Nas duas postagens anteriores, falamos da baixa disponibilidade de água no continente australiano, uma característica natural que foi grandemente amplificada durante a chamada Seca do Milênio, uma estiagem absolutamente fora dos padrões climáticos do país e que se estendeu entre os anos 2000 e 2009. Além de todos os problemas no abastecimento das cidades e indústrias, a agricultura da Austrália foi fortemente prejudicada nesse período.
A bacia hidrográfica dos rios Murray-Darling, a mais importante da Austrália, ocupa uma área de 1,061 milhão de km² e concentra 40% da área agrícola e 85% de toda a área irrigada do país. Essa região agrícola é responsável por 75% da produção de grãos da Austrália e ocupa áreas dos Estados de Queensland, Nova Gales do Sul e Vitória. Além da disponibilidade de água, recurso bastante escasso no continente, essa região apresenta climas Mediterrâneo (temperado) e Subtropical. As cidades mais importantes da Austrália ficam nessa região: Sidney, Adelaide, Brisbane, Melbourne e Camberra, a capital do país.
Com a redução drástica das chuvas a partir do ano 2000 e sem a recarga dos aquíferos alimentadores das nascentes dos rios da bacia hidrográfica dos rios Murray-Darling, a redução dos caudais foi imediata, caindo para 1/5 da média histórica, e a produção agrícola despencou. A produção de arroz, citando o exemplo de uma cultura altamente dependente de água, sofreu uma redução de 98%. A produção de trigo (vide foto), um dos grãos mais importantes da Austrália, que ocupava um patamar da ordem de 24 milhões de toneladas/ano, despencou para 13 milhões de toneladas/ano.
E não foram apenas as culturas agrícolas que sofreram com a maior seca já registrada no continente australiano: as florestas de eucalipto, uma árvore nativa e uma das marcas registradas do país, sofreram uma mortalidade de 80% por causa da falta de chuvas. Uma área florestal equivalente a soma dos territórios da França e da Alemanha foi destruída.
O clima da Austrália sempre teve um padrão climático bastante definido e, ao longo de aproximadamente 120 anos de observações sistemáticas, sempre ocorreram secas de intensidade variada a cada dois anos. Essa previsibilidade das secas moldou o padrão de comportamento dos agricultores, que sempre mantiveram reservas de água em açudes e reservatórios para esses momentos de seca. A Seca do Milênio fugiu completamente de qualquer planejamento ou previsibilidade.
Conforme comentamos na postagem anterior, as autoridades do Governo Federal e dos Estados, assim que perceberam a gravidade da situação, rapidamente tomaram uma série de medidas com o objetivo de reduzir drasticamente o consumo de água pelas populações das cidades, indústrias e produtores agrícolas. O Primeiro Ministro da Austrália à época, ao ser questionado por um jornalista sobre a eventual continuidade das restrições ao uso de água para irrigação das plantações, medida que chegou a ser tomada por um curto período, afirmou que “a proibição da irrigação teria um impacto potencialmente devastador na economia australiana.”
De acordo com a legislação da Austrália, os recursos hídricos pertencem aos Estados, que são os responsáveis pela gestão e a outorga dos usos. Com o agravamento da seca no país, o Governo Federal australiano baixou novas leis, passando a posse dos recursos hídricos para a União e estabeleceu novas regras para a outorga dos usos. Um dos pontos mais importantes e interessantes dessa nova política foi a criação de mercado de compra e venda de água, muito parecido com o mercado de ações. Um determinado produtor agrícola teria de procurar os órgãos federais responsáveis e solicitar a compra de um volume de água, necessário para a irrigação de suas plantações, pagando um “valor de mercado” por essa água.
Esse alto custo da água forçou os agricultores a desenvolver planos de gestão e de controle dos volumes gastos, racionalizando ao máximo o consumo de água. Os sistemas de irrigação tradicionais, onde as perdas médias de água são da ordem de 50%, rapidamente foram aposentados e sistemas mais eficientes passaram a ser implantados. Apesar das quedas na produção de grãos durante o período de duração da Seca do Milênio, a agricultura irrigada australiana acabou saindo fortalecida, com a modernização dos sistemas de irrigação e a mudança da mentalidade dos produtores, que passaram a se preocupar com o aumento da eficiência e a redução do consumo de água no campo.
Como diz um velho ditado: há males que vem para o bem!
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[…] O país também “faz bonito” quando se fala de produção agrícola. Uma das principais regiões produtoras da Austrália é o Sudeste, mais especificamente na bacia hidrográfica dos rios Murray e Darling. Ocupando uma área de 1,061 milhão de km², o que corresponde à metade do Cerrado brasileiro, essa região concentra 40% da área agrícola e 85% de toda a área irrigada do país. […]
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