A conversa de hoje é polêmica e, digamos, um pouco “nojenta” para muita gente. Trata-se do reuso de efluentes tratados de esgotos como alternativa para o reforço das fontes de abastecimento de água, ou seja, misturar esses efluentes tratados na água que consumimos em nossas casas.
Antes que você desista de ler, deixe-me explica a foto que ilustra esse post – ela mostra uma visão aérea da barragem (que aparece como uma linha escura) da Represa Guarapiranga aqui na Zona Sul de São Paulo. Essa represa é destinada ao abastecimento de água e responde por até 40% da água captada para tratamento na Região Metropolitana. Na recente seca que atravessamos nos últimos dois anos, a Guarapiranga assumiu o papel de maior fornecedor de água da Região, em substituição ao Sistema Cantareira, que como todos devem lembrar, ficou meses no chamado “volume morto”. Apesar de toda a sua importância, a Represa Guarapiranga sofre imensamente com os esgotos in natura lançados em suas águas por centenas de córregos e riachos formadores da sua bacia hidrográfica, resultado da ocupação descontrolada das suas áreas de mananciais – 1,5 milhão de habitantes vivem numa área em que deveriam existir apenas árvores. A mancha verde que você vê na foto é formada por uma floresta de aguapés, planta flutuante que prolifera em águas com abundância de matéria orgânica – ou seja, quem bebe a água da Represa Guarapiranga consome “esgoto” tratado há muito tempo e não sabia; esse é um quadro típico da grande maioria dos reservatórios e fontes de abastecimento de água no Brasil. Recomendo que você leia (ou releia) o texto que escrevi sobre o Rio Guandu, responsável por 85% do abastecimento da cidade do Rio de Janeiro e referência como manancial poluído.
As EPAR – Estações de Produção de Águas de Reuso vêm sendo utilizadas há muitos anos em diferentes países do mundo e são uma das melhores alternativas para reverter o déficit de água para o abastecimento, um pesadelo que assola bilhões de pessoas mundo afora. Estas Estações utilizam uma tecnologia de ponta conhecida como reatores biológicos de membranas, sistema que realiza uma ultrafiltração e que têm a capacidade para remover partículas sólidas com tamanho correspondente a um diâmetro mil vezes menor que um fio de cabelo. Num segundo estágio será empregado o processo de osmose por foto-oxidação, que elimina pequenas partículas como bactérias e vírus. Ao final do processo de tratamento, a água passa por uma desinfecção geral com emprego de radiação ultravioleta associada ao peróxido de hidrogênio. A água resultante é limpa, cristalina e sem nenhuma impureza. Como o objetivo final é a produção de água potável, rigorosos controles de qualidade e testes de laboratório são realizados a cada etapa do tratamento.
Essa água tratada não é lançada diretamente na Rede de Abastecimento – é lançada nos reservatórios de abastecimento, onde se mistura com a água já armazenada, ficando exposta aos agentes biológicos do meio. Se comparada com as águas altamente contaminadas por esgotos que chegam aos reservatórios, a água de reuso pode ser considerada “quase” uma água mineral. A água do reservatório será tratada numa ETA – Estação de Tratamento de Água, antes de ser distribuída para a população. Aqui em São Paulo há estudos avançados para a implantação de duas EPAR – uma nas proximidades da Represa Guarapiranga e outra no entorno do Sistema Alto Cotia.
A grande vantagem do reuso da água é a redução da pressão sobre as fontes de abastecimento de água no meio ambiente, fontes essas cada vez mais distantes dos grandes centros urbanos e com qualidade e volumes cada vez mais prejudicados pela destruição ambiental
Você pode até não ter gostado dessa notícia, mas é bom ir se acostumando desde já com essa ideia. A recente crise hídrica que se abateu sobre grande parte do Brasil nesses últimos anos é um aviso da natureza, nos informando que chega – não vai ter mais “colher de chá” para ninguém. Dentro de mais alguns anos, até o reuso da água vai ser um luxo que nem todos terão o prazer de desfrutar.
[…] onde cada litro de água faz diferença, será que ao menos foram cogitadas a construção de EPARs – Estações de Produção de Água de Reúso, para o reaproveitamento máximo das águas […]
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[…] o que aliás já vem sendo implementado há alguns anos, é a construção das chamadas EPAR – Estações de Produção de Água de Reuso. Basicamente, essas estações realizam um tratamento muito mais completo dos esgotos de uma […]
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