
Com aproximadamente 8.500 km², o Lago Titicaca é o maior corpo d’agua da América do Sul, encravado na fronteira entre o Peru e a Bolívia. Na margem nordeste do Lago, em território boliviano, fica a Cordilheira Real onde se localizam algumas das montanhas mais altas dos Andes. O derretimento de glaciares ou geleiras no alto destas montanhas forma alguns dos rios que alimentam o Lago Titicaca; no lado peruano, são cerca de 20 rios tributários, com nascentes em 91 glaciares nos Andes do Peru.
Esse lago abriga a Ilha do Sol, considerada o berço da civilização Inca. Ali, acredita-se terem chegado Manco Capac e Mama Ocllo, os filhos do “Deus Sol”, em busca de um lugar apropriado para formar o povo Inca e difundir sua cultura. A partir do Lago Titicaca, os Incas se espalharam por um extenso território ao longo da Cordilheira dos Andes e criaram um dos mais poderosos impérios da América Pré-Colombiana, que subsistiu até a conquista final pelos espanhóis liderados por Francisco Pizarro.
O império controlado pelos Incas, o povo que formava a elite dominante do Peru, se estendia por 4.500 km, desde o Chile e Argentina ao Sul até a Colômbia ao Norte, governando mais de 15 milhões de pessoas de diferentes etnias e línguas. A capital do Império ficava na cidade de Cusco, que na língua quéchua significa “umbigo do mundo”. Tawantinsuyu era a palavra usada pelos Incas para descrever seus domínios – “império dos quatro cantos”; e de todos os cantos, o Lago Titicaca era o mais sagrado.
Além de sua importância mítica, o Lago Titicaca também se destaca por ser a mais importante fonte permanente de água de uma extensa área do altiplano, um extenso planalto frio e seco na Cordilheira dos Andes que se estende entre o Peru e a Bolívia, chegando até o Norte da Argentina e do Chile.
Somente para emplificar a importâncias das águas do Lago Titicaca para o abastecimento de cidades e para a agricultura, a cidade de Puno, que fica na margem peruana, tem cerca de 222 mil habitantes.
Desde o início das publicações do blog já falamos inúmeras vezes do futuro incerto do Lago Titicaca. Diversas geleiras de montanhas da Cordilheira dos Andes, principais formadoras dos rios que alimentam o lago, estão desaparecendo devido ao aquecimento global.
As preocupações sobre o futuro do lago aumentaram nos últimos dias após a divulgação de um relatório do Serviço Hidrográfico Nacional da Força Naval da Bolívia (apesar de não ter mais uma saída para o mar, que foi perdida na Guerra do Pacífico entre 1879 e 1883, a Bolívia manteve a sua marinha) – o Titicaca está com seu nível 2 cm abaixo do nível crítico.
De acordo com as projeções feitas pelos militares, o nível do Lago Titica deverá continuar caindo, podendo atingir uma redução de 64 cm até dezembro. Caso isso se confirme, essa será a maior redução do espelho d’água desde 1998, quando atingiu uma redução de 33 cm, o recorde atual.
Em toda a extensão dos Andes Tropicais, trecho da Cordilheira que vai da Bolívia ao Sul até Colômbia e Venezuela ao Norte, dezenas de geleiras Andinas desapareceram nos últimos anos. Só restaram 5 geleiras das 10 que existiam na Venezuela em 1952; na Colômbia, 8 geleiras desapareceram restando apenas 6; no Equador, as geleiras dos vulcões Antizana, Cotopaxi e Chimborazo perderam entre 42 e 60% de suas massas; as 722 geleiras existentes na Cordillera Blanca no Peru sofreram uma redução de 22,4% desde 1970 e na Bolívia, as geleiras de Charquini perderam entre 65 e 78% das suas áreas nas últimas décadas, entre outros derretimentos confirmados.
Sem as águas resultantes do derretimento de algumas dessas geleiras, o Lago Titicaca não consegue repor as perdas de água provocadas pela intensa radiação solar das altas montanhas. Sem a reposição dessas perdas, o Titicaca vai continuar secando lentamente.
Há poucos anos atrás o Lago Poopó, localizado ao Sul do Lago Titicaca e que tinha um espelho d’água que podia atingir 2.500 km², secou completamente justamente devido à falta da reposição das perdas de água para a evaporação. Uma das fontes formadoras desse lago era o rio Desaguadero, um canal de escoamento de águas excedentes do Lago Titicaca.
Caso não haja maiores mudanças no cenário climático global, o destino do Lago Titicaca não será muito diferente do Lago Poopó…
