Ao contrário do que muitos de vocês imaginam, não são todas as regiões da Europa que são verdejantes, com extensos campos cobertos por plantações de trigo, cevada e alfazema. Países do Sul do continente como Grécia, Itália, Portugal, Chipre, Espanha e o Sul da França apresentam áreas de clima árido e semiárido, com baixa disponibilidade de água. Nessas regiões, a agricultura só é possível através do uso intensivo de sistemas de irrigação, onde volumes da ordem de 80% da água doce disponível é consumida, índice superior à média mundial que é de 70% e muito acima da média de consumo no Norte da Europa, onde esse índice é de 30%. Um complicador extra para a produção agrícola nessas regiões é o Clima Mediterrâneo, que apresenta verões quentes e secos – as chuvas só ocorrem no inverno, estação que não é propícia para o desenvolvimento das plantas no Hemisfério Norte.
De acordo com a AEA – Agência Europeia do Ambiente (em inglês: EEA – European Environment Agency), as antigas políticas de preços da água para uso na agricultura, fortemente subsidiadas pelos Governos, não exigiam da parte dos agricultores um uso eficiente e racional dos recursos hídricos – as culturas gastavam muita água, sem qualquer preocupação com os custos ambientais e econômicos. Em diversas regiões da Europa, onde Governos estão reduzindo gradativamente os subsídios agrícolas, tem-se observado uma redução gradual no consumo de água na agricultura. Um exemplo é a Província de Córdoba, na Espanha – após a redução parcial dos subsídios para a produção do algodão, foi observada uma melhoria de 40% na eficiência dos sistemas de irrigação.
Dentro desse contexto de mudanças e melhorias da agricultura no continente europeu, a Grécia é um caso à parte. O pequeno país do Sudeste da Europa, com área de pouco mais de 130 mil km² e uma população de 11 milhões de habitantes, vem apresentando uma agricultura em franca decadência nos últimos 20 anos, uma situação setorial que complica ainda mais a situação econômica da Grécia. De acordo com dados do Banco Mundial, a produção agrícola em 1995 correspondia a 8% do PIB – Produto Interno Bruto, grego; em 2015, essa participação caiu para apenas 4%. Apesar da baixa participação no PIB, a agricultura emprega 13% da população economicamente ativa do país – na Inglaterra, esse índice é inferior a 2%.
Berço da cultura, das artes, da literatura e da filosofia ocidental, a Grécia moderna, porém, sempre foi uma economia periférica da Europa, fortemente dependente do setor de serviços, responsável por 80% da economia, dentro do qual a indústria do turismo representa 20% de toda a circulação de riquezas da Grécia. A situação econômica do país só passaria a ter uma relevância maior após a Segunda Guerra Mundial, quando diversas políticas de reconstrução e de subsídios para as regiões mais pobres do continente europeu passaram a ser implantadas – foi a partir daí que a economia da Grécia apresentou substancial melhoria. A partir de 1960 e até 1991, a produção agrícola do país apresentou um crescimento contínuo, passando de uma produção de 2 milhões de toneladas/ano para 6,25 milhões de toneladas anos de acordo com dados da FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura. Entre as principais culturas destacam-se o milho, o trigo, as laranjas e a azeitona (vide foto), matéria prima do famoso azeite de oliva, além é claro das uvas, usadas na produção dos tradicionais vinhos gregos.
Após a adesão da Grécia à União Europeia em 1981, as coisas gradativamente começaram a desandar no país. Tentando equiparar as suas políticas sociais e econômicas à dos demais países do bloco europeu, a fraca economia da Grécia, gradativamente, passou a acumular déficits no orçamento público, que chegou a atingir uma relação dívida/PIB de quase 200%. Dentro desse grave quadro fiscal, também passa a se observar uma gradual redução da produção agrícola do país a partir de 1991, que caiu para 4,24 milhões de toneladas em 2015. A área cultivada, que em 1960 correspondia a 180 mil hectares, caiu para 50 mil hectares em 2015. O grave desemprego no país atinge hoje 24% da população economicamente ativa.
Dentro de um quadro econômico tão caótico, a modernização da decadente agricultura grega passou a ser fundamental para o fechamento da balança de pagamentos do país, que em 2016 apresentou um déficit de US$ 18,35 bilhões – vários dos produtos de exportação da Grécia vem do campo: azeites, vinhos, frutas frescas e em conserva, além de cigarros. Com apoio de várias agências de financiamento e de fomento da União Europeia, estão sendo feitos pesados investimentos para a modernização da agricultura, com destaque para a construção de novos sistemas de irrigação. Alguns resultados estão se mostrando animadores: a melhoria da eficiência em redes de transporte e de distribuição de água está permitindo um ganho de eficiência de até 95% em sistemas de irrigação de lavouras.
Com o perdão do trocadilho, a modernização dos sistemas de irrigação está no centro da “salvação das lavouras” da Grécia. Que outros países sigam este exemplo.
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