
A preocupação com o armazenamento e a preparação dos alimentos acompanha a humanidade desde os primórdios da espécie. As cabaças (palavra derivada do árabe kara bassasa) foi uma das primeiras plantas cultivada pelos seres humanos. Originárias da África, assim como nossos ancestrais Homo sapiens, as sementes da planta foram carregadas inicialmente para a Ásia, depois para a Europa e Américas, cultivadas principalmente para prover as famílias de um recipiente impermeável para o armazenamento de água, de grãos, óleos, essências e temperos como o sal. A dureza e a resistência das cabaças eram ideais para acompanhar nossos ancestrais nas suas intermináveis expedições de caça e coleta.
Com o nosso desenvolvimento cultural e tecnológico, vieram as cerâmicas, as peças em madeira entalhada, em pedra, em couro, em vidro, até finalmente chegarmos a era dos metais, tão raros e caros que foi somente na alta Idade Média que as populações mais pobres tiveram acesso a esse tipo de recipiente. Foi por volta do ano 1600 na Alemanha que alguns artesãos começaram a fabricar latas com o objetivo de armazenar alimentos secos como farinhas e grãos. Eram utilizadas folhas de zinco, chumbo e, particularmente, as folhas de ferro zincadas, um processo secreto criado na Bavária no século XI e guardado a sete chaves pelos governantes dos Estados Alemães.
No final do século XV o processo de fabricação dessas folhas metálicas lentamente começou a ser divulgado para o resto da Europa e, após alguns aperfeiçoamentos, surgiu a famosa folha de flandres – uma folha fina de ferro, isenta de ferrugem, que era mergulhada num tanque com estanho fundido, processo que criava um material resistente à corrosão e que passou a permitir o acondicionamento de alguns alimentos úmidos e óleos.
Em meados do século XVIII as tabacarias inglesas passaram a utilizar latinhas de folha de flandres para embalar rapé e tabaco. Porém, até o final deste século continuaram os receios com a utilização das latas para embalar alimentos úmidos e líquidos pois se temia a contaminação dos alimentos.
Foi o imperador e famoso general Napoleão Bonaparte (1769-1841) o grande responsável pelo incentivo ao desenvolvimento e aperfeiçoamentos dos processos de enlatamento dos alimentos. Preocupado em desenvolver uma tecnologia que permitisse a conservação, transporte e armazenamento de alimentos para as suas tropas militares, Napoleão Bonaparte criou um concurso, com alta premiação a quem apresentasse uma alternativa prática e segura. O vencedor da premiação foi Nicholas François Appert (1750-1841), que desde o ano de 1795 vinha desenvolvendo experimentos de esterilização de alimentos em frascos de vidro hermeticamente fechados, fervidos em água quente por um curto espaço de tempo. Appert observou que alimentos acondicionados em latas e fervidos também conservavam suas características e duravam por um longo período. Em 1810, Napoleão Bonaparte entregou pessoalmente a Appert o prêmio de 12.000 francos, dinheiro usado pelo inventor para iniciar a primeira empresa comercial de alimentos enlatados do mundo.
Em 1852, um sobrinho de Appert, Raymond Chevallier-Appert patenteou o sistema autoclave, que usava a pressão e vapor em altas temperaturas para esterilizar os alimentos com maior eficiência, e também o manômetro, instrumento que permitia controlar a pressão e a temperatura destas autoclaves. Em 1855, foi patenteada uma invenção que tornou o consumo dos alimentos e demais produtos enlatados ainda mais simples: o abridor de latas criado pelo inglês Robert Yates. Em 1866, o americano J. Osterhoudt simplificou ainda mais o processo de abertura com a criação das latas com ranhura e com uma chavinha de arame fixa.
Ao longo de todo o século XIX diversos cientistas se dedicaram ao estudo da conservação dos alimentos, com atenção especial ao processo do enlatamento, que todos sabiam funcionar, sem que ninguém entendesse exatamente o porquê. Destacam-se os estudos do químico Joseph Louis Gay Lussac (1778-1850) e de Louis Pasteur (1822-1895), que em 1862 comprovou que eram os micro organismos presentes nos alimentos os causadores da deterioração e que o calor aplicado aos alimentos já enlatados matava esses organismos, que não conseguiriam recolonizar o ambiente por causa do fechamento hermético das latas.
O século XIX com a colonização do Oeste americano e de grandes extensões da América do Sul e da África, além de diversos conflitos armados, deu um grande impulso para as empresas processadoras de alimentos e produtos enlatados, estimulando o aperfeiçoamento dos processos de preparação, fechamento, esterilização e distribuição dos produtos enlatados. O século XX, com duas Grandes Guerras – a Primeira entre 1914 e 1918, e a Segunda entre 1939 e 1945, entre outros grandes conflitos regionais, elevou a produção e o consumo de produtos enlatados a níveis inimagináveis no século anterior, popularizando esse tipo de embalagem em todo mundo.
Continuaremos no próximo post.

[…] mais velho deve se lembrar das velhas embalagens que gerávamos em nossas casas. Haviam muitas embalagens de lata, garrafas e embalagens de vidro e muito papel e papelão. Os mercados forneciam sacos de papel […]
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