
Essa semana foi bastante complicada para os habitantes de extensas áreas do Rio Grande do Sul. A passagem de um ciclone extratropical provocou fortíssimas chuvas, ventos e queda de granizo, o que gerou inúmeros problemas. De acordo com informações do Governo do Estado, cidades como Passo Fundo, Água Santa, Ijuí e Vacaria receberam volumes de chuva da ordem de 200 mm em 72 horas – isso é muita chuva!
As estimativas iniciais indicam que mais de 80 municípios gaúchos foram afetados pelas chuvas e ventos. Até a última sexta-feira, dia 8 de setembro, já haviam sido registradas 41 de mortes em decorrência das chuvas.
Conforme tratamos frequentemente nas postagens aqui do blog, vivemos em um país de clima essencialmente tropical e equatorial, onde uma forte temporada de chuvas “faz parte das paisagens” ano após ano. Infelizmente, toda essa previsibilidade do clima não se reflete em obras civis para uma convivência natural de nossas cidades com fortes chuvas.
Problemas de drenagem de águas pluviais são comuns na imensa maioria das cidades brasileiras. Dispositivos mais básicos como sarjetas e meio fio, que eu costumo chamar de “bê-a-bá” do saneamento básico, não são encontrados facilmente em muitas das nossas cidades.
Além da precariedade de obras básicas, nossas cidades sofrem com a ocupação desordenada de áreas alagáveis como margens e várzeas de rios. Não menos grave são as ocupações de encostas de morros e a devastação dos poucos fragmentos florestais remanescentes.
No caso recente do Rio Grande do Sul, onde as chuvas estão associadas a um fenômeno climático de amplitude muito maior – um ciclone extratropical, as consequências das chuvas são ainda mais devastadoras como todos estamos testemunhando.
Infelizmente, estamos enfrentando um problema ainda mais dramático – a intensidade desses fenômenos climáticos está sendo amplificada por outro fenômeno, esse de escala mundial – o El Niño.
Conforme já tratamos em postagens anteriores, os meteorologistas confirmaram a chegada de um forte El Niño no último mês de junho. Esse é um fenômeno climático que surge em função do aquecimento anormal de uma extensa faixa de águas na faixa equatorial do Oceano Pacífico e tem efeitos no clima de todo o mundo.
Em média, as águas nessa faixa do oceano ficam 0,5º C mais quentes por um período entre seis meses e dois anos durante a duração do fenômeno. Apesar de parecer pouca coisa, esse aumento das temperaturas nas águas de uma faixa no Oceano Pacífico tem repercussões em todo o mundo.
Em 2015, esse fenômeno prejudicou lavouras de cacau, chá e café em toda a Ásia e África. Também provocou uma forte seca no Sudeste Asiático, favorecendo o surgimento de vários incêndios florestais. Naquele ano também se observou o inverno mais quente já registrado nos Estados Unidos.
Aqui na América do Sul, o surgimento do El Niño pode resultar em períodos de seca na região Centro-Norte e de maior umidade na região Sul, Na Argentina, o fenômeno tende a provocar chuvas mais intensas.
E, preparem-se – segundo as previsões dos especialistas, esse El Niño será particularmente mais intenso que a média.
