
Ambientalistas, cientistas e fãs do desenvolvimento científico entraram em um verdadeiro êxtase após a divulgação da notícia da “desextinção” do lobo-terrível, uma espécie aparentada com os lobos atuais e que desapareceu da face da terra há mais de 10 mil.
A responsável pela suposta façanha foi a empresa Colossal Biosciences, uma startup norte-americana. De acordo com o comunicado, a empresa conseguiu trazer de volta a vida três filhotes de lobo-terrível: Romulus e Remus, dois machos que estão com cinco meses (foto), e Khalesi, uma fêmea que nasceu no final de janeiro.
De acordo com a empresa, o genoma dos animais foi reconstruído a partir de amostras de DNA antigo recuperadas de fósseis de lobo-terrível que datam de 11,5 mil e 72 mil anos. Trechos específicos desse material genético foram inseridos no DNA de lobos cinzentos, a espécie viva mais próxima do lobo-terrível. Esse DNA “editado” foi usado para recriar os filhotes.
O extinto lobo-terrível (Aenocyon dirus), também conhecido como lobo pré-histórico, tinha como habitat a América do Norte. Cientistas afirmam que a espécie surgiu na América do Sul e que migrou para a porção norte do continente há cerca de 100 mil anos.
Essa antiga espécie era um pouco maior que os lobos cinzentos atuais, com um peso que podia chegar aos 80 kg. A principal diferença entre as duas espécies está no esqueleto, que no lobo-terrível era mais pesado e massivo. Os primeiros fósseis da espécie foram encontrados na bacia hidrográfica do rio Ohio em 1854, porém, a maior fonte de ossadas desses animais são encontradas no famoso poço de piche de La Brea, que fica no centro da cidade de Los Angeles.
A espécie também tinha a cabeça maior que os lobos cinzentos atuais, com dentes mais fortes e uma mandíbula massiva, uma característica que permitia ao lobo-terrível triturar ossos com extrema facilidade. O animal também tinha patas mais curtas, o que indica que a espécie era mais lenta que o lobo cinzento.
A análise das características físicas do lobo-terrível indica que a espécie era especializada na caça de animais grandes e lentos da antiga megafauna norte-americana, espécies que vagavam pelas paisagens do pleistoceno. Nessa lista podemos incluir bisontes, antas, preguiças gigantes, mastodontes e mamutes jovens, entre outros. Essas espécies se extinguiram entre 16 mil e 10 mil anos, eventos que contribuíram fortemente para a extinção do lobo-terrível.
Inúmeros cientistas estão vindo a público para questionar o feito da Colossal. O principal questionamento é como foi feita a reconstrução do DNA do lobo-terrível. Estudos científicos costumam ser publicados em detalhes em publicações especializadas, de forma que cientistas de universidades e empresas possam avaliar a metodologia ou que possam, até mesmo, replicar todo o processo, validando assim a descoberta.
Outro questionamento frequente diz respeito a “desextinção”. Segundo o comunicado da Colossal, o DNA usado para a reprodução dos animais era de lobos cinzentos com apenas 20 trechos editados com DNA do lobo-terrível. De acordo com os especialistas, esse processo apenas “maqueou” algumas características do lobo cinzento, o que permitiu criar “lobinhos brancos”.
Essa é uma discussão que vai se estender por muitos e muitos anos…
Polêmicas à parte, os estudos da Colossal Biosciences abrem todo um leque de possibilidades técnicas para a conservação de espécies animais sob risco iminente de extinção. São casos em que o número de indivíduos é muito pequeno e a simples clonagem de indivíduos não é viável devido à baixa diversidade genética.
Um caso que podemos citar é o da vaquita (Phocoena sinus), considerada a espécie de cetáceo mais ameaçada do mundo. São pequenos golfinhos com cerca de 1,4 metro de comprimento que vivem somente em um pequeno trecho do Mar de Cortês, na costa Oeste do México, localizado junto ao delta do rio Colorado. De acordo com as últimas estimativas, existe algo entre 10 e 20 vaquitas ainda vivas.
A criação de uma técnica de reconstrução de DNA antigo como essa que, supostamente foi utilizada para recriar os lobos-terríveis, permitiria a reconstrução do DNA recolhido em ossos antigos de vaquitas, o que permitiria trazer de volta a vida indivíduos com características genéticas diversas. Estes indivíduos poderiam se misturar aos remanescentes da espécie e produzir filhotes mais saudáveis, o que viabilizaria a sobrevivência das vaquitas a longo prazo.
Nessa conta também podemos incluir espécies animais recém extintas pela humanidade. Vou citar o exemplo do baiji ((Lipotes vexillifer), também chamado de golfinho-lacustre-chinês ou golfinho branco. Essa espécie era encontrada exclusivamente na bacia hidrográfica do rio Yangtzé na China. A intensa poluição e degradação das águas desse rio foi fatal para esses golfinhos – o último baiji vivo foi visto em 2006.
A lista de espécies criticamente ameaçadas e/ou recentemente extintas é enorme. A possibilidade de reversão dessas situações a partir desse tipo de tecnologia enche de esperança o coração de ambientalistas e amantes da natureza.
Por enquanto, a única certeza que todos temos é que três lobinhos brancos e muito fofos nasceram nos laboratórios de uma empresa norte-americana. O que virá daqui para a frente é simplesmente uma grande incógnita.

[…] somente através de um esforço monumental de engenharia genética, similar ao que foi feito para a desextinção polêmica do lobo-terrível, poderá ser trazida de volta a vida – é claro que isso ainda é hipotético e muitos […]
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