
No dia 31 de dezembro de 2019, a OMS – Organização Mundial da Saúde, foi “alertada “oficialmente sobre a ocorrência de vários casos de pneumonia na cidade de Wuhan, na China. Segundo o que havia sido apurado há época, tratava-se de uma nova cepa de Corona vírus que ainda não havia sido diagnosticada em seres humanos. Essa nova cepa recebeu o nome de Covid-19.
A história inicial da pandemia desencadeada por esse novo vírus na China é nebulosa e cheia de mistérios. Mantendo os meios de comunicação sob rígido controle e censura, o Governo chinês escondeu durante muito tempo tanto a extensão quanto a gravidade da doença.
De acordo com os dados oficiais divulgados pela China, foram pouco mais de 96 mil casos e 4.636 mortes no país. Para efeito de comparação, o Brasil já teve perto de 21 milhões de pessoas infectadas e mais de 587 mil mortos. Não é preciso ser nenhum gênio para perceber que existe alguma coisa muito errada nos números apresentados pelos chineses.
A origem do vírus é tão nebulosa como a história inicial da doença na China. Alguns estudos parecem apontar na direção de uma contaminação a partir de animais silvestres que seriam os portadores naturais do vírus. Uma das espécies suspeitas é o pangolim, um mamífero da ordem Pholidota que vive em regiões tropicais da Ásia e da África. Existem no total 8 espécies. A carne do pangolim é considerada uma iguaria na China, onde animais capturados vivos nas matas podem ser comprados em mercados populares.
Outra hipótese levantada sobre a origem do vírus apontaria para algum tipo de acidente em um laboratório de pesquisas. Muitos partidários da “teoria da conspiração” acreditam que os chineses estavam estudando possibilidades de usar o vírus como uma arma biológica. Recentemente, essa hipótese ganhou força entre autoridades norte-americanas, que passaram a estudar essa questão com maior cautela.
A lembrança da trágica da Covid-19, que há mais de um ano e meio foi declarada como uma pandemia pela OMS, e da possível transmissão do vírus para seres humanos a partir de um contato com um animal silvestre, tem relação com uma notícia preocupante divulgada nos últimos dias: no último dia 5 de setembro, um adolescente no Estado de Kerala, no Sul da Índia, morreu após ser contaminado com o mortal vírus Nipah.
O Nipah henipavirus é encontrado em diversas espécies de morcegos que vivem em áreas florestais do Subcontinente Indiano, do Sudeste Asiático e também na Austrália. Em 1998, ele foi detectado pela primeira vez em seres humanos na Península Malaia, onde causou a morte de 105 pessoas na região de Kanpung. Nesse surto, porcos foram identificados como os hospedeiros intermediários.
Em outros casos, identificados em Singapura, Indonésia, Bangladesh e Índia, as vítimas foram contraminadas após consumirem sucos preparados com frutas frescas. A imensa maioria das espécies de morcegos é frutívora, ou seja, se alimentam de frutas e frutos, além do néctar de flores. Se não forem devidamente higienizadas, frutas e frutos contaminados com a saliva dos morcegos colocam as pessoas em contato direto com o vírus. Também há evidencias da transmissão do vírus de uma pessoa para outra.
Infecções do Nipah podem causar desde síndromes respiratórias agudas a encefalites mortais. A taxa de letalidade no caso de doenças é extremante alta: a cada 100 pessoas infectadas, entre 40 e 79 morrem. Ainda não existem tratamentos específicos ou vacinas para o vírus – somente um tratamento primário com antivirais sem eficácia comprovada.
De acordo com estudos preliminares da OMS, o período de incubação do vírus, ou seja, desde a infecção até o início dos sintomas da doença, varia de 4 a 14 dias. Existem, entretanto, relatos de períodos de incubação de até 45 dias. Os sintomas iniciais, quando aparecem, lembram muito aos de uma gripe.
O Nipah atinge o sistema nervoso central, causando alterações no nível de consciência, convulsões, febres, dores de cabeça, náuseas e vômitos. Também podem se desenvolver quadros de pneumonia. O adolescente que morreu em Kerala desenvolveu um quadro grave de encefalite (inchaço do cérebro), que infelizmente resultou em sua morte.
Uma das primeiras providencias adotadas pelas autoridades sanitárias do Estado de Kerala foi rastrear e identificar todas as pessoas que tiveram contato com o adolescente. Ao menos 188 pessoas, entre familiares e vizinhos, foram colocadas em isolamento – cerca de 20 pessoas do grupo são consideradas com alto risco de contaminação.
Esse caso expõe um gravíssimo problema ambiental de nossos dias – com a derrubada de matas e florestas, algo que está ocorrendo em todos os cantos de nosso planeta, animais silvestres estão ficando em contato cada vez mais próximo de populações humanas. Esses animais são hospedeiros naturais de uma infinidade de vírus, que nenhum mal lhes provocam, mas que podem ser fatais para os seres humanos.
Uma espécie de morcego que é muito comum nessa extensa região geográfica e que é comprovadamente um transmissor do vírus Nipah é a raposa-voadora (existem diversas espécies). Os grandes desmatamentos em florestas tropicais da região estão empurrando esses animais para lugares cada vez mais próximas das cidades.
Um exemplo que podemos citar é o caso da cidade de Melbourne, na Austrália, onde vivem mais de 50 mil raposas-voadoras-da-cabeça-cinzenta (vide foto). Diferente de outras espécies de morcego que tem um aspecto assustador, essas raposas-voadoras tem uma cabeça e um corpo que lembram muito uma raposa (daí o nome). Muitas pessoas acham esses animais “fofos” e acabam os tratando como se fossem “quase” domésticos – daí os riscos de contágio. Os animais frequentam os quintais das casas e os parques em busca de frutas, frutos, legumes e néctar das flores.
Até o momento, os casos documentados de contaminação estão restritos a vilas e comunidades mais isoladas, que ficam próximas de áreas com florestas. As autoridades de saúde temem o surgimento de uma nova cepa do vírus com uma capacidade de transmissão maior, a exemplo da variante Delta do Corona vírus, algo que criaria condições para o desenvolvimento de grandes epidemias com inúmeras vítimas fatais.
Por hora, o que se pode recomendar às populações dessas regiões é um cuidado redobrado com a higienização de frutas, frutos e legumes frescos, além de se manter o mais distante possível de matas ou locais onde grupos desses morcegos habitem. Em regiões extremamente pobres desses países, essas medidas são muito difíceis de serem implementadas e há sérios riscos de o pior acontecer…
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