O OVO NOSSO DE CADA DIA, OU EM BUSCA DOS “PILANTRAS” 

Água, Vida & Cia é um blog que trata de assuntos ligados aos inúmeros problemas socioambientais que cercam a vida moderna, com destaque bastante especial aos recursos hídricos e ao saneamento básico. 

Assuntos de ordem econômica – falo aqui do grande aumento nos preços dos ovos aqui no Brasil, fogem bastante da nossa área de especialização. Porém, existem uma série de questões de ordem ambiental cercando o tema, o que nos permite dar alguns “pitacos” numa questão tão relevante nas últimas semanas. 

Em termos biológicos, falando de uma forma muito simplificada, ovo é o zigoto dos animais, ou seja, uma célula que se forma após a fusão do núcleo do óvulo, feminino, com o núcleo do espermatozoide masculino. Animais ovíparos como aves, peixes e répteis, entre muitos outros, se valem dos ovos para a sua reprodução. 

Falando em termos nutricionais, o ovo é uma importante e “barata” proteína de origem animal, sendo um alimento saudável, completo e de fácil digestão. O equivalente a 100 gramas de ovo contém cerca de 160 calorias, além de aminoácidos equilibrados, vitaminas e alguns sais minerais. Os ovos de galinhas são os mais consumidos no mundo. 

De acordo com dados de 2024 do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a produção diária de ovos no Brasil é da ordem de 150 milhões de unidades. Os Estados de São Paulo, Paraná e Minas Gerais figuram como os maiores produtores do país. 

Os ovos são produzidos pelas chamadas galinhas poedeiras. Como todo animal domesticado, essas galinhas dependem de cuidados especiais dos seus tratadores para viver e produzir. Esses cuidados incluem espaços adequados como galinheiros, fornecimento de água fresca, alimentação balanceada e limpeza. 

Comecemos falando do consumo de água para a produção dos ovos. Para manter uma criação com 10.000 galinhas poedeiras de ovos para consumo, são gastos aproximadamente 5.000 litros de água por dia, ou seja, 0,5 litro de água por ave. 

Esse consumo considera a água de dessedentação, limpeza e higienização das instalações, lavagem dos ovos e higienização dos equipamentos, além dos gastos nas instalações do armazém de processamento de ovos. As aves consomem pequenas quantidades de água, porém com muita frequência, principalmente para regular a temperatura do corpo. Uma falha nesse fornecimento de água pode resultar na morte de muitas dessas galinhas.

Outra importante fonte de consumo de água está ligada à produção das rações – especialmente do milho. Alguns economistas afirmam que 70% do custo de produção de uma galinha e, diretamente dos ovos, está no preço do milho.  

Cada quilograma de milho produzido pode consumir até 900 litros de água. Aqui abro um parêntese especial para os sistemas de irrigação pouco eficientes usados pela maioria dos produtores, onde grandes volumes de água acabam sendo desperdiçados, especialmente pela evaporação do excedente. 

A água, como todos devem saber, é um insumo essencial para a produção agropecuária que nem sempre está disponível nas quantidades adequadas ao longo do tempo. Tanto a falta de água em períodos de seca quanto o excesso em épocas extremamente chuvosas podem afetar a produção do milho e, consequentemente, elevar o preço final do produto. 

Também é importante citar que o milho é uma comoditie com formação de preço determinada pelo mercado mundial. Um problema climático em uma região de grande produtividade poderá reduzir ou quebrar a produção local e levar a um aumento no preço do produto nos mercados. Uma nevasca fora de época no chamado Corn Belt – o cinturão do Milho dos Estados Unidos, poderá elevar os custos de um pequeno produtor de ovos no sertão de Minas Gerais. 

Feitas as devidas contas ao longo de toda a cadeia de produção – desde o milho no campo até a galinha na granja (o que considera o total de ovos que a ave produzirá ao longo da vida) e o ovo na prateleira do supermercado, chegamos ao surpreendente consumo de 200 litros de água para cada ovo produzido

Epidemias e doenças que afetam as galinhas também tem um enorme potencial para aumentar os preços dos ovos. Cito aqui uma grande epidemia de gripe aviária provocada pelo vírus H5N1 que devastou a produção norte-americana de ovos em 2024. Mais de 150 milhões de aves foram afetadas e tiveram de ser sacrificadas pelos avicultores, o que resultou num aumento explosivos dos preços dos ovos no país. 

Além desses fatores ambientais, climáticos e epidemiológicos, também entram na conta aumentos de custos nos combustíveis, na energia elétrica, na mão de obra, entre muitos outros. Como fica bem fácil de se entender, o aumento no preço dos ovos não foi causado por um ou outro “pilantra”, mas sim por todo um somatório de diferentes fatores e causas. 

A conta, é claro, todos nós estamos pagando… 

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