SIBÉRIA 40 GRAUS, OU ERA UMA VEZ “SKAVURSKA” 

Quem é um pouco mais velho deve se lembrar de uma série comerciais de uma empresa de TV por assinatura onde o personagem principal era o fictício coronel russo Boris Tutchenko e sua impagável expressão skavurska. Esses comerciais foram veículados até 2008 e satirizavam o frio e o isolamento da Sibéria na Rússia. 

Nas peças publicitárias eram mostrados personagens russos tristes com roupas pesadas de inverno lutando contra nevascas dentro de suas próprias casas. Quando aparecia o coronel Tutchenko mostrando a programação disponibilizada pela TV a cabo, a vida dessas pessoas era totalmente transformada e surgia um “skavurska” de saudação. 

Bons tempos esses em que a Sibéria era sinônimo de lugar frio… 

Em uma postagem publicada aqui no blog no início de fevereiro de 2021, tratamos de um fato relativamente inédito – as temperaturas na cidade russa de Verkhoyansk, na Sibéria, atingiram a “inacreditável” marca de 38º C no verão local. 

Só para contextualizar – a Sibéria é uma vasta região da Rússia que se estende dos Montes Urais até a costa do Oceano Pacífico. Grande parte dessa região é coberta por tundra, vegetação típica do Ártico, além de florestas de coníferas e estepes. As temperaturas variam de –45º C (há registros de valores de até -67º C) no inverno até 15º C no verão. Daí a surpresa pela marca de uma temperatura próxima dos 40º C naquele verão. 

Desgraçadamente, altas temperaturas estão se tornando cada vez mais frequentes em toda a Sibéria e manchetes do tipo já nem chamam mais a atenção do público. Nas últimas semanas, a Rússia e, particularmente, a Sibéria vêm enfrentando uma fortíssima onda de calor e recordes de temperatura vem sendo batidos sucessivamente. 

No último dia 4 de julho, citando um exemplo, os termômetros da vila de Mamakan, no sudeste da Sibéria, registraram 38,7º C. Altas temperaturas como esta estão sendo registradas em cidades siberianas desde a costa do Oceano Pacífico até áreas dentro da faixa europeia da Rússia. Na mesma semana as temperaturas em Moscou, a capital do país, atingiram a marca de 32,7° C, as mais altas registradas desde 1917. 

De acordo com informações de órgãos de imprensa da Rússia, a forte onda de calor está provocando um grande aumento na venda de refrigerantes, bebidas geladas e sorvetes. Ventiladores e aparelhos de ar-condicionado estão “trabalhando” como nunca. 

A parte assustadora, se é que podemos usar essa palavra, é que o verão do Hemisfério Norte está apenas começando. A pergunta que não quer calar é: até onde essas temperaturas poderão chegar nos próximos meses? 

O aumento das temperaturas globais ou simplesmente o “aquecimento global” é uma realidade que já não pode mais ser negada. Pode até soar como brincadeira, mas, no Governo do Presidente George W. Bush, entre 2001 e 2008 (mesma época do comercial citado), especialistas foram convocados pelo governo norte-americano para negar que as temperaturas mundiais estivessem aumentando. 

Existem, é claro, dúvidas importantes sobre a origem do problema. Apesar de grande parte dos líderes globais e da imprensa jogarem toda a responsabilidade para as ações humanas na devastação do meio ambiente, fatores naturais e cíclicos podem também podem ter sua parcela de responsabilidade – o tamanho dessa responsabilidade ainda precisa ser mais bem estudado e compreendido. 

Ao longo de sua história de vários bilhões de anos, o nosso planeta passou por sucessivas mudanças climáticas, tanto a nível regional quanto global. A última dessas grandes mudanças foi um grande período glacial que durou entre 110 mil e 15 mil anos. 

Para que os leitores tenham uma pequena ideia do que essa “era do gelo” provocou em nosso planeta – o nível dos oceanos chegou a ficar 160 metros abaixo do nível atual e grande parte dos continentes ficou coberta por uma grossa camada de gelo, inclusive áreas aqui no Brasil. Não é difícil imaginar todas as mudanças que ocorreram no clima, na geografia, na fauna e na flora. 

Ainda existem inúmeras perguntas sem respostas sobre os caminhos que todas essas mudanças climáticas seguirão e onde nos levarão ao longo dos próximos anos. Dentro do que é possível especular, podemos imaginar que as praias da Sibéria se transformarão em um balado point de verão dentro de poucas décadas… 

Cidades praianas de regiões tropicais e subtropicais de todo o mundo que se cuidem com a concorrência!