
O café já foi tema de inúmeras postagens aqui no blog. Além de ter sido um produto agrícola que marcou uma virada na história econômica do nosso país a partir das primeiras décadas do século XIX, a produção do café foi uma das principais responsáveis pela devastação da Mata Atlântica na Região Sudeste do Brasil.
O café é originário da região de Cafa, na Etiópia. De acordo com a tradição oral da população, um jovem pastor de cabras observou que os seus animais gostavam de comer os frutos vermelhos e as folhas de alguns arbustos, ficando muito ativos depois disso. Conta-se ainda que foi a partir daí que os habitantes locais passaram a preparar chás a partir das folhas e frutos da planta.
Com a popularização do consumo do café, sementes da planta foram levadas para o Iêmen, no Sul da Península Arábica, onde passou a ser conhecido como kahwaf ou cahue, palavras que em árabe significam “força”. Manuscritos locais do século VI de nossa era já falavam do cultivo da planta em terras árabes – inclusive, o nome científico da planta, Coffea arabica, dado pelo cientista Lineu, veio daí. Graças ao intenso tráfego de caravanas de mercadores e de tribos beduínas, o consumo e o gosto pela bebida foram disseminados por todo o Oriente Médio ao longo do tempo.
A partir do século XIV, a produção de café do Iêmen ganhou escala comercial e o principal porto exportador do país ficava na região de Moka, um nome que passou a estar associado aos melhores cafés do mundo. Em 1475, foi inaugurada a primeira cafeteria do mundo na famosa cidade de Constantinopla (atual Istanbul) na Turquia – o Kiva Han. O estilo social de consumo de café criado pelos turcos se popularizou por todo o Oriente Médio, principalmente no Egito. No final do século XVII já existiam perto de 650 Bayt Gahwa, as famosas cafeterias do Cairo, locais que eram o ponto de encontro de artistas e intelectuais.
O café chegou ao Brasil em 1727, pelas mãos do sargento-mor Francisco de Melo Palheta (ou Palhete, segundo algumas fontes), um militar a serviço do Governo de Portugal e que realizou trabalhos de demarcação de limites entre a Colônia portuguesa e a Guiana Francesa. As primeiras mudas foram plantadas na região de Belém do Pará e gradativamente foram espalhadas por fazendas do interior do país, principalmente na Região Nordeste.
A partir de meados do século XVIII, o café começou a ganhar uma enorme popularidade na Europa e nos Estados Unidos. Foi justamente nessa época que as primeiras mudas da planta chegaram ao Rio de Janeiro, onde o clima e os solos se mostraram extremamente promissores para o cultivo do café.
Sem nos prendermos a maiores detalhes, a cultura cafeeira se espalhou por extensas áreas dos Estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo. O Brasil rapidamente se transformou no maior produtor e exportador de café do mundo.
No início do século XX, a produção e a exportação de café representavam 50% do PIB – Produto Interno Bruto, do país. A riqueza criada pelo café foi fundamental para o financiamento da industrialização do Brasil. Essa pujança econômica durou até a grande crise econômica de 1929, quando ocorreu a quebra da Bolsa de Valores de Nova York.
Entre altos e baixos, a cultura veio mantendo a sua importância econômica. O Brasil continua sendo o maior produtor de café do mundo, respondendo por 1/3 da produção mundial.
Essa produção, desgraçadamente, está ameaçada pelas mudanças climáticas. Altas temperaturas e redução das chuvas em importantes áreas de produção poderão comprometer irremediavelmente a produção de café nos Estados de São Paulo e de Minas Gerais.
Um dos maiores problemas está sendo as altas temperaturas no momento da floração dos cafezais entre os meses de setembro e outubro. Originária de regiões montanhosas da África, a planta requer temperaturas amenas nessa fase do seu ciclo de produção.
Temperaturas acima dos 34º C nesse período estão se tornando cada vez mais comuns, o que ameaça fortemente a floração das plantas. De acordo com modelagens climáticas, esse ciclo de altas temperaturas deverá aumentar em até 10 dias até o ano de 2050.
Outro problema é a redução das chuvas nas regiões produtoras. Conforme já tratamos em outras postagens aqui do blog, as chuvas em grande parte das regiões Central e Sul do Brasil dependem da chegada de pesadas nuvens de chuva a partir da Floresta Amazônica – são os chamados “rios voadores da Amazônia”.
As mudanças climáticas ameaçam o delicado mecanismo climático da região Amazônica, o que poderá resultar em reduções de chuvas no restante do Brasil. Além do café, outras culturas agrícolas importantes do país também estão sob ameaça.
As mudanças climáticas estão criando tempos novos e complicados que afetarão a vida de todos nós.
