ESPECIAL BIOMAS BRASILEIROS: OS DESMATAMENTOS ILEGAIS NA AMAZÔNIA

A Amazônia é um mundo à parte! 

De acordo com informações do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a chamada Amazônia Legal ocupa uma área total de 5.015.067,86 km², o que equivale a 58,93% do território do Brasil. Essa região engloba toda a área ocupada pela Floresta Amazônica e também áreas vizinhas dentro do bioma Cerrado. 

Se for considerada apenas a área ocupada pela Floresta Amazônica o do bioma Amazônico dentro do país são cerca de 4,5 milhões de km² (dependendo da fonte consultada esse número poderá variar). Na Amazônia tudo é superlativo – inclusive os problemas. 

Um dos maiores problemas da Floresta Amazônica atualmente é o desmatamento ilegal. Isso ocorre por falhas na fiscalização pelos diferentes órgãos envolvidos, pela corrupção de autoridades (inclusive lideranças indígenas), pela aceitação dessa madeira ilegal por empresas estrangeiras, entre muitas outras causas. 

O tamanho da região, que ocupa uma área equivalente à metade da Europa, já ajuda explicar a complexidade da fiscalização. Outro complicador é a grande quantidade de países onde a floresta está inserida – além do Brasil entram na lista Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. Vamos nos concentrar no problema dentro do Brasil. 

O Brasil possui uma área coberta por florestas naturais equivalente a 477 milhões de hectares, o que corresponde a 56% da área do seu território e nos coloca na segunda posição mundial em preservação de florestas, atrás apenas da Rússia. Cerca de 1/3 dos remanescentes de florestas tropicais do mundo se encontram em nosso território, onde o grande destaque é a Floresta Amazônica. Nosso país também não faz feio quando se fala em florestas plantadas, que já ocupam uma área maior que 5,6 milhões de hectares. Somos um grande “país florestal”.   

De um país com tamanha disponibilidade de recursos florestais seria de se esperar uma grande participação no mercado mundial de produtos de madeira. Infelizmente, não é isso o que acontece. No mercado mundial de móveis, o Brasil ocupa uma fatia de meros 1%. As exportações da cadeia produtiva da madeira, onde se inclui produtos de madeira, móveis, papel e celulose, representam cerca de US$ 10 bilhões (2005), sendo que mais da metade desse volume de exportações fica por conta das indústrias de papel e celulose.  

De acordo com dados do Ministério da Infraestrutura, cerca de 80% da extração de madeiras na Floresta Amazônica é feita de maneira ilegal. Grande parte das áreas onde é feita essa extração se encontram dentro de Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL), Florestas Nacionais e até mesmo dentro de Terras Indígenas, muitas vezes em associação com os índios.  

O grande consumidor dessas madeiras é o Estado de São Paulo, que compra cerca de ¼ de toda a produção. A maior parte dessa madeira, cerca de 70%, é usada na construção civil. Eu lembro de ter visto pranchas de madeira de lei de excelente qualidade sendo usadas para o escoramento de valas em diversas obras da rede de esgotos, um verdadeiro crime econômico e ambiental.  

A extração ilegal dessas madeiras amazônicas normalmente é feita em combinação com a grilagem de terras públicas. Os grileiros se associam com os madeireiros, recebendo uma porcentagem dos lucros com a venda das madeiras. As equipes dos madeireiros realizam “a limpeza” das áreas, derrubando toda a vegetação – muitas vezes é usada a técnica de arrasto, onde dois potentes tratores puxam uma extensa e pesada corrente, que derruba todas as árvores que encontram pelo caminho.  

Após a derrubada, os madeireiros selecionam os troncos de valor comercial, que são cortados e transportados para as serrarias. As demais árvores são deixadas a secar e depois de algum tempo são queimadas, liberando as áreas para a formação de campos agrícolas ou pastagens.  

A “indústria” da exploração ilegal de madeiras na Amazônia se vale da precária fiscalização das autoridades Estaduais e Federais, das sofisticadas técnicas para a falsificação das autorizações de corte e transporte das toras e, principalmente, das colossais dimensões da Floresta Amazônica.  

Mesmo com o uso de sistemas de monitoramento via satélite, o tempo de resposta de uma equipe de fiscalização pode levar semanas – os madeireiros já terão feito o seu “trabalho” de corte e transporte das madeiras e, os eventuais resíduos florestais ou provas do crime, já terão sido transformados em cinzas.  

