A CRISE HÍDRICA NO CANAL DO PANAMÁ QUE ASSUSTOU O MUNDO 

Problemas ambientais raramente respeitam as fronteiras entre países. Cito como exemplo a grande seca e as queimadas que estão assolando a Região Amazônica e o Pantanal Mato-grossense, tema que tratamos em nossa última postagem

Esses dois importantes biomas se estendem por áreas de países vizinhos – o Pantanal ocupa áreas no Paraguai e em parte da Bolívia; no caso da Amazônia, a grande floresta ocupa territórios em outros oito países. As queimadas que acompanhamos aqui em terras tupiniquins também podem ser vistas além das fronteiras internacionais. 

Conforme comentamos anteriormente, essa grande seca está sendo provocado por um forte El Niño, um fenômeno climático de escala mundial. Entre outros problemas, a incidência do El Niño provoca secas intensas nas regiões Centro-oeste e Norte do Brasil, além de um aumento das chuvas na região Sul. 

O Canal do Panamá, uma das mais importantes vias de tráfego marítimo do mundo, que fica localizado numa região muito próxima da Floresta Amazônica, também acabou sendo fortemente afetado por essa seca. Essa crise hídrica, que teve início em meados de 2023 e se estendeu até o início desse mês de agosto, colocou parte considerável do tráfego marítimo mundial em cheque. 

Uma forma bastante didática de mensurar o tamanho dessa crise é analisar o número de embarcações que cruzou o Canal do Panamá no período – a média caiu de 38 para apenas 22 embarcações por dia. A partir do último dia 5 de agosto, a Autoridade do Canal do Panamá passou autorizar o tráfego de até 35 navios por dia. Os países mais afetados pela crise foram os Estados Unidos, a China e o Japão. 

Diferente do Canal de Suez no Egito, onde a via de navegação foi simplesmente escavada no solo para permitir a passagem dos navios entre os mares Vermelho e Mediterrâneo, no Panamá existe uma cadeia de montanhas no meio do caminho, o que exige o uso de uma série de comportas, mais conhecidas como eclusas, para elevar ou abaixar os navios durante o trajeto. 

Essas eclusas funcionam como elevadores e nada mais são do que grandes portas metálicas, que são fechadas logo após a entrada da embarcação numa câmara. Essas portas são fechadas e a câmara é enchida com água, o que faz com que a embarcação seja elevada. Quando o nível desejado é atingido, um segundo grupo de portas é aberto e a embarcação volta a navegar pelo canal. Para descer, a operação é simplesmente invertida. 

Cada vez que uma dessas comportas é usada para subir ou descer uma embarcação, entre 300 mil e 500 mil metros cúbicos de água doce são utilizados. Todo esse volume de água acaba correndo na direção do oceano assim que as portas são abertas. Sem chuvas na região, os estoques de água doce que alimentam todo esse sistema passaram a rarear cada vez mais e forçaram um racionamento. 

A construção do Canal do Panamá foi uma das maiores obras da engenharia do século XX e, literalmente, mudou os rumos do mundo. Com cerca de 80 km de extensão, o Canal do Panamá criou um “atalho” para a navegação entre o Oceano Pacífico e o Mar do Caribe/Oceano Atlântico, reduzindo as rotas de navegação entre muitos portos em dezenas de milhares de quilômetros. Clique nesse link para ler uma postagem que conta em detalhes essa história fascinante. 

Essa grande crise hídrica, que felizmente já passou, acendeu uma luz amarela nos “painéis de controle” dos operadores do Canal do Panamá – o modelo de funcionamento do empreendimento, criado ainda no final do século XIX, não é mais adequado para o século XXI. 

O descarte de grandes volumes de água doce a cada passagem de um grande navio precisará ser revisto urgentemente e mecanismos que permitam o reaproveitamento dessa água precisão ser criados e implementados o mais rápido possível.  

Os prejuízos econômicos para um mundo cada vez mais integrado economicamente, onde o comércio marítimo é cada vez mais importante, justificam os grandes investimentos que serão necessários para modernizar essa importantíssima via de navegação. 

E mais – nesses novos tempos de mudanças climáticas, onde os padrões das chuva e das secas estão ficando cada vez mais irregulares em todo o mundo, essas medidas para economia de água devem ser estendidas para todas as atividades humanas. 

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