No dia 31 de agosto de 2004, a população do bairro da Vila Leopoldina, na Zona Oeste da cidade de São Paulo, teve motivos de sobra para realizar um “carnaval fora de época”: depois de 30 anos de intensas reclamações e de inúmeros abaixo-assinados, a Secretaria de Serviços e Obras da cidade desativou a Usina de Compostagem que funcionava no bairro. Ocupando uma área total de 54 mil metros quadrados, a Usina de Compostagem da Vila Leopoldina recebia uma média de 800 toneladas diárias de resíduos orgânicos para tratamento – o cheiro exalado era simplesmente insuportável. O local foi transformado em uma área verde aberta ao público – o contaminado solo do local continua liberando gases com mal cheiro até hoje.
A compostagem, em resumo, consiste em todo um conjunto de técnicas que possibilitam acelerar a decomposição biológica dos resíduos orgânicos, transformando-os num adubo de excelente qualidade conhecido como terra preta ou húmus. É considerada a melhor destinação para os resíduos orgânicos e deve ser incentivada ao máximo como forma de se reduzir a quantidade de resíduos que chegam diariamente aos lixões e aterros sanitários, muitos deles próximos do limite de saturação. Agora, o que não pode acontecer é algum genial administrador público resolver instalar uma usina de compostagem num bairro residencial bem no meio da cidade como aconteceu na Vila Leopoldina.
Desde os primórdios tempos do início da agricultura, os seres humanos intuitivamente perceberam que as plantas cultivadas necessitavam de “alimentos” para crescer e dar frutos. Os antigos egípcios entenderam a importância da adubação dos solos e esperavam o fim das cheias do Rio Nilo para plantar nos solos recobertos naturalmente por matéria orgânica trazida pelas águas; os chineses já faziam a compostagem na agricultura há mais de 5.000 anos. Aqui no Brasil existem e são utilizadas até hoje imensas áreas da Floresta Amazônica conhecidas como terra preta de índio – são manchas de terra que foram enriquecidas com todo o tipo de resíduos orgânicos e cinzas, usadas pelas antigas tribos indígenas amazônicas para a produção de alimentos como o milho e a mandioca.
A compostagem começa com a correta separação dos resíduos orgânicos ainda nas residências, evitando a contaminação com outros tipos de resíduos. Estudo realizado pela Usina de Compostagem de Irajá, no Rio de Janeiro, demonstrou o resultado dessa contaminação – metais pesados estão presentes em até 5% do volume de adubo produzido. Como comentado no post anterior, os resíduos orgânicos devem ser separados e colocados em um saco plástico ou recipiente exclusivo, que deve ser mantido fechado. As equipes que realizam os serviços públicos de coleta devem lançar os resíduos no compartimento próprio do caminhão, evitando a mistura com os demais resíduos segregados e agrupados como papel, vidro, plástico e metais (considerando-se que está sendo feita a coleta seletiva de resíduos). Os resíduos recicláveis devem ser transportados até uma área de transbordo, onde será feita uma separação mais refinada e os resíduos orgânicos devem seguir para a usina ou área de produção de compostagem.
A forma mais simples de se realizar a compostagem é a formação de montes piramidais de resíduos conhecidos por leiras, com uma altura máxima de 1,5 metros. Com temperatura e umidade constantes, colônias de micro-organismos realizarão a transformação dos resíduos em adubos. Outra técnica, de resultado mais lento, consiste em enterrar os resíduos em uma vala, que será coberta com uma fina camada de terra. O tempo de decomposição vai variar de 3 meses até 2 anos. Em ambos os casos será necessário revolver os resíduos frequentemente para aerar o material. As composteiras são estruturas mais elaboradas, onde os resíduos ocupam compartimentos com fundo formado por telas – o húmus produzido escorre para um recipiente inferior (a tela funciona como uma peneira), facilitando a separação e a coleta. As composteiras também possuem um recipiente para a coleta e armazenamento do chorume, líquido que devidamente diluído em água se transforma em um excelente adubo líquido. Existem atualmente diversos modelos de composteiras residenciais (que utilizam minhocas californianas) para a produção caseira de húmus – recomendo que vocês pesquisem isso na internet.
Até o nosso próximo post.
[…] como todos devem saber, podem ser transformados em adubo orgânico a partir de processos de compostagem. Considerando que o Brasil é uma potência mundial na produção agrícola, seria bastante […]
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