QANAT: UMA EFICIENTE TECNOLOGIA DE IRRIGAÇÃO DA ANTIGUIDADE

MOROCCO. Jorf near Erfoud. Underground canals. 1993.

Nas últimas postagens temos apresentado alguns exemplos gritantes de problemas criados pelo uso abusivo de água em sistemas de irrigação. A agricultura é, de longe, a atividade humana que mais consome água – na média, 70% da água disponível é usada com fins agrícolas, onde há um desperdício da ordem de 50%. Porém, há alguns bons exemplos, que podem e devem ser copiados. O qanat iraniano é um deles.

Qanat é um sistema de distribuição e gestão de água, criado na antiga Pérsia (atual Irã) no primeiro milênio antes de Cristo. O sistema é usado em regiões áridas e semiáridas, permitindo o transporte e a distribuição da água entre um poço e centros habitacionais e lavouras, com extrema eficiência e baixas perdas. A partir da Pérsia, o sistema passou a ser usado no Afeganistão, Paquistão e Ásia Central, sendo introduzido depois em todo o Oriente Médio, Norte da África e Espanha. Em cada um desses lugares, o qanat recebe diferentes nomes. O sistema de qanats é utilizado atualmente em 34 países do mundo – somente no Irã, existem cerca de 40 mil qanats ativos, que somados têm uma extensão total de 217.800 km, o que mostra a importância desse sistema para o abastecimento da população e para uso pela agricultura.

O qanat é construído a partir da escavação de poços verticais, alinhados desde uma região com reservas de água no subsolo até um centro habitacional ou uma área agrícola. Entre os poços são escavados túneis de ligação, através dos quais a água corre por força da gravidade. Todo o processo de escavação dos poços e túneis é manual, feito com o uso de ferramentas simples como martelos, talhadeiras e níveis; os entulhos da escavação são colocados em cestas, que são içadas por uma equipe de apoio na superfície. A escavação é um trabalho penoso e demorado, normalmente feito por um único homem. A vida útil dessas estruturas subterrâneas é extremamente longa – alguns qanats do Irã estão em uso contínuo há mais de 2.000 anos.

Esses conjuntos de poços e túneis, que podem ter dezenas de quilômetros de extensão, formam verdadeiros aquedutos subterrâneos, onde a água flui continuamente e livre das perdas por evaporação, comum em canais superficiais ou em represas. Toda a infraestrutura dos qanats é construída de forma a permitir o fácil acesso de equipes de manutenção, cujo papel é manter os túneis livres de entulhos arrastados pela correnteza ou originados a partir de desmoronamentos provocados por movimentações do solo ou terremotos – é esse o segredo da longevidade dos qanats.

A parte final do sistema de aquedutos é conhecido no Irã como “pishkar“, onde é escavado um poço mais largo, a partir do qual a água é retirada para uso pela população e pelos agricultores, sendo usada com muito critério e economia. Nas regiões onde o sistema de qanats é utilizado, a disponibilidade de água por habitante é baixíssima, da ordem de 1.000 m³ por habitante/ano. Em muitas regiões, essa disponibilidade média mal chega aos 500 m³ por habitante/ano, carência que moldou os hábitos de consumo da população a uma constante economia e racionalização do uso da água. 

Um dos qanats mais importantes e impressionantes do Irã, elevado à condição de Patrimônio da Humanidade pela UNESCO – Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, é conhecido como Ghasabe. Construído há cerca de 2.500 anos, o aqueduto tem cerca de 33 km de extensão, onde foi necessária a abertura de 470 poços – os túneis têm uma profundidade média de 340 metros. Cerca de 2 mil hectares de áreas agrícolas da província são irrigados com a água desse aqueduto. De acordo com cálculos de especialistas, um volume equivalente a 56 mil toneladas de terra e rocha foi removida durante a construção desse qanat, o que o coloca entre as grandes obras da antiguidade.

O sistema dos ganats é um exemplo do uso racional da água em sistemas agrícolas, um exemplo que deve ser seguido e aperfeiçoado por populações e países mundo afora.

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