De acordo com matéria publicada recentemente na revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, o Brasil é um dos países que mais gastam água para a produção de bens de consumo e na agricultura. Neste trágico ranking, nosso país ocupa o 4° lugar entre os grandes gastadores de água. Entre as causas desse uso abusivo, podemos adiantar que a falta de uma cobrança pelo uso da água e os sistemas de irrigação obsoletos estão entre as principais razões.
Escolhi o caso da produção dos ovos como um exemplo desse descaso com o alto consumo de água: gastar 200 litros de água para produzir um ovo com apenas 60 gramas de proteína é um absurdo. Vamos entender o que acontece:
No ano de 2015 o Brasil atingiu a maior produção de ovos dos últimos 30 anos – dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) mostram que a produção brasileira de ovos totalizou no ano passado 39,5 bilhões de unidades, graças a um plantel de 91,2 milhões de aves produtoras (poedeiras). O consumo per capita atingiu a marca de 191,7 ovos por habitante. A crise econômica que o país vem enfrentando nos últimos anos é uma das principais responsáveis por esse crescimento na produção – o ovo é uma das proteínas mais baratas do mercado, com lugar garantido na mesa dos brasileiros.
Para manter uma criação com 10.000 galinhas poedeiras de ovos para consumo, são gastos aproximadamente 5.000 litros de água por dia. Esse consumo considera a água de dessedentação, limpeza e higienização das instalações, lavagem dos ovos e higienização dos equipamentos, além dos gastos nas instalações do armazém de processamento de ovos. As aves consomem pequenas quantidades de água, porém com muita frequência, principalmente para regular a temperatura do corpo. Eventuais falhas no suprimento de água em criadouros em meses quentes podem resultar na morte de centenas de aves em poucas horas.
O grande vilão no consumo de água na cadeia de produção dos ovos está na produção do milho utilizado na produção da ração das aves: cada quilo de milho produzido necessitará de 900 litros de água, utilizada fartamente nos processos de irrigação mecanizada. Na recente seca que atingiu diversas regiões do Brasil entre os anos de 2014 e o início de 2016, as safras de milho sofreram uma forte quebra e os produtores de aves e de suínos, que também consomem ração a base de milho, sofreram imensamente com o aumento dos custos de produção.
O sistema de irrigação de plantações por aspersão, um dos mais utilizados no campo, representa um consumo de água 30 a 50% maior que sistemas mais modernos que utilizam a técnica do micro gotejamento. Sistemas de gestão informatizados de plantações permitem que os técnicos agrícolas realizem um planejamento dos volumes de água necessários em cada hectare plantado, variando a quantidade de água liberada nas plantas em cada um dos ciclos do crescimento. Essas novas tecnologias que estão em estágio de desenvolvimento no Brasil é que vão permitir reduções expressivas no consumo de água na produção de ovos. As pobres galinhas que fazem o “trabalho” pesado desta produção não podem ser privadas de sua dose diária de água fresca e de ração.
Talvez você tenha achado exagerado os gastos de água na produção dos ovos: saiba que para se produzir um único quilo de carne bovina, esse consumo de água salta para 15.500 litros ; a carne suína tem um consumo menor: 5.990 litros de água para quilo de carne.
Esses rápidos exemplos dão uma ideia da ineficiência dos sistemas produtivos da agropecuária em relação ao uso adequado dos recursos hídricos. Serão necessárias várias mudanças nos mecanismos de produção de todas as cadeias, objetivando um uso mais racional da água e na sustentabilidade ambiental e econômica dessas atividades.
[…] e corretivos de solos utilizam matérias primas de origem mineral; para a produção de carnes e ovos, a ração dos animais é complementada com vitaminas produzidas a partir de sais minerais criados […]
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