
Na última postagem falamos sobre a fortíssima seca que a Região Amazônica está enfrentando e de todos os problemas criados pelos grandes volumes de fumaça de queimadas que estão prejudicando, e muito, a qualidade do ar de cidades como Manaus.
Nas últimas horas, a Ministra do Meio Ambiente – Marina Silva, veio a público pedir que a população da região não faça queimadas, as tradicionais coivaras usadas para a preparação dos solos para o plantio de culturas de subsistência pelas populações mais pobres. Em suas palavras, essa é a principal fonte da fumaça que assola a região.
Sem querer polemizar sobre a questão, sempre comentamos aqui em nossas postagens que uma parte expressiva das “queimadas” da Amazônia que tanto preocupam o mundo vem dessas coivaras feitas por pequenos e pobres agricultores.
Um sintoma da situação da seca na Amazônia está estampado na situação do bom e velho rio Madeira, um dos principais afluentes do rio Amazonas. De acordo com informações da Defesa Civil do Estado de Rondônia, o Madeira atingiu o mais baixo nível já registrado desde os anos de 1950, ano em que começaram a ser feitas as medições – apenas 1,19 metro de profundidade.
Eu, particularmente, tenho um relacionamento bastante pessoal com esse rio – eu morei em Porto Velho, capital do Estado de Rondônia, por quase dois anos e me acostumei com a presença do Madeira nas paisagens locais. Na época das chuvas, com a cheia do rio, existia sempre o temor de um transbordamento e a inundação de áreas baixas da cidade e comunidades ribeirinhas.
Durante a vazante ou período da seca, as preocupações giram em torno das dificuldades de ligação fluvial com outras cidades da Amazônia. Diferentemente do resto do país, na Amazônia são os rios que assumem o papel de estradas para o transporte de passageiros e de cargas. Entre altos e baixos, nunca imaginei ver o rio nessa situação.
O rio Madeira tem uma extensão total de 3.315 km, o que o coloca na lista dos maiores rios do mundo. O rio Beni é o mais extenso formador do rio Madeira, com nascentes no alto da Cordilheira do Andes na Bolívia. Depois de atravessar um longo trecho do país vizinho, o rio Beni se encontra com os rios Mamoré e Guaporé, formando o rio Madeira na divisa do Brasil e da Bolívia.
O trecho inicial do rio Madeira, que tem 320 km entre a cidade de Guajará-Mirim e Porto Velho, apresenta inúmeros afloramentos rochosos, fortes corredeiras e quedas d’água, o que sempre foi um obstáculo para a navegação. Nesse trecho, o rio Madeira apresenta um desnível com cerca de 60 metros, com uma vazão média de 20 mil m³/s, características ideais para a instalação de grandes empreendimentos hidrelétricos. O trecho navegável do rio Madeira começa na cidade de Porto Velho e vai até a foz no rio Amazonas, numa extensão total de 1.086 km.
Conforme já tratamos em inúmeras postagens aqui do blog, a ocupação e formação do Estado de Rondônia está ligado ao ciclo da exploração do látex a partir de meados do século XIX. O rio Madeira já era naqueles tempos a principal via de acesso a Porto Velho e único corredor de saída para a exportação das valiosas pélas de látex.
A ligação por via terrestre de toda a faixa sul do Oeste Amazônico, onde se incluem o Norte de Mato Grosso, Sul do Amazonas, Rondônia e Acre só se consolidaria na década de 1960, com a heroica construção da Rodovia Cuiabá-Porto Velho-Rio Branco – a BR-364. Para ter uma ideia da precariedade das ligações terrestres na região, a ponte que faz a ligação do trecho final dessa rodovia com o Acre foi concluída há pouco mais de 2 anos.
Na altura da cidade de Porto Velho, o rio Madeira chega a ter uma profundidade da ordem de 18 metros no período das cheias, o que dá aos leitores uma vaga ideia da situação dramática do rio nas últimas semanas. Grandes brancos de areia e pedrais – afloramentos rochosos, estão por toda parte, tornando a navegação num grande risco.
Nos últimos anos, o rio Madeira se transformou numa importante hidrovia utilizada para o escoamento de grãos e carnes produzidos nos Estados da Região. Todas as operações de transporte dessas já estão paralisadas ou em processo de paralização por razões de segurança. Essa hidrovia também responde por grande parte do abastecimento da população de itens como alimentos, bebidas e combustíveis.
O verão amazônico, período de seca e muito calor na região, vai até o final do ano, quando as chuvas começam a cair novamente. Todos esses problemas tendem a aumentar muito até lá.

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