ESTUDO MOSTRA QUE A REDUÇÃO DO USO DE AEROSSÓIS NA EUROPA E NOS ESTADOS UNIDOS PROVOCOU UM AUMENTO DO NÚMERO DE FURACÕES NO ATLÂNTICO NORTE 

O tema furacões, ciclones e tempestades tropicais é presença constante aqui em nossas postagens. Recentemente, falamos da tempestade tropical Mogi que causou grandes estragos em parte das ilhas do Arquipélago das Filipinas. E como tema transversal falamos do aumento do número desses eventos em várias regiões do mundo como é o caso do Atlântico Norte. 

Um estudo publicado na Revista Science Advances esta semana jogou um pouco mais de lenha nessa discussão: cientistas descobriram que a redução de 50% nos aerossóis usados na América do Norte e na Europa ao longo dos últimos 40 anos provocou um aumento de 33% no número de ciclones tropicais no Atlântico Norte. O problema dos aerossóis está nos gases usados como propelente, cujas moléculas podem causar problemas na atmosfera. Um caso muito famoso foi o dos CFCs.

Relembrando alguns fatos históricos na área ambiental: há muitos anos descobriu que os gases CFC – clorofluorcarbonos, usados em sprays (que é um sistema de aerossol em alta pressão) e sistemas de refrigeração eram os responsáveis pelo surgimento de um grande buraco na camada de ozônio, uma região da alta atmosfera responsável pelo bloqueio do excesso de raios ultravioletas que atingem a superfície do nosso problema. 

Essa descoberta científica provocou uma verdadeira corrida entre os fabricantes de sistemas de ar condicionado, geladeiras e freezers, além de empresas do ramo da cosmética e dos cuidados pessoais que embalavam seus produtos em embalagem do tipo spray na busca de uma alternativa aos gases CFC. Essa campanha obteve grandes êxitos e diversos gases seguros para a camada de ozônio passaram a ser utilizados em muitos países. 

De acordo com os cientistas responsáveis pelo estudo recém divulgado, as partículas dos gases que eram usados nos antigos aerossóis refletiam a luz solar de volta ao espaço, evitando que essa energia aquecesse a superfície dos oceanos. O dióxido de carbono e o metano, gases que também existem em grande quantidade na atmosfera, ao contrário absorvem a luz solar e levam ao aquecimento. 

Foi observado que, conforme as diferentes leis para eliminação dos gases “nocivos” dos aerossóis foram sendo implementadas em todo o mundo, os oceanos passaram a absorver quantidades cada vez maiores do calor vindo dos raios solares. E é justamente essa energia que alimenta as tempestades que se formam sobre os oceanos. 

Um outro lado desse estudo, que mostra como os nossos conhecimentos sobre a complexidade do clima de nosso planeta ainda são incipientes, mostrou que nesse mesmo período houve um aumento de 40% na poluição do ar por aerossóis na Índia e na China. Ao contrário do que ocorreu no Atlântico Norte, essa poluição provocou uma diminuição de 14% no número de ciclones tropicais no Oeste do Oceano Pacífico. 

China e Índia vem experimentando um fabuloso crescimento econômico nas últimas décadas, fenômeno que resultou na inserção centenas de milhões de habitantes desses países no mercado consumidor. Coisas comezinhas para nós ocidentais como uso de desodorantes, sprays para cabelo ou simplesmente perfumes, passaram a fazer parte da rotina dessas pessoas. 

Com legislações ambientais muito mais frouxas que no Ocidente, esses países fizeram “vista grossa” para o uso de gases nocivos em seus aerossóis. Lembro também que o desenvolvimento econômico nesses países se apoia grandemente no uso de combustíveis fósseis como o carvão, o que resultou na emissão de enormes quantidades de gases de efeito estufa nas últimas décadas. 

Um dos cientistas envolvidos no estudo fez uma analogia interessante: reduzir a poluição do ar a partir da redução do uso de aerossóis é como parar de fumar. Isso vai se refletir diretamente numa melhora da saúde e em uma redução dos riscos de câncer. Por outro lado, parar de fumar tem seus efeitos colaterais como o ganho de peso e o aumento dos níveis de estresse. 

Segundo Jim Kossin, especialista sênior em furacões do Climate Service dos Estados Unidos, esse novo estudo é importante para ajudar a distinguir os problemas que são causados pela poluição do ar e aqueles ligados ao aquecimento global e gases de efeito estufa. 

Segundo ele, os ciclones tropicais são “animais aleatórios que respondem à natureza aleatória da atmosfera a qualquer momento”. E completa: o aquecimento constante das águas do Atlântico Norte está sendo causada por uma combinação do aumento dos gases de efeito estufa e pela diminuição das partículas dos gases dos aerossóis. E o efeito disso tudo vem vendo um aumento dramático dos furacões. 

Cientistas climáticos que não estão ligados a esse estudo, é claro, olham esses resultados com cautela. Segundo muitos deles, que foram ouvidos por jornalistas, as novas descobertas se juntam a outros estudos já concluídos e contribuem para um melhor conhecimento da crise climática global. 

De acordo com o Professor Gabriel Vecchi, da Universidade de Princeton, “os aerossóis estão entre os elementos mais incertos do sistema climático, então acho que deveria – e prevejo que haverá – estudos de acompanhamento que explorem a sensibilidade dos resultados a uma série de incertezas relacionadas aos aerossóis”. 

Muita água ainda deverá rolar por baixo dessa ponte, relembrando um antigo ditado, até que os cientistas consigam entender com alguma razoabilidade o clima de nosso planeta e também os impactos causados pelas ações de nós, seres humanos. 

Destaco, entretanto, que não deixa de ser interessante imaginar o quanto um inocente desodorante em spray ou um inseticida doméstico pode ser danoso para o clima de nosso planeta. 

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