A DESTRUIÇÃO DE FLORESTAS NATIVAS NA… ROMÊNIA

A IKEA, empresa multinacional sueca que, desde 2008, é considerada a maior fabricante de móveis de madeira do mundo, foi colocada no banco dos réus após a divulgação de um relatório do Greenpeace, uma das maiores organizações ambientalistas do mundo. A acusação: produção e venda de móveis fabricados com madeiras extraídas ilegalmente de florestas nativas na Romênia. 

Com uma rede de mais de 460 lojas em 59 países, a IKEA ganhou fama mundial pela criação e produção de móveis com design minimalista e funcional, aliando beleza e praticidade. Além de móveis, as lojas também vendem artigos de decoração, eletrodomésticos, utensílios domésticos e acessórios para o lar, além de alimentos. 

Um dos diferenciais criados pela IKEA foi a venda de móveis em kits, onde a montagem fica por conta do comprador. O conceito tinha como objetivo baratear o preço de venda e reduzir o consumo de materiais de embalagem. Graças a isso, a empresa foi uma das primeiras a ser associada ao conceito de “amiga da natureza”. 

O relatório do Greenpeace caiu como uma bomba no colo da empresa. 

A Romênia produz cerca de 40 milhões de metros cúbicos de madeira a cada ano. Segundo estudos do Greenpeace, metade desse volume tem origem na exploração ilegal de florestas nativas, especialmente da região dos Montes Cárpatos.  

Segundo o Greenpeace, sete fornecedores da IKEA são compradores usuais de parte dessa madeira ilegal. A organização conseguiu rastrear mais de 30 produtos produzidos por essas empresas até 13 lojas da IKEA em países como a França, Alemanha e Inglaterra. 

A IKEA, como é do seu direito, vem se defendendo das acusações e reafirmando seus compromissos com a sustentabilidade ambiental e uso de madeira certificada e de origem em áreas de reflorestamento. A empresa também afirma possuir 2.800 km² de floretas próprias, sendo que 500 km² dessas florestas ficam na Romênia. Entretanto, ficou numa situação no mínimo embaraçosa depois dos móveis terem sido encontrados em suas lojas. 

Os Montes Cárpatos formam uma cordilheira com cerca de 1.500 km de comprimento, que se estende entre a Europa Central e o Leste Europeu, incluindo áreas na República Checa, Eslováquia, Polônia, Romênia e Ucrânia. Suas montanhas e vales abrigam os maiores fragmentos de floresta nativa da Europa e importantes populações da fauna silvestre como ursos-pardos, lobos, camurças e linces. 

A área total dos Montes Cárpatos é de 209 mil km², sendo que 53% dessa área fica na Romênia, o que coloca o país no centro dos problemas de exploração ilegal de madeira na Europa. A questão é agravada pela ineficiente estrutura burocrática do Governo local herdada dos tempos do comunismo. Segundo afirmações do Greenpeace, funcionários públicos responsáveis pela fiscalização da atividade e pela gestão das áreas de preservação ambiental são, muitas vezes, facilmente corrompíveis pelos madeireiros. 

Uma das regiões romenas onde o problema é mais grave é a Transilvânia, região localizada no centro do país e que ganhou fama em todo o mundo através das histórias de vampiros como o conde Drácula, imortalizado no livro de Bram Stoker. A região é em grande parte de difícil acesso e tem uma população bastante rarefeita, o que facilita as atividades ilegais. 

As florestas dos Montes Cárpatos abrigam um terço de todas as espécies vegetais da Europa e escondem alguns dos últimos refúgios para a fauna silvestre do continente. Um dos símbolos da região são os ursos-pardos romenos (Ursus arctos), uma subespécie que pode atingir até, 2,2 metros de altura e pesar de 100 a 350 kg. 

As florestas da Romênia abrigam cerca de 60% da população total de ursos-pardos da Europa. A população de ursos romenos é estimada entre 4.350 e 6.000 animais, sendo encontrados principalmente em regiões de montanha com vegetação espessa. Os ursos são animais onívoros que dependem de florestas saudáveis e ricas em alimentos como ervas, cogumelos, frutas e animais selvagens para caça. 

A destruição sistemática e silenciosa de grandes áreas dessa importante região florestal é desastrosa em todos os sentidos. Além de ameaçar alguns dos últimos refúgios para a vida selvagem da Europa, a exploração ilegal de madeira no Cárpatos também dá a sua contribuição para uma das pautas preferidas dos ambientalistas – sobretudo europeus: a destruição das florestas e seus impactos no clima global. 

A Floresta Amazônica, que fica num outro continente do outro lado do Oceano Atlântico, é presença marcante nos discursos dos ambientalistas europeus. Entretanto, as florestas dos Montes Cárpatos, que ficam a pouco mais de 1.500 km dos principais centros políticos da Europa Ocidental, acabam ficando num segundo plano bem distante. 

O recente caso da IKEA e de seus móveis fabricados com madeira extraída ilegalmente dentro da Europa, é um exemplo claro de que muito do discurso ambiental é mais ideológico do que uma preocupação simples e sincera com a preservação da vida no nosso planeta. 

Deixe um comentário