erosão de solos, além dos despejos de esgotos domésticos e industriais sem tratamento e de resíduos sólidos […]
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[…] apresentarão os mesmos sinais de desertificação e de perda de fertilidade dos solos, além de perdas importantes por erosão. Em um planeta com recursos naturais cada vez mais limitados, esse é um problema gravíssimo, que […]
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