É essa a dinâmica dos grandes desmatamentos na região, especialmente no chamado “Arco dos Desmatamentos”, uma extensa faixa que inclui o Sudoeste do Pará, Norte de Mato Grosso, Rondônia e Acre, ocupando uma área total com mais de 500 mil km².  

A ilegalidade também se faz presente nas cargas de madeiras exportadas pela Região Amazônica. Usando todo um conjunto de documentos falsificados, as toras são “esquentadas” e transformadas em produtos “legais”. Essas toras passam pelo beneficiamento (é proibido exportar toras brutas) e são embarcadas em contêineres marítimos para exportação. Para os compradores, a madeira foi extraída legalmente e não há qualquer irregularidade na sua compra.  

Um dos maiores compradores de madeira Amazônica é a China, país famoso por fazer “concessões” à legalidade. Interessados em garantir o crescimento contínuo das suas empresas, os chineses fazem “vista grossa” a muitos detalhes da documentação oficial e compram grandes lotes de madeira de alta qualidade e “ilegalidade”.  

A exploração ilegal e irracional de madeira na Região da Amazônia contribui muito na exposição do Brasil como o “grande vilão da ecologia mundial”, o que vem abrindo espaços cada vez maiores para os discursos de políticos ecologistas e também de ideias intervencionistas.  

Como tudo o que envolve a Floresta Amazônica é altamente complexo, reverter essa situação não é nada fácil. O uso de técnicas de monitoramento remoto via imagens de satélite para a emissão e validação dos documentos de autorização para derrubada e transporte das toras é uma das alternativas.  

As autorizações devem ser no formato de protocolos digitais, com rápida confirmação on line, extinguindo-se, de uma vez por todas, os formulários e carimbos de órgãos públicos, fáceis de falsificar e difíceis de rastrear. Como o número de rodovias que cortam a Amazônia é relativamente pequeno, postos de fiscalização estrategicamente localizados poderão bloquear a maior parte das cargas ilegais de madeira.  

No papel a coisa pode até parecer fácil, porém, fazer esse tipo de controle in loco é uma tarefa literalmente hercúlea… 

ESPECIAL BIOMAS BRASILEIROS: OS SOLOS POBRES DA FLORESTA AMAZÔNICA 

A tão falada e defendida Floresta Amazônica ocupa uma área total entre 5,5 e 6,7 milhões de km² a depender da fonte consultada. Essa floresta ocupa extensas áreas no Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Suriname, Guiana e Guiana Francesa. A Floresta Amazônica está contida na Bacia Amazônica, um mundo de águas que ocupa uma área de mais de 7 milhões de km². 

No Brasil, a Floresta Amazônica ocupa uma área com aproximadamente 4,5 milhões de km², abrangendo todo o território da Região Norte do País, o Norte de Mato Grosso e pequenas faixas dos Estados do Tocantins e do Maranhão. Existe ainda a chamada Amazônia Legal, uma região criada com o objetivo de desenvolver economicamente a região e que ocupa uma área total de 5,2 milhões de km². 

Todos os números relacionados a Amazônia são sempre superlativos – tamanho dos territórios, extensões dos rios, volumes de chuvas, diversidade de biomas e de espécies animais e vegetais, entre muitos outros. Existe um item, entretanto, onde a Amazônia decepciona até o mais entusiasta dos ecologistas – a fertilidade dos solos. 

Apesar de toda a sua opulência de maior floresta equatorial ou tropical do mundo, o bioma Amazônico está assentado sobre solos de baixíssima fertilidade. De acordo com informações da UFPA – Universidade Federal do Pará, 92% dos solos da Região Amazônica apresentam uma baixa fertilidade natural, enquanto que apenas 8% são de elevada fertilidade.. 

Os solos naturais da Amazônia são dos tipos arenosos e argilosos, muito pobres em nutrientes – a imponência da vegetação da grande floresta pode até passar uma impressão diferente. Um dos segredos dos solos da Amazônia é a grossa camada de húmus formado pelo acúmulo de folhas e árvores caídas, e também pela decomposição dos corpos de animais mortos. Ou seja, é a própria floresta que gera grande parte dos nutrientes que sustentam a floresta, numa espécie de “moto perpétuo”.  

