AGORA É OFICIAL: METEOROLOGISTAS CONFIRMAM A CHEGADA DO EL NIÑO

Depois de toda uma série de comunicados cautelosos, o Centro de Previsão Climática da NOAA – Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos, na sigla em inglês, confirmou a formação do fenômeno climático El Niño entre o final do outono e início do inverno. Só para esclarecer – o início oficial do inverno no Hemisfério Sul é dia 21 de junho. 

O El Niño é um fenômeno climático com reflexos em todo o mundo e que se caracteriza por um aquecimento anormal e persistente das águas superficiais do Oceano Pacífico ao longo da Linha do Equador. Em média, as águas nessa faixa do oceano ficam 0,5º C mais quentes por um período entre seis meses e dois anos durante a duração do fenômeno.  

Apesar de parecer pouca coisa, esse aumento das temperaturas nas águas de uma faixa no Oceano Pacífico tem repercussões em todo o mundo. Um exemplo foi o forte El Niño que se formou em 2015, que prejudicou lavouras de cacau, chá e café em toda a Ásia e África. Também provocou uma forte seca no Sudeste Asiático, favorecendo o surgimento de vários incêndios florestais. 

Naquele ano também se observou o inverno mais quente já registrado nos Estados Unidos. Na América do Sul, o surgimento do El Niño pode resultar em períodos de seca na região Centro-Norte e de maior umidade na região Sul, Na Argentina, o fenômeno tende a provocar chuvas mais intensas.   

De acordo com informações do INMET – Instituto Nacional de Meteorologia, órgão vinculado ao Ministério da Agricultura e Pecuária, a chegada do El Niño aumenta o risco de chuvas na Região Sul do País e de seca nas Regiões Norte e Nordeste. Porém, o órgão esclarece que existem outros fenômenos climáticos que precisam ser levados em consideração. 

No El Niño de 2015, exemplificando melhor, as chuvas no último trimestre do ano na Amazônia diminuíram 50% em relação à média e continuaram abaixo da média durante o primeiro semestre de 2016. De acordo com dados do INMET essa foi a maior redução no nível de chuvas na região desde 2002. 

Na Região Nordeste no mesmo período, o El Niño provocou uma seca extrema e excepcional em todos os Estados da Região, sendo que Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte foram mais fortemente atingidos. 

De acordo com dados da FUNCEME – Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos, 75% do território do Ceará apresentou seca extrema ou excepcional. Dos 184 municípios do Estado, 128 decretaram situação de emergência por conta da seca ou da estiagem. O volume de água armazenada nos principais reservatórios do Estado caiu para 8,8%, um dos piores resultados em mais de 20 anos. 

Já na Região Sul, esse período foi marcado por chuvas intensas, o que prejudicou as fases de semeadura e desenvolvimento de lavouras como a soja e o milho. Na região Centro-Oeste, onde a agricultura é uma das principais atividades econômicas, o início da temporada das chuvas atrasou, prejudicando bastante os agricultores, que seguem um rigoroso calendário com as datas de plantio e de colheitas.

É esse o cenário de expectativas e de incertezas que cerca a chegada do El Niño 2023, num país onde as atividades agropecuárias ganharam uma importância ímpar nos últimos anos. Todos devem ter acompanhado nos noticiários a grata surpresa que o crescimento do agronegócio trouxe para o PIB – Produto Interno Bruto, do primeiro semestre de 2023. 

Segundo os números divulgados pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o PIB avançou 1,9% no período. Esse resultado foi turbinado pelas atividades agropecuárias, que registraram um crescimento de 21,6% no período, o maior desde 1996. 

A chegada do El Niño poderá jogar “água na fervura desse angu”, ou seja, tanto o excesso de chuvas em algumas regiões quanto a seca em outras poderão comprometer a agricultura e a pecuária, corroendo todos os excepcionais ganhos desses setores no primeiro trimestre de 2023. 

Em espanhol, El Niño significa “o menino”, que nós aqui no canal costumamos chamar de “menino travesso” – ele mal chegou e todos nós já estamos preocupados com as traquinagens e problemas que ele vai causar. Ele, bem por acaso, tem uma irmã – La Niña, cuja ocorrência é alternada com o El Niño e causa tantos problemas climáticos quanto o irmão. 

A todos nós resta esperar para ver qual vai ser o tamanho do estrago desta vez… 

14 Comments

  1. Avatar de Desconhecido

    […] Diante dessa fabulosa tragédia ambiental “nunca vista na história deste país”, todos os antigos defensores do meio ambiente de outrora estão mais calados do que nunca. A grande mídia está num silêncio vergonhoso e o Governo atual se limita a falar, de forma bastante envergonhada, que a culpada pela situação atual é a grande seca que está sendo provocada pelo fenômeno climático global El Niño.  […]

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