
A boa temporada de chuvas em grandes áreas do país ajudou na recuperação do nível de importantes reservatórios de usinas hidrelétricas e também de açudes e represas destinadas ao abastecimento de populações. Em nossa última postagem falamos de um desses casos – o açude de Quixeramobim no Ceará.
As chuvas intensas em toda a alta bacia hidrográfica do rio Paraná também se refletiram nos excelentes níveis da represa da Usina Hidrelétrica de Itaipu, a segunda maior geradora de energia elétrica do mundo. Desde o dia 14 de janeiro, as comportas da barragem estavam abertas a fim de controlar os grandes volumes de água.
Nesta segunda-feira, dia 3 de abril, depois de 80 dias, a Hidrelétrica voltou a fechar as comportas. Esse foi o maior período em que as comportas da represa ficaram abertas por motivo de segurança desde 2011.
Ao longo desse período a vazão dos vertedouros da represa chegou a atingir a impressionante marca de 1,7 milhão de litros de água por segundo. Para que todos tenham uma ideia do que isso representa, a vazão média das Cataratas do Iguaçu, localizadas bem próxima da Hidrelétrica de Itaipu, é de 1,5 milhão de metros cúbicos por segundo.
A Itaipu Binacional é a maior usina hidrelétrica do Brasil e foi, durante muito tempo, a maior geradora de energia elétrica do mundo, posição que foi perdida recentemente para a Usina de Três Gargantas da China. A hidrelétrica responde pelo fornecimento de mais de 75% da energia elétrica consumida no Paraguai e chegou a gerar ¼ de todo o consumo no Brasil.
Atualmente, após a entrada em serviço de outras geradoras de energia elétrica como as fontes eólicas e fotovoltaicas, Itaipu responde por pouco mais de 8% da geração de energia elétrica do Brasil. Apesar dessa relativa perda de importância, é fundamental saber que o país pode contar com toda a capacidade de geração de Itaipu para os casos de seca em outras regiões do país.
Os primeiros estudos técnicos que foram realizados na região propunham a construção de uma grande usina hidrelétrica dentro do território brasileiro, com a formação de um lago que se estenderia até as proximidades do Salto das Sete Quedas.
Assim que o Governo do Paraguai ficou sabendo desses estudos, se desencadearam fortes protestos – o país perderia uma grande faixa do seu território, encoberta pelas águas da represa, e não ganharia nada em troca. Como se costuma dizer no popular, a “chapa esquentou” entre os dois países, inclusive com alguns militares mais radicais falando em guerra. Felizmente, a diplomacia falou mais alto.
Em 1965, foi inaugurada finalmente a Ponte da Amizade, que ligava as cidades de Foz do Iguaçu, no Brasil, a Porto Stroessner, no Paraguai. Costuma-se dizer que “o Brasil entrou com a ponte e o pobre Paraguai entrou com a amizade”. A obra, que se arrastava desde 1959, foi um marco nas relações diplomáticas entre os dois países e abriu caminho para a assinatura da Ata do Iguaçu, um protocolo que tinha como objetivo o estudo do aproveitamento conjunto das águas do rio Paraná para a produção da energia elétrica. Foram esses estudos e outros acordos firmados entre os dois países que possibilitaram a construção de uma grande usina hidrelétrica binacional.
A Usina Hidrelétrica de Itaipu iniciou suas operações em maio de 1984. A hidrelétrica conta com um total de 20 grupos geradores, com uma capacidade total instalada de 14.000 MW. Porém, como a potência real dos grupos geradores é um pouco maior (cerca de 750 MW), a Usina Hidrelétrica de Itaipu pode, em caso de necessidade, se dar “luxo” operar com 18 grupos geradores em potência máxima e manter 2 grupos geradores em manutenção.
Os bons volumes de chuva no alto da bacia hidrográfica do rio Paraná também foram de importância ímpar para a recuperação dos caudais do rio dentro do território da Argentina. Lembrando, o rio Paraná é o principal formador da bacia hidrográfica do rio da Prata, a segunda maior da América do Sul e a maior da Argentina, ficando atrás apenas da gigantesca Bacia Amazônica.
O rio Paraná tem 4.880 km de extensão e se forma a partir da junção das águas do rio Grande e do rio Paranaíba na divisa dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Seus principais afluentes dentro do território brasileiro são os rios Tietê, Paranapanema, Iguaçu e Paraguai, lembrando que a bacia hidrográfica desse rio também engloba regiões da Bolívia, do Paraguai e da Argentina.
Dentro da Argentina, os principais afluentes são os rios Salado, Pilcomayo e Bermejo. Também entram nessa lista os importantes rios Uruguai e Negro, que tem nascentes no Sul do Brasil e que despejam suas águas na região do delta do rio Paraná. As águas de todos esses grandes rios e de uma infinidade de rios menores se juntam para formar o grandioso rio da Prata, um verdadeiro “mar” de águas doces entre o Uruguai e a Argentina.
Grande parte da Argentina, especialmente a região Centro-Norte do país, vem enfrentando uma grave seca, problema que vem criando enormes dificuldades para o país vizinho. Esse é o terceiro ano consecutivo de chuvas abaixo da média no país.
Em 2021, a situação foi bastante agravada pelos baixos níveis do rio Paraná no seu baixo curso, o que prejudicou muito o transporte dos grãos colhidos. Devido à grande profundidade desse trecho do rio Paraná, navios graneleiros marítimos sobem o rio a partir do rio da Prata e recebem suas cargas em portos muito próximos das áreas produtoras. Com os baixos caudais do rio, parte do transporte dos grãos precisou ser feito por caminhões, o que encareceu o preço final.
Além das boas chuvas nas regiões lindeiras do alto curso do rio Paraná, a bacia hidrográfica do rio Paraguai também recebeu bons volumes de chuva, o que está contribuindo para excelentes níveis atuais do rio Paraná na Argentina.
Conforme costumamos citar em nossas postagens, rios são artérias e veias que irrigam a vida em extensas regiões de nosso planeta. Toda a vida vegetal e animal, onde está inserida a espécie humana, dependem das águas desses rios. É sempre bom recebermos ótimas notícias de chuvas e de bons caudais nesses rios.