Outra importante fonte de nutrientes para a manutenção da vida vegetal são os sedimentos minerais que são carreados pelas águas dos rios. Uma das principais fontes desses sedimentos são as montanhas da Cordilheira dos Andes, onde minerais importantes como o fósforo e o potássio, nutrientes essenciais para as plantas, são encontrados. Importantes rios formadores da Bacia Amazônica nascem na Cordilheira dos Andes. 

O Deserto do Saara, localizado no Norte da África, por mais improvável que possa parecer, também contribui a seu próprio modo para a nutrição da Floresta Amazônica. Os fortes ventos alísios que sopram no sentido Leste-Oeste carregam grandes quantidades de areia e sedimentos finos através do Oceano Atlântico e parte acaba caindo sobre a Floresta Amazônica. 

De acordo com estudos feitos em 2019, pelo Goddard Space Flight Center, instituição ligada à NASA – Administração de Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos, na sigla em inglês, cerca de 27 milhões de toneladas de areia do Deserto do Saara são carregadas pelos ventos para a Amazônia a cada ano. Essa areia transporta um volume com cerca de 22 mil toneladas de fósforo. 

A manutenção dessa curiosa fertilidade, entretanto, depende da preservação da cobertura vegetal da floresta. Sempre que uma grande área da floresta é derrubada para a implantação de campos agrícolas ou formação de pastagens para o gado, essa camada fértil criada pelo acúmulo de húmus e sedimentos minerais passa a ficar exposta às fortes chuvas da região. As águas passam a “lavar” os solos, que gradualmente perdem a sua camada fértil. 

De acordo com estimativas do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, cerca de ¼ da área total desmatada na Amazônia, algo equivalente a 165 mil km², está abandonada ou subutilizada. E uma das principais razões desse abandono é justamente a perda acentuada de fertilidade dos solos para usos agrícolas. Ou seja – desmatar o bioma acaba sendo um péssimo negócio para todos. 

Uma das raras exceções amazônicas no quesito fertilidade de solos são as chamadas “terras pretas de índio”. Esse tipo de solo foi criado artificialmente por antigas populações indígenas que ocuparam a região Amazônica num passado distante – algumas estimativas remetem a 4 mil anos atrás. 

Na década de 1870, exploradores e naturalistas que viajavam por diferentes partes da Amazônia passaram a observar extensas manchas de solo escuro e profundo, de excepcional fertilidade. Com o passar dos anos e com desenvolvimento de novos estudos sobre esses solos escuros, descobriu-se que os teores de carbono nessas áreas eram muito mais altos que os valores médios de outros solos – cerca de 150 gramas de carbono para cada kg de solo, enquanto a média era de 20 a 30 gramas. 

Esses solos também se destacavam pelos altos teores de fósforo, cálcio, zinco, nitrogênio e manganês, além grandes quantidades de carvão, restos de cerâmica e resíduos de ossos. As técnicas que foram usadas por esses indígenas para a formação desse tipo de solo ainda são desconhecidas e vem sendo estudadas há muitos anos por especialistas de todo o mundo. 

Até onde os pesquisadores já conseguiram entender, o carbono foi fixado nos solos através da queima de materiais orgânicos na presença de pouco oxigênio. O carbono em alta concentrações melhora a absorção da água, o que facilita a penetração das raízes no solo e gera plantas mais resistentes. As características do carvão encontrado nas “terras pretas de índio” permitem uma longa retenção do carbono no solo, exatamente o contrário do que deveria acontecer na região Amazônica – essa retenção pode durar centenas ou milhares de anos.  

Estudos arqueológicos recentes indicam que a Floresta Amazônica foi densamente povoada no passado. Estimativas indicam populações entre 6 e 8 milhões de pessoas viviam na região e dependiam dessas terras pretas para a produção de alimentos. Não se sabe ao certo o que levou ao desaparecimento de toda essa gente, mas, o que é certo é que as terras abandonadas voltaram a ficar cobertas pela vegetação da floresta. 

Os pesquisadores calculam que essas terras pretas ocupam algo entre 1% e 10% de toda a área da Floresta Amazônica. A recriação dos mecanismos de formação dessas terras pretas poderá resultar numa excepcional alternativa econômica para regiões de solos pobres em todo o mundo, onde as populações locais se esforçam muito para obter poucos frutos da terra. 

Com solos extremamente pobres e/ou com manchas de alta fertilidade, a Floresta Amazônica é toda cheia de mistérios e de limites ambientais. É preciso estudar muito para que aprendamos a explorá-la da forma mais sustentável possível.