
De acordo com informações da Agência Federal das Florestas da Rússia, o país enfrentava 54 grandes incêndios florestais em 18 regiões – principalmente na Sibéria e no Extremo Oriente, até o dia 8 de maio. Esses incêndios já haviam consumido até então cerca de 9,3 mil km² de matas, deixando ao menos 21 mortos.
Essa área é pouca coisa menor que os 11,5 mil km² devastados na Floresta Amazônica em 2022. Considerando que já estamos chegando a meados de junho e que não consegui localizar dados mais atualizados sobre os incêndios na Rússia, é muito provável que uma área bem maior já tenha sido destruída pelo fogo até esse momento.
A Floresta Amazônica, como imagino que todos a essa altura já saibam, é a maior floresta tropical (o mais correto é usar o termo equatorial) do mundo, ocupando uma área com aproximadamente 5,5 milhões de km² no Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa.
Muita gente nem imagina, mas, a Amazônia está bem longe de ser a maior floresta do mundo ou ainda o “pulmão do mundo”. Esse título cabe, com louvor, à taiga, a floresta boreal do Hemisfério Norte ou, simplesmente, a floresta das coníferas. Essa floresta ocupa uma área de 15 milhões de km², praticamente três vezes o tamanho da Floresta Amazônica.
A taiga circunda toda uma faixa de terras do planeta no Hemisfério Norte entre os paralelos 40 e 70 graus. A floresta engloba terras na Escócia, Noruega, Suécia, Finlândia, Rússia, Cazaquistão, Coreia e Norte do Japão. A taiga prossegue do outro lado do Estreito de Bering no Alasca, região que pertence aos Estados Unidos, no Canadá e chega até na Groenlândia, ilha autônoma que pertence à Dinamarca. As principais espécies vegetais dessa floresta são pinheiros, piceas, bétulas e lariços.
Ocupando terras remotas e pouco habitadas do “Norte gelado”, a taiga permaneceu praticamente intocada por vários séculos. As grandes agressões ao bioma começaram após a formação da União Soviética, quando a exploração da madeira passou a atender cotas da burocracia soviética. Frentes de trabalhadores, muitos deles presos políticos do regime, eram enviadas para as regiões onde o bioma predominava. Outra frente importante de pressão, essa no lado ocidental, começou no Canadá, país que se transformou em importante produtor de madeira, celulose e papel.
Devido ao clima extremo das regiões boreais, com longos invernos congelantes, as árvores da taiga têm um ritmo de crescimento muito mais lento do que vemos nas áreas tropicais e equatoriais. Enquanto as árvores da Floresta Amazônica recebem uma forte radiação solar durante praticamente todos os dias do ano, a vegetação da taiga conta com insolação adequada entre 3 e 5 meses ao logo do ano – quanto mais ao Norte, menos dias de forte insolação.
Diferente das florestas tropicais, onde o grande agente destruidor são os seres humanos, a taiga também está sofrendo um processo de destruição “natural” por causa do aquecimento global (observem o uso das aspas). Com o aumento gradual das temperaturas em toda a área de ocorrência da taiga, suas matas estão ficando cada vez mais susceptíveis ao fogo.
Assim como ocorre em outros diferentes biomas, o fogo faz parte da ecologia da taiga há milhares de anos. Incêndios iniciados naturalmente consomem restos de galhos e de árvores mortas, ajudando a revitalizar as florestas. Com o aumento das temperaturas globais nas últimas décadas, os cientistas passaram a observar um aumento no volume e na intensidade dos incêndios florestais no bioma. Dados consolidados indicam que a floresta teve cerca de 100 mil km² de vegetação carbonizada apenas em 2019 – principalmente na Rússia, no Alasca (que pertence aos Estados Unidos) e no Canadá.
E aqui existe um grande problema: florestas localizadas em regiões tropicais e equatoriais recebem grandes quantidades de energia solar e, por isso, conseguem se recuperar rapidamente. Uma grande área da Floresta Amazônica devastada por um incêndio ou pela exploração da madeira consegue se recuperar em uma fração do tempo de uma área equivalente na taiga.
É importante citar que essa “recuperação” depende de alguns fatores – a presença da floresta ao redor da área destruída é um deles. Árvores e plantas em geral produzem continuamente sementes, brotamento de caules e de folhas, esporos, entre outras estratégias de reprodução, a fim de garantir a sobrevivência das espécies. Encontrando solo fértil, água e luz solar, novas plantas, fungos e árvores vão surgir.
Outro fator primordial é a conservação da camada de humus fértil sobre os solos. Na Amazônia, conforme já citamos em outras postagens, cerca de 90% dos solos têm baixíssima fertilidade e a vegetação depende dessa camada de humus para sobreviver. Para que essa camada de humus seja preservada, é essencial que uma camada de vegetação rasteira ou mata de capoeira se forme o mais rápido possível, evitando que essa camada fértil seja arrastada pelas águas das chuvas.
Entre os anos de 2009 e 2010, eu visitei várias áreas nos Estados de Rondônia e do Amazonas que foram devastadas nas décadas de 1970 e 1980, e que depois acabaram sendo abandonadas pelos colonizadores (coisa que aconteceu bastante por lá). A Floresta Amazônica voltou a ocupar essas terras com vigor.
Um outro problema grave que vem sendo observado em toda a região ocupada pela taiga é o aumento da ocorrência de pragas de insetos destruidores da madeira e das folhas das árvores. Nas regiões de Yukon, no Canadá, e no Estado norte-americano do Alaska, os riscos são representados pelo besouro-do-mato (Dentroctonus rufipennis).
Na Colúmbia Britânica, no Canadá, a ameaça é o besouro-do-pinheiro-da-montanha (Dendroctonus ponderosae). Em outras áreas do bioma as ameaças atendem por nomes como mosquito-do-lariço, lagarta-dos-pinheiros (Choristoneura fumiferana), entre muitos outros. O ataque dessas pragas pode levar as árvores a uma morte precoce.
Enquanto o fogo, as pragas e a exploração da madeira na taiga “correm soltos”, é ensurdecedor o silêncio dos defensores da Amazônia como Greta Thunberg (a sua terra natal – a Suécia, é coberta pela taiga), Leonardo di Caprio e Emmanuel Macron, entre muitos outros.
Só para cutucar toda essa gente – os grandes volumes de carbono liberados pelos incêndios na taiga são tão prejudiciais ao planeta quanto as queimadas e os incêndios na Amazônia…
