
Notícias tratando do aquecimento global, da destruição e queima das florestas tropicais, do aumento do nível do oceano e do derretimento da capa de gelo do Ártico e da Antártida são repetidas praticamente todos os dias nas redes sociais e nos noticiários. O mundo estaria vivendo uma crise climática sem precedentes e o futuro da humanidade estaria em risco.
Problemas ambientais, é claro, estão por todos os lados e não podemos enterrar a cabeça na areia como um avestruz para fingir que não estamos vendo nada. Entretanto, como sempre costumamos repetir aqui nas nossas postagens, ainda não existe certeza científica sobre a origem de muitos dos problemas ambientais que estamos testemunhando.
Uma notícia recente sobre o aumento da capa de gelo da Antártida vem corroborar o grau de incerteza sobre as origens de muitos desses males.
De acordo com dados do NSIDC – Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo dos Estados Unidos, a taxa de perda de gelo marinho da Antártida durante os meses quentes da primavera, que se estendem de novembro a dezembro, diminuiu para níveis abaixo da média dos últimos anos.
Entre os anos de 2021 e 2023, a capa de gelo da Antártida ganhou cerca de 108 gigatoneladas de massa por ano, um aumento recorde. No final de 2024, a extensão do gelo marinho no continente gelado chegou a 7,3 milhões de km², uma área muito próxima da média observada entre 1981 e 2010.
Os pesquisadores ainda não têm certeza do que causou essa recuperação impressionante da extensão do gelo marinho na Antártida ou se estamos falando de uma mudança temporária ou definitiva. O que é certo é que ainda precisamos aprender muito sobre o clima da terra e seus ciclos ao longo do tempo.
Nos últimos 40 anos, a velocidade do derretimento do manto ou capa de gelo da Antártida aumentou em cerca de 6 vezes. Estudos vinham mostrando que a Antártida perdeu cerca de três trilhões de toneladas de gelo nos últimos 20 anos. Além da incidência direta do calor do sol, esse derretimento também vem sendo provocado pelas águas mais quentes dos oceanos, que derretem e desestabilizam as bordas das plataformas de gelo flutuante.
Entre outros males, o aumento das temperaturas do planeta tem provocado o derretimento de grandes massas de gelo no Ártico, na Antártida (ou Antártica, que muitos especialistas afirmam ser a melhor grafia) e em geleiras localizadas em altas montanhas. A consequência direta de tudo isso é um aumento gradual do nível dos oceanos – 1,4 centímetro de aumento entre 1979 e 2017. Isso pode parecer pouco, mas já pode estar causando muitos estragos pelo mundo afora.
Se essa tendência se mantiver, o aumento do nível dos oceanos até o ano de 2100 chegará a cerca de 15 centímetros. A partir de então, o derretimento do gelo da Antártida poderá representar um aumento de 5 milímetros por ano no nível dos oceanos. Mantido esse cenário, o nível dos oceanos poderá aumentar cerca de 1,5 metro até o ano 2300, um cenário nada animador para as futuras gerações.
Para mostrar o quão preocupantes são as questões ligadas ao derretimento da capa de gelo da Antártida e do aumento do nível dos oceanos, vejamos os impactos que estão sendo previstos para um dos países mais pobres do mundo – Bangladesh. O país, que já fez parte do território da Índia, tem cerca de 148 mil km² e conta com uma população de 171 milhões de habitantes (dados de 2023).
Cerca de 90% das terras de Bangladesh têm uma altitude máxima de 10 metros em relação ao nível do mar. Para piorar, o território bangladês recebe todas as águas do trecho final de duas grandes bacias hidrográficas – dos rios Ganges e Brahmaputra. Durante o período das Chuvas da Monção, metade do território de Bangladesh já fica inundado. Com um aumento do nível das águas do Golfo de Bengala, haverá uma tendência de crescimento das terras inundáveis.
De acordo com estudos realizados pela Diretoria de Gestão de Mudança Climática e Risco de Desastres do Banco Asiático de Desenvolvimento, um eventual “aumento do nível do mar poderia inundar periodicamente 14% da superfície de Dhaka, e as zonas mais próximas a Sundarbans (um dos maiores conjuntos de manguezais do mundo) terão pior sorte”.
Os estudos também mostram que uma área de 47 mil km² próxima da costa do país ficará sujeita aos impactos de fortes tempestades, ciclones e aumento da salinidade. Nessa região vive cerca de 40 milhões de pessoas ou o equivalente a 25% de toda a população de Bangladesh.
E não precisamos falar apenas de um país no outro lado do mundo – olhemos para o nosso próprio “quintal” aqui no Brasil. A maior parte de nossa população e grande parte de nossas cidades estão em regiões na costa do país ou muito próximas.
Em muitas cidades litorâneas dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina, o avanço do mar contra o calçadão das praiais é inquestionável. Em postagens aqui do blog já mostramos vários casos como o da Praia da Macumba, na cidade do Rio de Janeiro, e de Santos e Peruíbe no litoral paulista.
Para populações que já convivem com esses problemas, uma notícia como essa traz um pouco de otimismo, mesmo que temporário. Entretanto, ressaltamos que mais estudos sobre o tema devem ser levados a cabo e os esforços para conter as emissões de GEE – Gases de Efeito Estufa, um dos principais causadores do aumento das temperaturas globais, devem ser mantidos.
O aumento da capa de gelo da Antártica deu um “refresco” nos problemas ambientais, mas é bom não se acostumar com a ideia e prudente continuar perseguindo soluções de longo prazo.
