Quem tem acompanhado as minhas últimas postagens pode ter ficado com um sentimento de inferioridade por viver em um país “terceiro mundista”, repleto de mosquitos transmissores de doenças e com problemas de todos os tipos na infraestrutura de saneamento básico. Mas os mosquitos não causam problemas somente aqui no Brasil: existem mais de 3.600 espécies de mosquitos transmitindo doenças em todo o mundo. Um exemplo é a malária, uma das mais antigas e fatais doenças transmitidas ao homem pelos mosquitos. O agente transmissor é o Plasmodium, um parasita unicelular protozoário, que infecta os eritrócitos, causando a malária.
Apesar de ser uma doença muito comum em áreas tropicais, a malária já foi endêmica em grande parte da Europa e dos Estados Unidos. Hipócrates (460 a.C.-370 a.C.), sábio grego considerado o pai da medicina, foi o primeiro a fazer uma conexão entre água parada e a ocorrência de febres na população. Esse conhecimento foi passado aos romanos, que foram os pioneiros na drenagem de pântanos como forma de controlar as sucessivas epidemias na península itálica – aliás, a palavra malária deriva da expressão em italiano antigo mal aria ou ar ruim. Há relatos de grandes epidemias de malária na França, Espanha, Inglaterra, Holanda, Alemanha entre outros países europeus – onde existisse pântanos e mosquitos havia possibilidade de grandes epidemias de malária. A doença foi erradicada gradualmente a partir de melhorias na infraestrutura de saneamento e drenagem de áreas pantanosas. A Itália, para citar um exemplo, só conseguiu erradicar totalmente a malária em 1970.
A malária chegou aos Estados Unidos junto com os primeiros colonos, muitos dos quais estavam infectados com os agentes Plasmodium vivax e Plasmodium malariae, comuns na Inglaterra. Posteriormente, com a importação dos primeiros escravos vindos do continente africano a partir de 1620, foi introduzido no país o agente Plasmodium falciparum.
As epidemias eram recorrentes nas antigas Colônias Anglo Americanas – em 1723 um colono escrevia para sua família na Escócia: “Estou sempre com febres e calafrios… este lugar só é bom para médicos e padres”. Com o avanço dos colonizadores rumo ao interior do país, a malária foi se disseminando e se tornando endêmica nas regiões Sul e Oeste. Consta que as epidemias de malária eram tão frequentes e custosas na antiga colônia francesa da Louisiane, que este foi um dos motivos que levou Napoleão Bonaparte a vender o território para os americanos em 1803, atualmente chamado de Estado da Louisiana. Nos estados do Sul dos Estados Unidos, aliás, a combinação do clima subtropical (o mesmo clima do Sul do Brasil a partir do Sul do Estado de São Paulo), da grande quantidade de áreas pantanosas e do sensível empobrecimento da região após a derrota dos Estados Confederados na Guerra Civil Americana (1861-1865), tornou a região propícia à presença de grandes populações de mosquitos e de uma alta incidência de epidemias de malária. Estudos indicam que até a década de 1930, um terço da população dos estados do Sul americano sofria de malária crônica.
O controle e a reversão das epidemias de malária nos Estados Unidos só foram possíveis a partir da massificação da infraestrutura de saneamento básico, da aplicação de inseticidas para o controle das populações de mosquitos, da drenagem de áreas pantanosas e, principalmente, da obrigatoriedade da instalação de telas nas janelas e portas das residências. O governo americano também investiu pesadamente em campanhas educativas, mostrando à população quais eram os hábitos e os horários de maior incidência dos ataques dos mosquitos. Por volta do ano de 1950, a malária foi considerada erradicada dos Estados Unidos, restrita a alguns poucos casos anuais em regiões isoladas e densamente florestadas onde os mosquitos são e sempre farão “parte da paisagem”. É importante ressaltar que não existem vacinas homologadas contra a malária e que as medidas preventivas são as melhores alternativas para o controle da doença.
Aqui no Brasil, onde as doenças transmitidas por mosquitos têm crescido ano a ano, a estratégia americana de controle e erradicação da malária deve ser um exemplo. Nossas cidades precisam investir com seriedade em infraestrutura de saneamento básico, gestão dos resíduos sólidos e em educação ambiental – esses são os caminhos para a eliminação dos criadouros dos mosquitos Aedes aegypti que, ao fim e ao cabo, é o grande vetor de transmissão da Dengue, Zika, Chikungunya, Mayaro e, desgraçadamente, da febre amarela urbana, doença que está ressurgindo e que poderá se transformar numa grande epidemia nacional caso as autoridades das áreas de saúde e de saneamento não mostrem pulso firme e competência nos próximos meses.
Que o espírito dos Pais Fundadores da América nos ilumine!
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