O LONGO CAMINHO SEGUIDO PELOS ESGOTOS

Ocupações - Carrão

É quase certeza que você conhece ou pelo menos já ouviu falar do conto infantil da Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau – a menina saiu de casa para visitar a sua avó que morava no meio da floresta e foi abordada pelo Lobo Mau, que ensinou um outro caminho, bem mais longo; enquanto a Chapeuzinho seguiu por este caminho longo, o Lobo correu na direção da casa da vovó pelo caminho curto para preparar uma emboscada para capturar a menina… Bem, encurtando o conto, no final apareceu o Caçador, que matou o Lobo e salvou todo mundo.

Pois bem – usei esta introdução para falar que, no caso dos esgotos sanitários, existem dois caminhos também: um caminho longo e difícil que leva os efluentes até uma Estação de Tratamento de Esgotos; e também existe um caminho fácil, onde os efluentes saem pelas tubulações dos imóveis e são despejados no curso natural de água mais próximo. E, como no conto da Chapeuzinho Vermelho e na vida real, o caminho mais rápido, fácil e curto está muito longe de ser o melhor.

No caminho difícil encontraremos todo um conjunto de obras civis caras, de difícil realização e que não costumam render muitos votos para os políticos: Redes Coletoras de Esgotos; Poços de Visita, Poços de Inspeção e Terminais de Limpeza (esta é a postagem mais visitada do blog); Coletores Tronco, Interceptores e Linhas de RecalqueEstações Elevatórias de Esgotos e, finalmente, as Estações de Tratamento de Esgotos. Através dos links, você poderá acessar todas as postagens no arquivo do blog e não precisamos perder tempo reescrevendo estes artigos. Vamos nos concentrar nas soluções fáceis que são usadas para a eliminação dos esgotos e que são fatais para a saúde da população e para o meio ambiente – o despejo dos esgotos in natura nos cursos de água de uma região. A foto que ilustra este post, uma imagem nada agradável, foi tirada em uma comunidade na Zona Leste da cidade de São Paulo. Observem que, além do despejo direto de esgotos no córrego, o que por si só já torna o lugar absolutamente insalubre para se viver, a imagem deixa claro que é uma área sujeita a enchentes (é possível ver marcas de umidade nos paredões) e há sinais de resíduos lançados nas águas. Eu conheço comunidades com todos estes problemas em outras grandes e médias cidades como Rio de Janeiro, Niterói, Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre, Manaus, Belém, Porto Velho, Recife, Maceió, Santos, Campinas, Marília entre outras – imagino que aí onde você mora também seja fácil de encontrar comunidades muito parecidas. Em muitos destes lugares, esta situação está muito mais para regra do que para a exceção.

Como relembramos em postagem recente, os córregos, riachos e rios de uma região geográfica qualquer são receptores naturais das águas pluviais, ou seja, são estes corpos d’água que recebem todo o volume de águas das chuvas e fazem a drenagem no menor tempo possível, evitando assim a formação de grandes empoçamentos ou enchentes. O relevo desta região passou por um longo processo de erosão, onde cada um dos cursos d’água escavou um canal devidamente dimensionado para comportar tanto as suas águas naturais quanto os volumes de água das chuvas, criando ambientes naturais equilibrados. Comentamos também que o crescimento desordenado das cidades e as ações antrópicas alteram esse equilíbrio e, como resultado, temos as famosas enchentes de Verão nas grandes e médias cidades, que se repetem ano após ano. Esse fabuloso sistema natural de canais de drenagem NÃO FOI “FEITO” PARA FUNCIONAR COMO REDE COLETORA DE ESGOTOS DE UMA CIDADE.

Corpos d’água contaminados por esgotos e sujeitos a transbordamentos em dias de chuva colocam a saúde da população em risco – águas contaminadas podem transmitir doenças como Febre Tifóide, Disenteria, Cólera, Diarreia, Hepatite, Leptospirose Giardíase, entre outras enfermidades. Também podem ser adicionados aos problemas o despejo de resíduos nas águas: lixo, entulho, restos de materiais de construção, animais mortos, resíduos de óleos e graxas entre outros. Como consequência destas agressões, as águas poluídas e empoçadas nestes corpos d’água passam a funcionar como “maternidade” de vetores como ratos, pernilongos, baratas, pulgas, percevejos, aranhas e companhia. Em resumo: destrói-se o sistema natural de canais de drenagem e cria-se um foco permanente de risco à saúde pública. Como se tudo isso já não fosse pouco, são essas águas dos cursos naturais as mesmas que serão utilizadas por populações a jusante (ou seja, correnteza abaixo) em sistemas de abastecimento de água que, com baixa qualidade e excesso de poluentes, necessitarão de grandes volumes de produtos químicos para o tratamento e potabilização. O caminho fácil para os esgotos acaba se tornando caro e trabalhoso para todos, sem aparecer nenhum Caçador para salvar a população.

Nas próximas postagens vamos começar a analisar os problemas criados pelo lançamento de esgotos e de resíduos nas fontes de água e os problemas de abastecimento criados para muitas cidades e regiões brasileiras.

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