
Uma notícia bem interessante para quem se interessa por temas da área do meio ambiente e que mostra o quanto precisamos aprender sobre o nosso planeta:
Após a erupção de um vulcão submarino no arquipélago polinésio de Tonga no Sul do Oceano Pacífico em 2015 (vide foto), os cientistas perceberam a formação de uma pequena ilha no local. A ilhota, que tinha 2 km de comprimento e 1 km de largura, recebeu o nome de Hunga Tonga e sobreviveu ali até 2022, quando foi destruída por uma nova erupção do mesmo vulcão.
Essa foi a terceira vez em um período de 150 anos em que a ciência pode acompanhar o nascimento de uma ilha vulcânica. No caso de Hunga Tonga, sua brevíssima existência pode ser acompanhada de diversos estudos científicos nas áreas de geologia, vulcanologia, biologia e meio ambiente.
Processos vulcânicos semelhantes a esse foram responsáveis pela formação de diversas ilhas em todo o planeta. Aqui no litoral do Brasil podemos citar como exemplos as ilhas dos arquipélagos de Fernando de Noronha e da Trindade. Também podemos citar o caso das ilhas do Havaí, onde o vulcão Kilauea continua ativo e despejando sucessivas ondas de lava.
Falando de uma forma bem resumida, a lava expelida pelo vulcão se espalha ao redor da cratera e se transforma em rocha sólida após esfriar. A paisagem é árida e completamente sem vida, uma vez que a grande maioria das plantas não sobrevive sobre essas rochas ígneas.
Uma das únicas espécies vegetais que consegue colonizar esses locais são os líquens. Os líquens são organismos simbióticos, formados por um fungo associado a uma alga verde ou azul, com grande capacidade de sobrevivência em locais inóspitos. Os líquens gradativamente começam a criar uma finíssima camada de material orgânico sobre a superfície rochosa.
As rochas também passam a sofrer desgastes – as alterações da temperatura provocam expansão e contração das camadas superficiais, provocado trincas e desfolhamentos de finas placas de rocha. Com a exposição às chuvas e ao vento, essas camadas de rocha vão se fragmentando e se juntando aos pequenos depósitos de matéria orgânica criados pelas colônias de líquens.
Conforme essa camada de solo fértil vai aumentando, sementes de outras plantas que chegam arrastadas pelo vento ou pelas correntes marítimas conseguem germinar e há uma aceleração no processo de formação de matéria orgânica. É esse processo lento e gradativo, chamado de gênese dos solos, o responsável pela formação das terras férteis dos solos das florestas, matas e outras formações vegetais, que algum dia serão usadas pela agricultura.
O processo de formação dos solos e surgimento de vida vegetal nessas ilhas é acompanhado é pelo aparecimento de vida biológica, a começar pela formação de colônias de bactérias, além do aparecimento de aves, crustáceos, moluscos, insetos e até mesmo répteis e mamíferos, que costumam chegar a essas ilhas sobre vegetação flutuante.
No caso da ilha Hunga Tonga, os cientistas foram surpreendidos ao encontrar colônias de bactérias capazes de metabolizar enxofre e gases atmosféricos, uma forma de vida totalmente inesperada. Esse tipo de bactéria costuma ser encontrada ao lado de fontes termais e hidrotermais localizadas no fundo dos oceanos.
A principal suspeita dos cientistas é que essas bactérias foram carregadas até a superfície por meio de sedimentos do fundo marinho que foram soerguidos por meio dos derramamentos de lava vulcânica. Os cientistas imaginavam até então que as primeiras bactérias chegariam de “carona” nas fezes de pássaros.
Durante a curta existência da ilha Hunga Tonga, os cientistas recolheram amostras de solos em 32 locais diferentes, em altitudes desde o nível do mar até 120 metros, onde ficava o cume do vulcão. Os estudos desses solos e, principalmente, o sequenciamento genético do DNA dessas bactérias, serão fundamentais para o entendimento do processo de formação de ilhas vulcânicas e de sua colonização por vida animal e vegetal.
Apesar da ilha ter desaparecido sob as águas do oceano, todo esse conjunto de informações e amostras recolhidas renderá inúmeros estudos ao longo dos próximos anos, especialmente nas áreas de geologia.
Processos vulcânicos foram os responsáveis pela formação de importantes paisagens e habitats de nosso planeta. Vou usar como exemplo o Derrame de Trapp, um conjunto de erupções vulcânicas que aconteceram aqui na América do Sul e no Sudoeste da África no Período Cretáceo, entre 137 e 127 milhões de anos atrás.
Esse processo foi uma consequência da ruptura continental que fragmentou o antigo Supercontinente de Gondwana e levou ao surgimento da África, América do Sul, Antártida, Ilha de Madagascar, Índia, Austrália, Nova Zelândia e outras ilhas menores.
Os derramamentos de lava aqui na América do Sul foram calculados em 650 mil km³e cobriram uma área de aproximadamente 1,2 milhão de km², especialmente na região onde encontramos hoje a bacia hidrográfica do rio Paraná. Em Angola e na Namíbia, países do Sudoeste da África, também se encontram rochas de origem vulcânica associadas ao Derrame de Trapp.
E qual a importância desse evento em nossas vidas?
Os férteis solos de terra roxa que se estendem desde a região Oeste do Estado de São Paulo até o Rio Grande do Sul, com alguns trechos na Argentina e no Paraguai, foram originadas há milhões de anos a partir da degradação das rochas ígneas formadas a partir do Derrame de Trapp. Esses solos estão classificados como um dos mais férteis do mundo.
Uma vida longa à memória da Ilha Hunga Tonga!
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